22 setembro, 2007

NÃO VOS ACOSTUMEIS COM ESTE SÉCULO (Rm 12:2)


*Por Ronan Boechat de Amorim
“A capacidade do ser humano de se acostumar”. Essa foi a resposta de Sebastião Salgado, o mundialmente reconhecido fotógrafo brasileiro que de 1993 a 1999 encontrou e fotografou milhões de refugiados de guerras e de catástrofes naturais em todos os cantos do planeta. A pergunta era o que ele tinha visto de pior no meio daquelas tragédias? As fotografias estão nos seus livros Êxodos e Retratos de Crianças do Êxodo lançados em 2000.

Eu me lembrei então da época em que um conhecido de nome Juscelino começou a trabalhar como assistente de autópsias do IML (Instituto Médico Legal). No 1º mês de trabalho junto aos cadáveres, que eram transportados, abertos, estudados e engavetados, ele não conseguia comer, pois se sentia tão enjoado que nada lhe parava no estômago. Mas seis meses depois ele já havia se acostumado ao trabalho e com uma mão ele lidava com um cadáver e com a outra comia.

A escritora Marina ColassantiA diz: “A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer (...) A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.”

A gente se acostuma até a se acostumar. A gente se acostuma por falta de esperança, pra não sofrer, por medo, por comodismo ou simplesmente pela convivência, absorção e repetição das coisas e situações. A gente se costuma a não pensar nas coisas e nos sentidos que elas têm ou em como elas deveriam ser. A gente se acostuma a passar pela vida como que adormecidos e autômatos; sem viver. A não ter qualidade de vida. A viver sem amor e sem bons amigos. A gente se acostuma com a violência, com a intolerância, com a incoerência. A viver uma vida a dois e familiar sem companheirismo, carinho, cumplicidade e sonhos. Sem o amor que nos liberta da mediocridade, da indiferença, do cansaço existencial, da mera sobrevivência!

A gente se acostuma a ser Igreja, com o culto... e logo o encontro vira simples rotina. A gente se acostuma com o pecado e se amolda às estruturas desse séAculo sem Graça. Acostuma-se com a mentira, a falta de ética, o abuso... e tudo isso passa a ser normal e natural. “Todo mundo faz, afinal!” A gente se acostuma a se acostumar e deixar-se guiar acriticamente pelos valores reinantes do meio onde vivemos. Sejam eles bons ou não.

Não vivamos conformados às estruturas deste mundo injusto. Deixemos que Deus nos dê discernimento, coragem, criatividade e solidariedade (Rm 12:2).

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*Por Ronan Boechat de Amorim é Pastor da Igreja Metodista em Vila Isabel - RJ