08 abril, 2007

Páscoa Crsitã: a manifestação da fidelidade de Deus em meio à traição e infidelidades humanas

Por Ronan Boechat de Amorim*

Com toda certeza a Páscoa Cristã é tempo de alegria, louvor, festa, gratidão e vitória, pois Jesus venceu a morte e ressuscitou, oferecendo-nos gene-rosamente perdão pela sua morte na cruz, perdão para todos os nossos pecados e salvação para uma vida abundante e eterna.

Mas se a Páscoa Cristã, por um lado, fala do amor, da generosidade, do per-dão e da fidelidade de Deus, por outro lado denuncia a infidelidade humana a Deus, ao Evangelho, ao Reino de Deus, à Aliança estabelecida em Jesus.

Apenas alguns dias após ser aclamado e reverenciado durante a sua entrada triunfal na cidade de Jerusalém (Mt 21:1-7), Jesus experimenta rejeição, traição, abandono e uma tremenda solidão. Se a multidão num momento aplaude e louva, no outro, troca Jesus e seu Evangelho de Paz por Barrabás e sua luta armada contra o império Romano. E além do desprezo notório, a multidão quer espetáculo, e como num show de horrores, pede a crucificação de Jesus.

Algumas das infelidelidades e traições humanas:

+ Jesus foi perseguido cruelmente pelos religiosos supostamente em nome do Deus que se encarnou e veio em Jesus para nos salvar, matando assim o Filho de Deus em nome do próprio Deus.

+ Jesus foi traído por Judas Iscariotes, um de seus 12 discípulos, por 30 moedas de prata (Mt 26:14-16).

+ Pedro, um dos discípulos mais chegados a Jesus o trai, negando-o por 3 vezes seguidas (Mt 26:69-75).

+ Marcos ou João Marcos, que mais tarde será discípulo de Paulo e Barnabé e que escreverá a primeira versão do Evangelho, foge nu, deixando para trás as próprias roupas (Mc 14:51-52).

+ Praticamente todos os discípulos e discípulas de Jesus, desesperançados, abandonam o seguimento de Jesus, retornando para a “velha vida” de antes de conhecerem a Jesus. É o caso, por exemplo, dos discípulos que fogem de Jerusalém para retomar a velha vida em Emaús (Lc 24:13-35).

+ Os que não fogem, ficam de longe, escondidos no meio da multidão, tal como as mulheres mencionadas em Mt 27:55.

+ Outros continuam em Jerusalém, amedrontados e escondidos numa casa com as portas bem trancadas (Jo 20:19 e 26).

Pode parecer bobagem, mas faço questão de explicitar que a infidelidade e traição a Deus é natural e obrigatoriamente também infidelidade e traição ao Reino de Deus, ou seja, à justiça, à ética, à solidariedade, à paz, à tolerância, ao projeto igualitário, à humanização das relações pessoais, etc...

A traição e infidelidade a Deus é traição ao projeto de sermos realmente e na prática pessoas humanas. Quanto mais distante e rompido com Deus, seu Evangelho e seu Reino, mais desumanos nos tornamos. É a presença e o amor de Deus que nos humanizam, nos convertendo às relações humanas e humanizadas, nos capacitando para o amor ao próximo, à promoção e construção da paz e da solidariedade, à prática da justiça e da tolerância...

O ser humano distante ou sem Deus é um ser profundamente desumano. Por mais religioso e supostamente cristão que possa parecer. Felizmente a Igreja e Deus são diferentes. Graças a Deus que não sãoa mesma coisa e nem se confundem. Pois há gente que está na Igreja há 5, 10, 20, 50 anos e que ainda não conheceu o amor, a graça salvadora e a intimidade do Senhor. Há gente que está na igreja, ocupa cargos importantes e de liderança, às vezes são religiosos(as), padres e pastores(as), Bispos(as), etc, e que não conhece o amor e da graça salvadora e a intimidade do Senhor. Tão religiosos e nada espirituais. Supostamente tão pertos de Deus, nas na prática distantes infinitamente. Supostamente discípulos, seguidores, fiéis... mas na prática indiferentes, traidores, infiéis.

O próprio Senhor Jesus disse que se conhece a árvore pelos seus frutos. Mesmo uma árvore centenária plantada nos átrios do Senhor... que de onde está pode ouvir os louvores e a proclamação da Palavra Sagrada... e isso não quer dizer absolutamente nada em termos de espiritualidade. Pois como diz o apóstolo Paulo, só quem ama cumpre toda a Lei (mandamentos, vontade) de Deus.

Páscoa Cristã: a manifestação da fidelidade de Deus em meio à infidelidade e traição humanas.

Páscoa Cristã... tempo de reafirmar nosso amor para com Deus, nosso compromisso para com o Evangelho, nossos serviços em prol do Reino de justiça e paz, nossa vida em prol de um mundo segundo o coração de Deus (tão claramente anunciado, publicado e explicitado em Jesus).

Celebremos com gratidão e alegria a ressurreição de Jesus, sem a qual nossa fé seria vã. E oremos para não cairmos na indiferença, em tentação e na infidelidade, na alienação em relação ao Reino de Deus.

Feliz Páscoa. Que o Ressuscitado esteja em seu coração, iluminando sua vida, seus relacionamentos, seus caminhos e seu jeito de caminhar

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Ronan Boechat de Amorim é pastor da igreja metodista em Vila Isabel - http://www.metodistavilaisabel.org.br/