Por uma igreja que faça seu próprio caminho à luz do Evangelho e da Tradição viva do Metodismo
* Por Ronan Boechat de Amorim
Nossa Igreja Metodista de Vila Isabel completa no próximo dia 15 de junho seus 105 anos como igreja local organizada. É uma data significativa onde podemos aprender muito em termos de resistência, perseverança, trabalho, ação missionária. Realmente olhando para trás, para esses 105 anos de igreja organizada, e mais aqueles anos em que a nossa comunidade existiu como congregação e ponto missionário, e temos muito para aprender.
Ricardo Stopatto e eu estamos fazendo a digitalização dos nossos livros de rol de membros. Nosso desejo era termos hoje um quadro de informações sobre os membros de nossa igreja nesses 105 anos de história: quantos foram recebidos e o modo pelo qual foram recebidos; quantos tiveram seus nomes cancelados do rol de membros e o modo pelo qual esses cancelamentos aconteceram; quantos desse total geral (e não apenas do rol atual!) eram do sexo masculino e quantos eram do sexo feminino; etc...
Mas um problema no computador do Gabinete Pastoral acontecido na semana passada nos atrapalhou. O computador onde o programa especialmente feito pelo Ricardo para a digitalização do rol histórico da igreja e onde estão lançadas as informações pertinentes.
Depois de 105 anos de trabalho, cultos, celebração da Ceia, Escola Dominical, Concílios Locais, Planos de Ação, trabalhos missionários, etc... chegamos aqui, estamos aqui, somos quem somos, seja pela ambigüidade de nossos pecados, seja pela maravilhosa graça e bondade infinita de nosso Deus.
Nos aproximadamente 39.690 dias desses 105 anos muitos cultos de adoração e ação de graças foram celebrados, muitas orações e intercessões foram elevadas ao Senhor, muitas bênçãos foram derramadas. No altar de nossa Igreja muitas pessoas renderam-se a Jesus, aceitando-o como Senhor e Salvador de suas vidas. Muitos de nós, dos atuais membros de nossa Igreja hoje, aceitamos a Jesus pela proclamação do Evangelho do púlpito aqui em Vila Isabel. Quantas pessoas, porque em algum momento tiveram um encontro com nossa Igreja, acabaram por ter um encontro com o Salvador Jesus e já partiram, e acentuadamente por causa desses encontros, foram para o gozo do seu Senhor, após ouvirem dele: “Vinde benditos de meu, Pai!”.
Nos aproximadamente 5.670 semanas desses 105 anos foram aproximadamente 5.670 manhãs abençoadas e edificantes manhãs de Escola Dominical. Quantas pessoas em nossa Escola Dominical deram os seus primeiros passos na fé cristã evangélica protestante metodista! Quantas crianças foram ensinadas sobre o amor de Deus e a Palavra de Deus! Quantas pessoas foram orientadas, edificadas e discipuladas sobre a vida cristã e o Reino de Deus!
Mas por outro lado, quantas pessoas também tiveram a fé abalada e permitimos que ficassem pelo caminho, sem ser amparadas, apoiadas... como falhamos na nossa tarefa de ser Igreja. Não sei se algum dia teremos condições de confirmar (olhando nos livros antigos e recentes de nossa igreja!) uma coisa que eu desconfio e vejo: que nossa igreja sempre se manteve, se sustentou e avançou unicamente porque sempre pode contar com um pequeno grupo de cristãos ativos, dedicados e que sentiam a alegria e a responsabilidade de servir a Deus e à sua Igreja, tanto nos tempos bons, quanto nos dias difíceis.
Chovesse ou fizesse sol, houvesse um pastor que amassem profundamente ou um pastor com o qual não se sentiam inteiramente satisfeitos, eles oravam, trabalhavam, sustentavam a igreja e suas programações. Ao longo dos nossos 105 anos sempre houve em Vila Isabel um “resto de Israel”, aqueles cujos joelhos não se curvaram diante dos modernos Baal, cujos lábios nunca deixaram de interceder e cujas mãos jamais se cruzaram. Mesmo quando tudo parecia complicado, essas pessoas, mesmo sem ocupar cargos ou posições de liderança, estavam sempre presentes, orando, visitando, ensinando, testemunhando e contribuindo com seus dízimos para o sustento da Igreja e o avanço missionário da obra de Deus. Se todos tivéssemos sido fiéis certamente hoje nossa Igreja fosse uma igreja bem melhor do que é! Com mais frentes missionárias. Com mais grupos de discipulados. Com maior vitalidade. Com mais senso e característica de comunidade e identidade cristã protestante metodista brasileira.
Celebramos nesse mês os 105 anos de nossa Igreja. Ainda dá tempo da gente se colocar nas mãos de Deus e servi-lo, com oração, reflexão, trabalho nos ministérios e grupos de discipulado, evangelização e testemunho... de modo que nossa Igreja possa ser uma comunidade original, que possa ser e ser reconhecida pelas demais igrejas e pastores(as) metodistas uma igreja que caminha na graça e poder de Deus, missionária a não poder mais, que caminha à frente de seu tempo.
Ás vezes não concordamos com algumas experiências de avivamentos, pentecostalismo e neo-pentecostalismo que vemos ao nosso redor... e nossa reação é simplesmente cruzar os braços e não aceitar nem fazer nada, como se uma atitude reacionária fosse mágica ou naturalmente mudar toda essa situação.
Há alguns anos, quando ainda não era pastor de Vila Isabel, li um texto de nosso irmão João Wesley, chamando Vila Isabel para criar aqui com nosso trabalho e orações um novo modelo de Igreja. Ainda há tempo... e tudo podemos fazer no nome daquele que nos fortalece.
Como diz o hino Metodismo Centenário, “o trabalho já feito não basta, Deus conclama o seu povo à ação”. Podemos ser no Metodismo Brasileiro, e isso sem qualquer tipo de orgulho ou arrogância, um exemplo de igreja viva e missionária, sem abrir mão dos valores e conteúdos de nossa fé e de nossa tradição metodista.
Há 12 anos estou trabalhando nessa visão. Posso não fazer o que quero e posso não acertar no que faço. Mas há 12 anos tenho conversado, discutido, interagido com essa visão de uma igreja metodista que busca um caminho próprio e original... uma igreja original e conexional, uma igreja missionária e ecumênica, uma igreja local e com visão mundial, uma igreja que come e respira o Evangelho e que se incultura na cultura para se fazer brasileira, uma igreja que faz parte e tem uma tradição vinda daquela estranha estirpe de audazes e ao mesmo tempo consegue comunicar sua mensagem ao homem moderno, uma igreja que caminha de joelhos em oração e uma igreja com forte ação social, comprometida (como diz uma outra canção) em “não só a alma do mal salvar, também o corpo ressuscitar”.
Dia 16 de junho, será o primeiro dia de nossos 106 anos. Podemos fazer diferença? Com certeza! Temos visto que ao longo da história, uma única pessoa pode fazer a diferença. Podemos fazer diferente? Eu sinceramente acredito que sim. Basta começarmos... Ações diferentes geram resultados diferentes. Temos de ter clareza dos resultados que queremos e das ações necessárias para que isso aconteça. Como temos visto, o ser humano é capaz de transformar o ambiente, de interferir negativa ou positivamente no meio ambiente, na história, no futuro.
Feliz 105 anos! E um 106 mais feliz ainda!
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* Ronan Boechat de Amorim é Pastor Titular da Igreja Metodista Vila Isabel - Rio de Janeiro
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