27 outubro, 2006

Ao vencedor, as batatas

Por: Nilson da Silva Jr.

A emoção humana é algo problemático. As pessoas encontram questionamentos nos mais diversos contextos da vida e isto pode ser doce ou amargo conforme as interpretações que se fazem.

Existe um ângulo particular que constrói dentro de cada um/a reações bastante diversas. O que é muito bom e agradável para um/a pode ser escândalo grave para o/a outro/a. A cultura, a condição social, as experiências emocionais – traumas, frustrações, certezas, alegrias, acertos e erros – são impressões únicas, peculiares, resultando diversidade de análise e de conclusão nos mais diversos fatos do dia-a-dia.

Imagino que este seja um dos fatores fundantes das discussões, das diferenças, das guerrilhas travadas nos vários lugares do cotidiano.

Estas batalhas são limitadores da paz e da tranqüilidade, causando inimizade e transtorno... quantos/as vivem sem cruzar olhares por conta de pequenos conflitos. Quantos chegam ao distanciamento, mesmo à separação por haver idéias, posições diversas.

E não podemos culpar quem quer que seja... o que tem valor aqui, pode não ter ali... o que é importante lá, pode não ter relevância alguma, acolá! Os gostos, as preferências, os desejos e sonhos são múltiplos, como é múltipla a vida! Ninguém pode ser julgado por sua particularidade... um fala “sô”, outro “uai”, outro “tchê”... e “assim caminha a humanidade”!

Importâncias e futilidades são frutos dessa massa histórica e cultural que cada pessoa traz dentro de si... e isto precisa ser respeitado para haver paz! Caso contrário haverá guerras por questões tolas e desprezíveis!

Como dizia Agostinho, “no essencial, unidade, no não essencial, liberdade...!”. Existem medidas diversas sobre questões sinônimas, contudo, há aquelas que têm um grau de relevância indiscutível... acima de padrões e conceitos, enquanto outras são, reconhecidamente insignificantes!

Não podemos sair em peleja por fatores medíocres, que não acrescentam, que não causam diferença... só por capricho, ou gosto pessoal!

Precisamos refletir sobre as mensagens subliminares desta citação do personagem Quincas Borba, da obra de Brás Cubas, de Machado de Assis: “Ao vencedor, as batatas” e perceber que em determinados momentos nos digladiamos por um mísero punhado de batatas! Existem assuntos que só fazem magoar, que nem deveriam ser tocados, discutidos, porque são nada mais do que um modesto grupo de batatas, sem importância, sem peso, sem valor!

Existem momentos que presenciamos discussões tão acirradas como se estivesse em jogo a vida de alguém, mas quando vamos perceber melhor, somos informados que há quem esteja disposto a morrer por nada!

É preciso pensar sobre as motivações das pelejas que travamos em nossas vidas... se elas compensam... se são mesmo necessárias... se o que se tem a ganhar é algo que represente mais do que a amizade, o respeito de quem será inquirido! Não podemos arriscar sentimentos nobres como honra, consideração, por coisa pequena!

Também é necessário aferir nossos valores. Dar importância àquilo que tem importância e pouco valor àquilo que não representa nada.

Em quantas situações travamos batalhas vultosas e quando somos dados por vencedores, recebemos como prêmio somente um pequeno punhado de batatas? Então nos perguntamos: é esse meu prêmio? Foi por isso que eu fiz questão? Que me indispus?

Pode parecer estranho, mas existem muitas “batatas” que nos atrapalham a vida: ambição, orgulho, última palavra... batatas que só fazem pesar nossa comunicação, nossa lucidez, nosso discernimento... complicando gravemente qualquer tipo de convívio.

E não é incomum vermos gente com batatas estragadas na mão... desfilando com elas... como se fossem troféus... sinalizando sua pouca flexibilidade, sua incapacidade de ceder, de tolerar, de ser amistoso e longânimo!

Vivemos num mundo que se destrói pouco a pouco... fruto daqueles/as que se orgulham pelas poucas batatas conquistadas... um tempo pobre, medíocre, longe da grandeza... bastante aquém da nobreza. Somos testemunhas de um período em que batata vale mais que vida, que amizade, que respeito.

Sinceramente, espero que possamos, como povo, superar nossa pequenez... que cresçamos, que evoluamos. Talvez seja propício recordar as palavras de Isaías : “Levantai os olhos para os céus e olhai...” (Is 51:6) e não somente na questão física, mas, sobretudo, que isto atinja nossa visibilidade emocional, espiritual, ética, moral... que prestemos atenção naquilo que é maior... que nossa vida seja gasta em assuntos relevantes e que rompamos com as mesquinharias que nos amarram aos porões da alma, da vida e da fé!

E que sejamos felizes!

Na graça e na paz,

Rev. Nilson da Silva Jr.