Igreja que não acolhe e cuida, não é Igreja
Por Maria Newnum
Um jovem que vi crescer e que para mim é ainda um menino, está em coma induzido faz dias na UTI. Ele é filho do pastor que me apresentou a Igreja Metodista. Por conta disso tenho me lembrado muito desse querido pastor. Penso como estaria, vendo o filho em luta comovente pela vida. Embora o pai fosse um daqueles crentes apaixonados, ele, suas duas irmãs e a mãe, deixaram a igreja anos após a morte do pai. De alguma forma, não se sentiram cuidados e protegidos pela família da fé.
Lembro-me dele moleque, cantando e recitando textos bíblicos. O pai, uma pessoa adorável e muito sensível, chorava ao assistir o filho. Se não me falha a memória, o menino foi meu aluno na escola dominical. Era bonzinho, bem comportado, mas muito distraído. Tinha sempre um jeitinho traquina de quem estava mais para correr livre num campo de futebol, que ficar preso numa salinha fechada num domingo de manhã. Por que as igrejas fazem isso com as crianças?
O menino cresceu, foi correr com sua moto e distraído, como sempre, chegou nesse ponto de sua história. Torço para ele acordar. Quero sentar com ele e relembrar os tempos em que seu pai, eu e a igreja o protegiam das quedas bobas no corre-corre com a molecada da igreja. Vou pedir perdão por tê-lo abandonado, por não ter continuado a cuidar dele depois que cresceu; por achar que já não precisava de mim. Falhei com ele como pessoa e como igreja. Deveria ter dado um jeito de superar as distâncias, inclusive geográficas, que nos separaram. Deixei de ser Igreja. Igreja são pessoas. Templos, cargos, doutrinas, e rituais são formalidades necessárias, mas tantas vezes, maléficas; visto que desumanizam as relações, ferem e afastam as pessoas.
O Bispo Metodista, Josué Adam Lazier em carta que avalia o papel do episcopado diz: “O episcopado é um encargo de serviço. [...] o bispo não é alguém que tem poder sobre a Igreja. [...] A Igreja precisa fortalecer o carisma do episcopado. Hoje ele está fragilizado. Não se trata de fortalecer o carisma da pessoa que exerce a função de bispo ou bispa, mas sim o carisma da função ... [...] não pode ficar refém de grupos ou de segmentos, tampouco refém de pessoas que evidenciam um ministério autoritário, personalista, centralizador e de patrulhamento. [...] exige da pessoa muita renúncia, tolerância, compreensão, amor, humildade, transparência, integridade, obediência, fidelidade e dedicação. O “poder” do episcopado está na vivência destes aspectos da vida cristã e ministerial e não confere necessariamente autoridade ao bispo, pois ela é adquirida pelo exercício do amor, do serviço, da doação aos outros [...]”.
A fala desse bispo denuncia o estado de coma da Igreja Metodista em vários âmbitos; e talvez de outras, especialmente naquilo que deveria ser o alicerce das instituições que lidam com o sagrado: A ética, o desprendimento, a humildade e amor. Por outro lado demonstra o que pode ocorrer nas lideranças religiosas que se nutrem da força do "poder" dos cargos não para exercer o cuidado com as pessoas, mas para se colocar em pedestais de arrogância. A velha forma do "você sabe com quem está falando?" sempre ecoou forte em diversas áreas da sociedade, mas deveria ser silenciada nos espaços que almejam deter e proclamar valores celestiais. Se a Igreja não acolhe, não cuida e não ama incondicionalmente, como Jesus o fez, pode incorrer no erro que continuar acreditando ser, algo, que de fato não é.
Que Deus acorde o menino do coma, que Deus acorde a Igreja, que acorde a mim, que sou e que devo ser “Igreja”.
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Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e Coordenadora da Spiritual care Consultoria.
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