01 outubro, 2006

Disputar o poder não é golpismo

Por: Eliézer Rizzo

Acabo de ler o artigo do professor Emir Sader neste espaço. Gostaria de sugerir uma reflexão distinta, que tem como referência o campo democrático e institucional sem desconsiderar (a) que os interesses em jogo não se expressam exclusivamente na camisa de força esquerda versus direita; (b) que há forças democráticas (com orientações diferentes, inclusive de direita e de esquerda) nas candidaturas de Lula, Alckmin, Heloísa Helena e Cristovam Buarque.

Lula é responsável pelo êxito de algumas políticas sociais. Grande mérito, sem dúvida. Mas é responsável também pela agressão ao Estado de Direito que se traduz nos procedimentos de compras de votos (mensalão). Chega a quase duas dezenas o número de ministros e auxiliares diretos do seu governo e do seu partido que se afastaram (ou foram afastados) por corrupção. E o esquema montado contra Serra com meia dúzia de pesos pesados do governo, do PT e da campanha de Mercadante?

Não existe boa corrupção nem corrupção moralmente justificável. Não é porque parte significativa dos movimento sociais organizados e da Igreja Católica, em particular, associaram-se na construção do PT que a corrupção praticada por este partido e pelo governo de Lula deixa de constituir crime contra a democracia.

Lula é talentosíssimo orador e mistificador, ao mesmo tempo. De um lado, ele fala sempre o que seu público pretende ouvir, sabendo ganhar o afeto do ouvinte. De outro lado, as forças políticas do PT colocaram em Lula os valores e as virtudes que gostariam que ele portasse. Mistificador também para safar-se de sua responsabilidade (no sentido constitucional). De fato, é presidente que nada conhece e nada sabe do que ocorre entre seus mais próximos, um chefe de Estado que se vê traído pelos seus. Como explicar o silêncio de forças tão respeitáveis - como católicos e evangélicos do PT - diante de tais problemas?

Alckmin governou São Paulo com sobriedade, e com problemas também. Desenvolveu políticas sociais que não são reconhecidas como tais por forças petistas, porque não lhes interessa. Tal tem sido o tom desta mistificação que apontei em Lula. Na década de 1990, o então prefeito de Campinas, José Roberto Magalhães Teixeira (PSDB) criou o Programa de Renda Mínima, que teve a arraigada oposição do PT, o silêncio da cúpula da Igreja e a virulenta crítica das lideranças católicas. O senador Eduardo Suplicy teve a grandeza de apoiá-lo e de participar de entrevista à TV Cultura (São Paulo) com o prefeito campineiro. No entanto, este programa é um marco das políticas sociais no Brasil.

Sou membro do PSDB desde sua fundação. Identifico-me com a vertente social-democrata de que há exemplos excelentes em países europeus e em governos locais no Brasil. Por mais que Lula tenha pretendido diabolizar o governo FHC - como faz agora com Alckmin, Cristovam e Heloísa Helena - nada parecido com o que vivemos hoje ocorreu no governo anterior, muito menos a corrupção no centro do poder de Estado e a grave crise moral do pais no plano político.

Por estas razões, é falso o chapéu do golpismo que Emir Sader pretende colocar na cabeça de todos que apóiam Alckmin. Se há conservadores, há também liberais, social-democratas, etc. O mesmo com relação à candidatura Lula. Mas somente com este - Lula - está hoje a estrutura anti-democrática da corrupta ocupação sindical da máquina do Estado.

Derrotar Lula não é propósito golpista. É uma dimensão democrática, como foi sua vitória quatro anos atrás e a de FHC nas duas eleições em que derrotou Lula. Afinal, o revezamento de forças políticas no poder é um dos pilares do sistema democrático.

Um abraço

Eliézer Rizzo