27 setembro, 2006

Agora moro em mim!

Por: Roy de Oliveira Duarte

Dois meses já se passaram da fatídica primeira sessão do décimo oitavo Concílio Geral da Igreja Metodista e a infeliz decisão de sair dos organismos ecumênicos com a presença da Igreja Católica. Ao longo destes dois meses, acompanhei de perto vários fóruns de discussão sobre o tema, em encontros, e-mails, sites, enfim...Ouvi várias propostas as mais diversas, desde a impugnação da decisão até processo civil. Muito se pensou sobre alternativas, manifestações, medidas, para quem sabe mudar o quadro de intolerância que se instaurou na vida da Igreja. Mas preciso confessar: depois de tanto discutir, eu estou cansado.

Já faz cinco anos da minha primeira experiência ecumênica. Uma celebração com irmãos e irmãs católicos e metodistas num bairro carente de São Paulo foi o primeiro passo de minha caminhada ecumênica. De lá pra cá já participei de muitos outros encontros. Os inesquecíveis Encontros Ecumênicos Regional Sul I em Itaici, promovido pelo MOFIC e Casa da Reconciliação; os Encontros Ecumênicos de Mulheres, promovido pela Nova Década, Encontros do CONIC, CLAI, Jornada Ecumênica e muitos outros. Tive o privilégio de ter uma de minhas músicas cantadas na 9ª Assembléia do CMI (aliás, uma canção muito sugestiva para os nossos dias: um Kyrie Eleison).

Depois da decisão conciliar, não dá pra dizer que não mudou. As vezes, senti alguns amig@s indo a estes encontros mais como uma afronta à decisão do que propriamente a vontade e o anseio pela unidade em Cristo; talvez esses sentimento também tenha me motivado em algumas ocasiões. Parece que vimos o muro se erguendo e ficamos atônitos diante da barreira que então nos separa. Digo isso, não porque acho que o fato de não participarmos oficialmente de órgãos ecumênicos vai nos impedir de viver o ecumenismo, mas muitas pessoas saíram machucadas e profundamente tristes diante desta decisão, Os laços que iam se formando precisam ser refeitos, pois se romperam diante da intolerância. Alguns nos vieram com palavras de consolo e outros vieram com palavras de desalento, como se eu e mais muit@s outr@s engajad@s na causa ecumênica não fôssemos mais benvind@s na Igreja Metodista, que deixou de ser a nossa oykos.

Aí me lembrei de uma história que me contaram sobre o Mário Quintana. Quintana morava em hotéis. Morava durante anos até que o hotel fechava ou alguém o convidava a se retirar. Um desses hotéis, o qual ele supunha ser sua moradia final, teve que, por algum motivo, se fechar e ele foi convidado a ir embora. Diante disso Quintana disse: "Agora moro em mim mesmo!".

A igreja não é mais a minha oykos. Sinto-me desabrigado, desacolhido. Não vou desistir da Igreja Metodista, mas antes acreditava que eclésia e oykos eram sinônimos. Mudei de conceito. A igreja não é mais a casa onde se podia acolher todo@s. As vezes, chegava um estrangeiro, viajante, que já tinha a sua casa em um lugar distante e então ele pedia abrigo na casa dos outros. Quando era acolhido, o outro se tornava irmão. O estrangeiro era convidado a entrar e a comer do mesmo pão e aí até aquecia o coração; dá vontade de ficar, mas tem que partir. Ai que vontade de ficar, mas tendo de ir embora... A igreja decidiu não ser mais oykos.

Diante da falta de uma casa onde tod@s podem com-viver e partilhar o pão junt@s, digo como Quintana: "Agora moro em mim mesmo".

(Um desabafo, um choro incontido agora compartilhado com @s irm@s que lêem este blog)

Roy de Oliveira Duarte
Acadêmico da Faculdade de Teologia – 6º semestre.

Serenata do adeus
(Letra e música de Vinícius de Moraes)
Ai, a lua que no céu surgiu
Não é a mesma que te viu
Nascer dos braços meus...
cai a noite sobre o nosso amor
E agora só restou do amor
Uma palavra: adeus...
Ai, vontade de ficar
Mas tendo de ir embora...
Ai, que amor é se ir morrendo
Pela vida afora
É refletir na lágrima
O momento breve
De uma estrela pura
cuja luz morreu...