26 setembro, 2006

É preciso resgatar o “sagrado” do poder político público

Por: Maria Newnum

É compreensível que haja mais gente para criticar que ajudar numa administração pública. Além disso, nós humanos, comumente vemos a crítica como oportunidade para ferrar o outro. Há quem seja contra essa postura. A crítica e até denúncias podem e deveriam ser feitas pedagogicamente, sem ataques pessoais. O desafio da civilização pós-moderna é chegar à justiça pelas vias mais racionais e humanas possíveis. Demonizar indivíduos não leva a outro lugar, senão ao extremismo, guerras e oportunismos políticos, fechando diálogos e possíveis de resoluções dos problemas.

No contexto da política, fechada as urnas eleitorais, deveria findar as brigas partidárias e iniciar-se os trabalhos suprapartidários, ou seja, a política no sentido estrito do termo; visando a polis, o bem comum dos cidadão e cidadãs da cidade. É uma pena que eleitores não percebam, porque é nesse período que se distinguem os verdadeiros políticos dos carreiristas.

Políticos comprometidos com o bem da polis, não se engalfinham quando perdem ou ganham as eleições; eles unem esforços, somam experiências técnicas e políticas para melhor atender a população e só se separam próximo ao novo período eleitoral.

Resta a pergunta: Há políticos genuínos nas cidades, no Brasil e no mundo?

Veja um exemplo de como as coisas funcionariam na prática. No Brasil a Campanha da Fraternidade promovida pela Igreja Católica para o ano de 2006 é voltada para inclusão de pessoas com deficiência. Em Maringá o prefeito participou da caminhada da inclusão promovida pela Igreja Católica e entidades. Prometeu diante do Arcebispo, padres, pastores e pessoas com deficiência que as calçadas iriam receber rampas. A promessa foi modesta, mas cumprida; porém de forma ineficiente. Há lugares que existem rampas de um lado e do outro não. Fora buracos e demais empecilhos limitadores da locomoção dessas pessoas.

Recentemente um rapaz cego, foi parar no hospital após chocar-se numa árvore. Maringá como outras cidades do Brasil não contemplam as pessoas com deficiência. Vi ônibus urbano acelerando enquanto um cadeirante, cruzava às pressas, a faixa para pedestre. Isso é desumano. Vi outros descendo de calçadas sem rampas. Deprimente. Várias vezes assisti pessoas cegas, confusas, nos cruzamentos das ruas. Constrangedor.

Mas, como o prefeito que provavelmente só anda de carro, poderá perceber que não executaram eficientemente uma responsabilidade delegada a quem compete no funcionalismo público, pago com os recursos do povo?

Descobri uma contribuição didática: Vou arrumar uma cadeira de rodas e convidá-lo para uma voltinha pela cidade. Será uma oportunidade para sair da rotina, interagir com a cidade, trocar algumas palavras com o povo e perceber a ineficiência dos que competem cuidar das vias públicas. É bom lembrar, a administração pública é responsabilidade de todos que são pagos para isso. Roubam do povo, todos que recebem e não realizam o trabalho com máxima eficiência e deveriam ser demitidos, por justa causa. Funcionários públicos não sãos patrões, são funcionários do povo.

Será que o prefeito vai aceitar meu convite? Não sei. Mas será uma oportunidade de refletir que o verdadeiro político não é aquele que vê “o poder” na força e prestigio de um cargo, mas no poder de se colocar no lugar do outro e transformar realidades desumanas, geradas inclusive, pelo trabalho ineficiente de funcionários públicos comandados por ele.

Quem sabe um dia, ao olhar-se no espelho de sua casa antes de sair para o gabinete, poderá ver em seu rosto a grandeza desse “poder”; o qual adversário político algum poderá lhe tirar. Correrá o risco de compreender que esse é um poder “sagrado”.

No Brasil e no mundo a compreensão sobre o poder dos cargos públicos e políticos é vergonhosamente equivocada. Talvez o resgate humanitário e até espiritual dos cargos, possa ser o único apelo que reste como “esperança” de mudanças. Dependendo do prefeito de minha cidade, nossa próxima voltinha será num hospital público. Tente isso em sua cidade, quiçá em seu país, convidando seu presidente para uma voltinha aos lugares em que os políticos só vão, na época de pedir votos.

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Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá