18 outubro, 2006

Palavras de um ouvinte e assistente

Meu nome é Otávio Júlio Torres, presbítero ativo da 4ª RE. Estive presente, como visitante, nas duas sessões do 18º Concílio Geral. As palavras que passo a escrever são mais do que minhas simples impressões desse conclave; são, sim, uma forma de eu expressar os pincípios de fé que aprendi na Igreja Metodista, desde a meninice, e que me levaram a reafirmar os votos de batismo que meus pais tomaram por mim, pelo ato da profissão de fé na minha adolescência. Sempre acreditei e ainda acredito, pois os documentos da nossa igreja continuam existindo, que temos uma boa orientação para a participação de todos os membros na missão confiada por Deus à nossa igreja. Por isso mesmo, sinto-me constrangido a expressar-me diante de tudo que ouvi e a que assisti.

Primeiro, ficou evidente para mim que todas as eleições já estavam definidas, antes mesmo dos nomes serem apresentados. Os acertos estavam todos prontos antes mesmo do começo deste Concílio. Fico tranquilo ao dizer isto, pois não sou apenas uma voz que retine como um símbalo, mas que faz coro com muitas outras pelo país. Pena que, por conveniência, a decisão tomada pela Comissão de Justiça, por exemplo, diante do pedido de nulidade da eleição episcopal, por quebra da lei canônica de eleição sem discussão e sem debate, feita pelo Rev. Adhayr Cruz, presbítero da 4ª RE, foi julgada como improcedente. A igreja perdeu uma grande oportunidade, ainda que constrangedora, de rever seus atos. Ressalte-se que foi preciso o voto duplo do presidente da Comissão para dirimir a situação complicada...

Segundo, foi muito triste presenciar as mentiras que o Rev. Dino Ari Fernandes divulgou no site www.metodistaonline.kit.net diante de uma manifestação lícita que membros ecumênicos da igreja fizeram na ocasião do culto de abertura da segunda sessão do Concílio. Ali eu estive e o que presenciei foram jovens metodistas de algumas igrejas locais, acompanhados de outros jovens católicos, vestidos de camisas brancas, silcadas com a frase: “Oiukomene: estamos em luto (a)”, com faixas pedindo a justificativa dos votos dos 79 delegados que votaram pela saída dos órgãos ecumênicos, cantando o hino “Excelência do amor”, de nossos hinários. Mais triste ainda foi ouvir, diante do fato, as falas evasivas que a bispa Marisa e o bispo Paulo Lockman trouxeram ao Concílio em relação ao tema do ecumenismo, sem, sequer, fazer qualquer referência ou repreensão a esse ato repreensível praticado pelo Rev. Dino, que afirmou, ao ser confrontado quanto ao assunto, que nao estava lá e só repetiu o que ouviu de outros... Pelo menos é o que dizem os jovens que assinam o documento enviado ao mesmo site, em que contestam as informações enviadas pelo Rev. Dino. Esse ato, sim, digno, inclusive, de disciplina eclesiástica à qual ele ensejou em seu texto submeter os clerigos que apoiaram a manifestação dos jovens. A veracidade disso, como dizem os mesmos jovens, pode ser comprovada nas matérias e fotos do site oficial de nossa Igreja (www.metodista.org.br).

Terceiro, como presbítero da igreja, mesmo não sendo delegado ao Concílio Geral, penso que teria o direito de, pelo menos, pedir ao presidente e ao plenário do Concílio uma palavra de privilégio. Mas diante da tentativa que fiz, ao levantar meu braço, sequer fui mencionado. Pergunto-me até agora porquê. Uma certeza, porém, tenho. Não passei despercebido, pois o bispo Adolfo, que na ocasião assessorava o bispo-presidente na anotação dos nomes para o debate, pediu-me para abaixar o braço. É possível que isso tenha acontecido por causa de uma fala que recordo-me ter ouvido do delegado da 1ª RE, Rev. Luciano Amorim, a um visitante, o Rev. Adhayr Cruz, da 4ª RE, por volta da primeira sessão do Concílio, realizada em Aracruz, ES. Disse ele: “Por acaso, você é delegado neste Concílio?... Então... não devo satisfação a você.” Mas, de fato, sabemos que deve satisfações a todos os membros da Igreja Metodista do Brasil, pois estava ali, exatamente, em representação deste povo.

Quarto, não foi menos ultrajante presenciar que havia “candidatos” em plena campanha, fazendo promessas e alianças para que pudessem ser eleitos. Lembro-me ter pensado em uma das ocasiões em que vi tal prática, no desenrolar das sessões: “O que me parece aqui é que não somos todos do mesmo ‘partido’, mas cada Região aqui representa um partido distinto dos demais”. Ouvi falas do tipo: “Vou votar em ‘fulano de tal’, porque ele vai ser nosso representante em tal setor da igreja”. Foi muito doloroso ouvir isso e constatar que nossa igreja está dividida em partidos, como a comunidade dos coríntios.

Em quinto, e termino por aqui por conveniência e não por falta de outras situações para enumerar, é mais uma vez muito triste discernir entre delegados e delegadas pessoas que compreendiam ser “a mão e a voz de Deus” para mudar a história da nossa igreja, divinamente escolhidos. Esse foi o maior motivo que me levou a escrever essas linhas. É preciso que essas pessoas entendam que, se de fato alcançaram o alvo que pretendiam, Deus não pode estar nos meios, nos processos que elas usaram para tanto. Processos que passaram por cima de leis da Igreja Metodista, processos que excluíram a vontade e representação de delegações inteiras, processos que infringiram o príncípio da representação e serviram a interesses particulares.

Uma última palavra: não sou ingênuo para ter dito tais palavras, simplesmente, por fazer parte do grupo de pessoas que, em suas conviccções, foram vencidas neste Concílio. Decisões e eleições sempre serão decididas em favor de pessoas e idéias distintas, mesmo no contexto da Igreja de Cristo. Afinal, continuamos humanos, limitados em nosso discernimento e vivência das coisas celestiais. Como diz o apóstolo Paulo, “ainda vemos como em espelho”. Essas poucas palavras que escrevi não são fruto nem tampouco derivam do fato de eu pensar que a Igreja Metodista, até então, em suas lideranças, fosse isenta de pecados em todas as direções. De forma alguma.Mas a diferença que faço em relação ao que presenciei neste Concílio, em relação ao poder anteriormente constituído na igreja, é que os processos eram mais éticos que meramente políticos, nos moldes seculares que presenciamos em nosso país. Isto sim, me entristeceu profundamente.Minha oração é que Deus não nos permita chegar à “Babilônia” para somente depois disso virmos a nos arrepender. Minha oração é que as atuais lideranças da Igreja Metodista, eleitas neste último Concílio, possam conduzir nossa igreja com temor e tremor diante de Deus.

Otávio Júlio Torres
Presbítero Ativo da 4ª RE
otavio_torres@hotmail.com

1 Comments:

At outubro 19, 2006, Blogger marianewnum said...

Prezado Revdo,
Congratulações por sua fala que apesar do triste lamento que sim, ecoa na IM brasileira, aponta para a necessidade de vozes corajosas de homens e mulheres em ação e denúncia profética. Seu testemunho e de outros revela as "falácias" que usurpam o nome de Deus e a ação do Espirito Santo para conchavos lastimáveis tal qual se vê no cenário político. Outrora a Igreja se distinguia, hoje não mais. Vê-se que hoje (exceto, poucos casos) quase não há os "menos iguais" aos políticos corruptos que vendem a alma e enganam o povo. Assistimos o fomento de uma massa podre e hegemônica, é uma lástima.
Que não nos venham falar da ação do santissimo Espirito, se há algum espirito agindo é outro.
Parabéns por não calar-se.

Saudações,
Maria

 

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