20 novembro, 2006

Três capitais fazem feriado em homenagem a Zumbi

PORTO ALEGRE, 20 de novembro (ALC) - São Paulo, Rio de Janeiro, Cuiabá e outras 220 cidades brasileiras comemoram, hoje, o Dia da Consciência Negra, em homenagem ao líder Zumbi dos Palmares, ícone da resistência negra ao escravismo e da luta pela liberdade.

Curiosamente, o movimento que introduziu o 20 de novembro como Dia da Consciência Negra nasceu em Porto Alegre, no início dos anos 70 do século passado, mas a cidade que não faz feriado hoje. O Rio Grande do Sul aparece no mapa populacional como um dos Estados mais “brancos” do país.

Um grupo de negros, liderado pelo poeta e professor Oliveira Ferreira da Silveira, reunia-se na Rua dos Andradas, mais conhecida como Rua da Praia, a principal via pública do centro de Porto Alegre, para discutir temas relacionados à situação do negro no Brasil. Foi desse grupo que nasceu a idéia de rememorar Zumbi.

O calendário oficial registra o 13 de maio como o dia de festa da população negra, reportando-se aos idos de 1888, quando a princesa Isabel, filha do imperador Dom Pedro II e regente imperial do Brasil, assinou a Lei Áurea, abolindo a escravidão no país.

Para o grupo de artistas, estudantes e intelectuais que se reunia na Rua da Praia, negros não tinham nada a comemorar no 13 de maio. “A Lei Áurea aboliu a escravidão, mas não adotou providências para absorver socialmente a grande massa de escravos. Não se fez nenhum movimento para dar terras a essa população. Pelo contrário, eles foram buscar mais migrantes europeus, num esforço de embranquecimento do país”, explicou o professor Silveira, em entrevista para o jornal O Estado de São Paulo.

“13 de maio traição/ liberdade sem asas/ e fome sem pão”, escrevia Silveira em poesia de 1969. Das discussões da Rua da Praia surgiu oficialmente, em 20 de julho de 1971, o Grupo Palmares, que colocou como um de seus objetivos festejar o 20 de novembro como dia da resistência negra.

A data alude ao assassinato de Zumbi, em 1665. Zumbi foi o líder mais importante do Quilombo dos Palmares, uma espécie de república que acolheu escravos fugidos das plantações de açúcar do Nordeste. O quilombo chegou a ter 30 mil habitantes.

Zumbi nasceu livre em Palmares, em 1655. Quando criança, foi capturado por soldados portugueses e entregue ao padre jesuíta Antônio Melo, em Porto Calvo. Zumbi, batizado de Francisco, aprendeu português e latim, e ajudou o padre nas missas.

Aos 15 anos de idade, Zumbi fugiu, em 1670, e regressou ao Quilombo. Revelou-se um grande guerreiro e estrategista militar. Dez anos depois, assumiu o comando do Quilombo, em substituição ao seu tio, Ganga Zumba, que aceitara a proposta do governador de Pernambuco, Pedro de Almeida, de alforriar todos os quilombolas de Palmares, desde que se submetessem ao poder do Estado.

Zumbi, ao contrário, nunca aceitou que alguns negros fossem libertos e outros continuassem escravos. Em 1680, ele comandou a resistência contra as tropas portuguesas. Em 1694, os portugueses conseguiram derrubar a capital do Quilombo, após 94 anos de resistência.

Ferido, Zumbi conseguiu escapar, mas foi morto em 20 de novembro de 1695, aos 40 anos de idade. Traído por um antigo companheiro, ele foi preso e degolado, sua cabeça colocada sobre estaca em praça pública para “satisfazer os ofendidos” e “atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi imortal”, como escreveu em 1696 o então governador de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, ao rei de Portugal.

O Dia da Consciência Negra foi instituído pela lei 10.639, de janeiro de 2003. A mesma lei tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Em 223 cidades, a maioria nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso, leis municipais determinaram feriado nessa data. Nenhuma cidade da Região Sul faz feriado hoje.

Várias atividades estão agendadas para hoje em todo o país em decorrência do Dia da Consciência Negra. Em Porto Alegre, será realizado ato litúrgico, às 18h, promovido pelo Fórum Estadual das Religiões de Matriz Africana em Defesa da Segurança Alimentar.

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