Movimento Carismático provoca tensões na IECLB
BRASIL
Decisão de instância jurídica gera tensões na IECLB
Por Edelberto Behs
PORTO ALEGRE, 22 de dezembro (ALC) – O Conselho da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e o Movimento Encontrão movem suas peças num intrincado tabuleiro de xadrez, no qual um lance mais brusco pode resultar em ruptura, num jogo em que já sabem de antemão que não haverá vencedores, apenas vencidos.
No centro desse tabuleiro está a Paróquia Evangélica de Lajeado, da cidade de Lajeado (a 120 km de Porto Alegre), que tem em torno de 4 mil membros e integra o Sínodo Vale do Taquari.
Em processo administrativo disciplinar movido contra lideranças da Paróquia, a Comissão Jurídica Doutrinária da IECLB, ratificando decisão da Comissão Jurídica do Sínodo Vale do Taquari, determinou o afastamento do pastor local, Rudi Tünnermann, e a perda do cargo do presidente da Paróquia, Egon Schwingel, e do presidente da Comunidade de Lajeado, Charles Jorge Schwingel, declarando-os inelegíveis por quatro anos.
Assembléia da Comunidade Evangélica de Lajeado, realizada na quarta-feira, 13 de dezembro, aprovou encaminhamento ao Conselho da Igreja pedindo a revisão do processo disciplinar, que condenou o pastor e lideranças locais ao afastamento de seus cargos, argumentando, entre outros, que a comunidade local não foi ouvida no processo. O pastor tem até o dia 28 de fevereiro para deixar o ministério pastoral de Lajeado. Os dois presidentes sentenciados já deixaram as funções.
Ouvido pela ALC, Tünnermann declarou que não pretende sair de Lajeado porque a comunidade local quer a sua permanência. Se o Conselho da Igreja mantiver a decisão da Comissão Jurídico Doutrinária, adiantou, uma parte da comunidade vai se desligar da IECLB e os quatro pastores que com ele trabalham na paróquia pedirão afastamento do quadro de obreiros da igreja. Tünnermann e o presbitério local estão vinculados ao Movimento Encontrão, de avivamento espiritual.
“Nosso propósito não é rachar”, frisou Tünnermann, “mas se rachar aqui, é o início do racha nacional”, vaticinou. Em manifesto publicado no sítio na rede mundial de computadores, em 26 de novembro, o Movimento Encontrão apóia a Comunidade de Lajeado, “denuncia e se posiciona contra o autoritarismo institucional e o absoluto despreparo e evidente falta de isenção das Comissões Jurídico-Doutrinárias sinodal e nacional”.
Dias depois, a 4 de dezembro, o presidente do Conselho da Igreja, Milton Laske, e o pastor presidente, Walter Altmann, remeteram mensagem às comunidades da IECLB de esclarecimento dos fatos. Na carta, eles pediram que o Movimento Encontrão retire as acusações dirigidas aos integrantes das Comissões Jurídico Doutrinárias do Sínodo e da Igreja, e que interfira junto ao pastor Tünnermann, aos líderes comunitários Egon e Charles Schwingel para que se submetam às decisões definidas no processo administrativo disciplinar.
No esclarecimento às comunidades, Laske e Altmann advertem que “qualquer postura de descumprimento importará em gesto de rebeldia e desacato, não a pessoas, mas à instituição”.
A revisão do processo jurídico doutrinário, como quer a Comunidade de Lajeado, só acontecerá mediante um fato novo, e um fato novo só pode ser uma nova conciliação, interpretou para a ALC o presidente do Conselho do Sínodo Vale do Taquari, professor Otávio Schüller.
Embora admitindo que o tabuleiro de xadrez aponte, de momento, uma situação complicada, o pastor primeiro vice-presidente da IECLB, Homero Severo Pinto, ainda acredita numa reversão. “A presidência da Igreja está atuando pastoralmente, tentando mediar o conflito”, declarou. Ele foi indicado pela presidência para acompanhar o caso.
Também o presidente do Conselho da Igreja, advogado Milton Laske, tem expectativas de uma reversão. O problema maior, explicou Laske, “é o pouco conhecimento que as pessoas têm do modelo eclesiológico vigente na IECLB”. O modelo é sinodal, diferente da formatação da igreja de há poucos anos, quando ela tinha uma estrutura que se confundia ora com o modelo congregacional, ora episcopal.
O Sínodo é que detém grande parcela das decisões pastorais e administrativas na igreja. Entre os argumentos arrolados pela Assembléia de membros de Lajeado para pedir a revisão do processo disciplinar, ela recorreu ao regimento interno da IECLB para dizer que a comunidade é a base de trabalho da igreja e que a assembléia geral da comunidade é o órgão máximo de discussão e decisão sobre os assuntos relacionados com a sua missão.
O primeiro vice-presidente do Encontrão, Nestor Mentz, revelou que o movimento vai se pronunciar em breve a respeito do impasse surgido em Lajeado. Ele acredita que a reconciliação é possível e garantiu que estão trabalhando nesse sentido. “Somos absolutamente respeitosos à igreja, pois somos IECLB e o Movimento Encontrão está sujeito ao ordenamento da igreja”, declarou.
Ainda assim, entende que o processo disciplinar está cheio de erros e que o Judiciário da igreja, por ser ainda novo e estar em fase de construção, carece de maturidade.
Também destacou que o trabalho do pastor Tünnermann em Lajeado está plenamente sintonizado com o Encontrão e é exemplar, uma espécie de “vitrina” do que pode ser realizado num centro urbano, principalmente em se tratando de uma igreja de origem rural, como é o histórico da IECLB.
Admitiu, contudo, que toda novidade, como é o ministério pastoral desenvolvido em Lajeado, gera reações que precisam ser examinadas e avaliadas, pois o Encontrão preconiza a inclusão de todos.
O início do conflito remonta a uma representação encaminhada por um grupo de membros da Comunidade Evangélica de Lajeado ao Sínodo Vale do Taquari, em março de 2005, denunciando o coordenador ministerial da Paróquia, pastor Rudi Tünnermann, e lideranças do presbitério por comportamentos incompatíveis com o exercício do ministério pastoral e de liderança comunitária.
Esse grupo sentiu-se excluído do corpo da comunidade por causa do modelo de trabalho ministerial, litúrgico e pastoral lá desenvolvido. Numa manifestação de lideranças da Comunidade Evangélica de Lajeado apresentada no Concílio do Sínodo Vale do Taquari, em 23 de setembro, eles historiaram que “um pequeno grupo de membros” tentou assumir o presbitério em dezembro de 2004, apresentou uma chapa de oposição e perdeu as eleições.
A razão para a instauração do processo administrativo disciplinar, arrolaram no Concílio de setembro os líderes Charles Schwingel e Gastão Schneider, este então na presidência da Paróquia, é uma só: “As autoridades eclesiais do Sínodo Vale do Taquari não admitem o modelo de atuação pastoral desenvolvido (em Lajeado), por estar identificado com o Movimento Encontrão”.
Tünnermann assegurou que em nenhum momento feriu alguma norma regimental, administrativa ou ética da igreja, e que em nenhum momento deixou de cumprir as tarefas ministeriais que lhe foram delegadas.
Laske e Altmann lembram, na manifestação às comunidades, que a IECLB tem nos membros, comunidades e obreiros vinculados ao Movimento Encontrão “uma das suas grandes riquezas e é com alegria que se verifica o seu empenho na propagação do evangelho, em especial no trabalho missionário”.
A discórdia, destacou Schüller, não é entre o Sínodo e a Comunidade Evangélica de Lajeado, “mas é briga de facções” da comunidade local. Em diferentes ocasiões o Sínodo buscou “a disciplina fraterna”, que vem a ser a tentativa de diálogo entre as partes, pelo menos em três oportunidades, antes de instaurar o processo administrativo disciplinar, assinalaram Schüller e o pastor sinodal Erno Feiden, do Sínodo Vale do Taquari.
Qualquer que seja o desfecho dessa discórdia entre os da mesma fé, fato é que ela provocou feridas que levarão tempo para cicatrizar, ou, dependendo dos encaminhamentos, jamais se curará. Como disse Feiden, “ninguém sai vitorioso com isso, todos perdem. O prejuízo para a igreja é muito grande”. Na avaliação de Nestor Mentz, todo esse desentendimento “é vergonhoso para a nossa igreja”.
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