Toda a atenção para a Amazônia e seu povo
Por Carlos Mendes - Jornal O Diário do Norte do Paraná - Maringá
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lança Campanha da Fraternidade de 2007 criticando o desmatamento ilegal, a grilagem e os conflitos de terra naquela imensa região.
O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Odilo Pedro Scherer, abriu ontem na ilha do Combu, em Belém, a Campanha da Fraternidade deste ano, que tem a Amazônia e seu povo como tema, criticando a destruição da região pelo desmatamento ilegal, grilagem e conflitos de terra. "É uma insensatez, é falta grave de responsabilidade e de fraternidade", disse Scherer, para quem somente a fraternidade "promove a partilha e a sustentabilidade da vida na floresta".
Ele explicou que a campanha não se volta somente para a questão ambiental, mas principalmente para os seres humanos que habitam a região, como indígenas, caboclos, quilombolas, nativos ou migrantes, populações ribeirinhas e gente das pequenas e grandes cidades da Amazônia. Essas pessoas são a referência da fraternidade a ser despertada e aprofundada na região. "O povo da Amazônia é vítima com freqüência de esquecimento, discriminação e graves conflitos", observou Scherer.
Na ocupação da terra e na exploração dos recursos naturais, muitas vezes, segundo o religioso, impera a lei da selva, a lei do mais forte, por causa da "ausência, ou da ineficiência" do Estado e de suas instituições. Uma mensagem escrita pelo papa Bento XVI foi lida. No documento, o papa convida todos os brasileiros a uma "mudança de vida" no sentido de assumir o "compromisso" de um maior cuidado com "os povos e toda a natureza, em especial a da Amazônia".
O coordenador-executivo da campanha, padre José Carlos Tofolli, da CNBB, disse que a mensagem é um convite para "refletirmos sobre o bioma que é a floresta amazônica, bioma que é o grande berço de vida e que a gente tem que aprender a cuidar melhor para que, inclusive, os povos que nela habitam possam ter uma vida mais digna".
O secretário da CNBB na Região Norte, dom Flávio Giovenale, acredita que a campanha poderá despertar a atenção do País para a preservação da Amazônia.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), 17% da região já está desmatada. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o governo federal está fazendo sua parte combatendo os crimes ambientais. "Já foram criadas 48 unidades de proteção ambiental e hoje temos mais de 20 milhões de hectares protegidos por lei", resumiu Marina.
A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, lembrou o assassinato da missionária Dorothy Stang, dois anos atrás, afirmando que não permitirá que a polícia seja cúmplice de grileiros e violadores de direitos humanos. "A polícia não mais baterá em lavradores; agora ela irá protegê-los", garantiu Ana Júlia.
Enquanto o lançamento da campanha acontecia, nove organizações de base da Igreja Católica divulgavam um manifesto, protestando contra a participação da Companhia Vale do Rio Doce como patrocinadora do evento. Em nota, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), as pastorais da mulher, do menor, juventude rural, migrantes e o grito dos excluídos criticavam a organização da campanha pela "ausência do povo", e "convites restritos", mas se detinha em ataques à Vale, dizendo que a empresa é uma das principais responsáveis pela destruição ambiental e por conflitos com as populações tradicionais da Amazônia.
Outra acusação é de que a Vale tem problemas com índios e comunidades quilombolas, além de movimentar seus fornos para produção de ferro-gusa com carvão vegetal de 300 mil hectares de florestas derrubadas. A assessoria da Vale informou que a empresa tem por norma não divulgar os valores de eventos que patrocina. Para a empresa, o tema escolhido este ano pela CNBB se identifica com a postura que ela vem adotando de preservação do meio ambiente.
Ninguém da CNBB quis comentar o protesto das entidades ligadas à Igreja.
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