08 março, 2007

CLAI assume desafio de trabalhar pela cultura de paz

BUENOS AIRES, 8 de março (ALC) - A Assembléia Geral do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), reunida em Buenos Aires de 19 a 25 de fevereiro, emitiu Carta Pastoral destacando as reflexões que o encontro continental abrigou nas suas plenárias, momentos litúrgicos e de oração.

O CLAI assume o desafio de ajudar na construção de uma nova justiça e uma cultura de paz, “a partir da formação e a descolonização de nossas mentes e realidades no âmbito social, econômico, político e religioso”. Também alerta para o risco de acomodação das igrejas a sistemas que se opõem aos valores da Teologia do Reino de Deus. Segue a íntegra da mensagem:

“Celebramos com alegria e esperança os novos sinais que estão se dando na Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Equador e Chile, países nos quais são realizados esforços por elevar a dignidade daqueles/as menos favorecidos/as em ações concretas para o desenvolvimento integral de nossas sociedades. A partir da reflexão bíblica e teológica sentimos o fluir da Graça e o Espírito que liberta para a vida e que nos fez respirar e aspirar juntos/as no contexto de novas brisas e ares frescos na integração dos povos de nosso continente indo-afro-latinoamericano. Também assumimos o desafio da construção de uma nova justiça e uma Cultura de Paz, a partir da formação e a descolonização de nossas mentes e realidades no âmbito social, econômico, político e religioso. Segundo a parlamentar peruana María Sumire, convidada especial da nossa Assembléia, “é necessário dar-nos pelo outro, servir a nossos irmãos e irmãs e tentar trabalhar pelo bem-estar de nossos povos”.

“Foi motivo de preocupação desta Assembléia a guerra perpetrada no Oriente Médio, a situação de conflito armado na Colômbia, bem como a crise nas relações entre o Uruguai e a Argentina quanto à instalação das fábricas de celulose, a violação dos Direitos Humanos na prisão de Guantánamo, Cuba, bem como o encarceramento dos cinco presos políticos cubanos em cárceres dos Estados Unidos, o qual foi fundamento para a reflexão, oração e o desafio à ação. No entanto, a esperança se renova ao ver o êxito de iniciativas em prol da formação e da capacitação em mediação de conflitos, a promoção da paz no contexto estrutural, social e familiar, fruto da Campanha para a América Latina da Década para a Superação da Violência. A presença do Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, bem como de autoridades governamentais, ONGS, representantes da Igreja Católica Romana e homens e mulheres profetas de nossos tempos, puseram a nota emotiva e inspiradora em nossa jornada. Dessa maneira, assistimos ao balanço entre a memória da resistência e a defesa da vida, e a esperança de, em tempos próximos, ver cumprida a promessa do salmista “a misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Salmo 85:10).

“Durante esta Assembléia contamos com a presença de igrejas e organismos de cooperação da América do Norte e da Europa, que nos aproximaram das suas lutas e esperanças a partir das quais se apresenta o convite para renovar a missão compartilhada em convicções e ações conjuntas, para acompanhar-nos e apoiar-nos mutuamente. Também destacamos a presença daqueles e aquelas que nos precederam. Recordar estes queridos irmãos e irmãs que fizeram caminho ao andar reafirma nosso compromisso de dar continuidade às suas obras. Da mesma maneira, afirmamos os novos horizontes da Assembléia ao receber dos jovens, povos indígenas e mulheres propostas de maior participação nos processos decisórios do Conselho, mantendo vigentes seus respectivos programas sem renunciar à transversalidade no resto dos afazeres do CLAI.

“Advertimos para o risco enfrentado pelas igrejas de acomodar-se a sistemas que se opõem aos valores de uma Teologia do Reino de Deus. Resulta urgente continuar exercendo nossa voz profética para denunciar injustiças, violações dos Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais, anunciando assim uma teologia libertadora que pratica uma ética comunitária, educativa e transformadora.

“Precisamos aprofundar nosso compromisso para afirmar a vida plena e abundante em assuntos vitais à realidade de nossos povos, tais como a anulação da dívida externa ilegítima e odiosa dos países da América Latina e do Caribe, a descolonização daqueles povos que ainda não exerceram seu direito à livre determinação, a afirmação dos direitos dos povos indígenas, afrodescendentes, mulheres, meninos/as, jovens, anciãos/as, pessoas portadoras de deficiência e outros/as sujeitos sociais. Continuam vigentes os desafios éticos para uma mordomia da criação que ajude no despertar de uma consciência responsável para deter e reverter a crescente contaminação ambiental, o aquecimento global e a tendência à privatização dos recursos naturais. Do mesmo modo, assumimos o desafio de uma missão e evangelização contextual, que se disponha à conversão de vidas e estruturas a favor da vida em abundância (João 10,10).

“Frente à realidade dos nossos povos, fomos testemunhas da Graça de Deus, tocando o seu povo. Graça que atua de maneira insuspeita, surpreendendo-nos no caminho, “escrevendo direito em linhas tortas”. Convida-nos a nos deixar contagiar na festa de sua misericórdia e amor que se fazem presentes hoje e que perduram para sempre no cumprimento da justificativa de Sua Graça para a libertação e para a vida.

“Despedimo-nos com uma bênção que compartilhamos durante um de nossos momentos cúlticos e que reflete fielmente o Espírito que nos acompanhou nesta jornada:

“Que o amor do Tata Deus
Mais imenso do que o pampa,
Te cubra como uma manta
Sopre o vento ou brilhe o sol.

Que a grande misericórdia
Do Filho que nos liberta,
Mude por dentro e por fora,
O coração e a história

E que teu Espírito Eterno,
Que nos guia e consola,
Vá marcando o caminho
Até que triunfe teu Reino.”

(F. Pagura)

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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação