04 março, 2007

Santos de mãos encolhidas

Por Maria Newnum

A palavra santo em grego significa, separado, designado, sagrado. Os gregos separavam edifícios para serem templos consagrados aos propósitos não-mundanos. Estes lugares tornaram-se objetos de veneração e reverência. Os “Santos” eram pecadores crentes; separados do pecado para a santidade; intocáveis por “Satanás”, senhor do mundo profano.

Talvez venha daí o conceito dos mosteiros e clausuras, que abrigavam pessoas separadas do “mundo” secular, carregado de promiscuidade, devotadas exclusivamente aos pobres da terra.

Nesse sentido a palavra "santo" como designação de um crente, chama atenção imediata à responsabilidade que cada “santo” tem: Viver uma vida separada e diferente; ser “amostra grátis” do próprio Deus na terra.

As palavras "santo", "santificar" e "sagrado" pertencem a mesma raiz grega. Todas simbolizam a separação absoluta do mal e dedicação a Deus, ou seja, defender valores e realizar tarefas no mundo “profano”, tais qual o próprio Deus faria.

Salvo engano do hebraico muito enferrujado, no Antigo Testamento a palavra equivalente a santo é qadosh, que deriva a palavra qodesh, que significa separação, tendo o sentido também, de cortar, ou dividir, isolar ou separar.

No Novo Testamento é enfatizada a santificação, mais que a santidade. Sem santificação, ninguém verá a Deus, diz o livro de Hebreus 12.14. Enquanto a santidade é um estado a ser buscado, a santificação é a “prática” de separação, diferenciação; meio que evidencia a real consagração a Deus. O santo é servo de Deus, separado dos pecados do mundo, para exercer a sublime missão de levar almas para Cristo, pela mensagem do Evangelho e pelo testemunho do serviço incondicional aos necessitados.

Na atualidade, os “santos” estão bem longe do sentido proposto no grego e hebraico. Frequentemente, tomam para si, os lugares de destaque “dentro” dos templos; alheios aos problemas e desafios do “mundo” profano”. Enquanto o mundo jaz no “maligno” da miséria e corrupção, os “santos”, ou seja, os crentes, se refestelam nas cadeiras confortáveis dos templos. Ao invés de agirem como o próprio Deus agiria, se assentam no trono do “Deus altíssimo”, não como ajudadores bondosos desprovidos de interesses mundanos particulares, mas como “soberanos” e “juizes” do resto do povo.

Se quiser uma prova concreta dessa arrogância “santa”, peça o acolhimento de uma família pobre, sem teto, usuários de craque, com um bebê recém nascido...

Verá que tal qual o casal de Nazaré - e o bebê, tal qual o menino Jesus - ficará entregue a própria sorte, numa manjedoura moderna: um mocó rodeado, não de animaizinhos fedorentos; mas de lixo, ladrões e usuários de craque.

Deus nos livre dos suntuosos “santos” e “santas” de línguas afiadas para os gritos, revelações espirituais, cantos, rezas e orações, cujas mãos, estão encolhidas para os “meninos Jesus” de hoje.
Pobre das igrejas, com seus santos e santas de mãos atrofiadas e corações de pedra.
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Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e Coordenadora da Spiritual care Consultoria.

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