04 março, 2007

Os espaços da diferença

Uma das surpresas que os cientistas tiveram por ocasião da primeira clonagem – da ovelha “Dolly” – foi perceber que a clone apresentava um envelhecimento mais acelerado do que a original, caindo por terra, pelo menos naquele instante da história, a possibilidade de haver dois seres totalmente semelhantes.

Na verdade, esta é uma constatação antiga… desde que a humanidade é humanidade, a diferença é alguma coisa que incomoda.

Não basta ser da mesma família, nem da mesma cidade ou da mesma etnia… as diferenças ocorrem de muitas maneiras e formas… seja na cor da pele, na altura, na maneira de se comportar, nos costumes alimentares, cada um/a de nós é exclusivo/a por natureza… Deus nos fez pessoais, de um jeito próprio, com uma distinção, inconfundíveis!

Não considero nada de errado nisto… acredito até que esta diversidade toda tem uma intenção divina de fazer melhorar nossas habilidades.

O grande drama em relação às diferenças é que, na prática, elas nos distanciam!

Basta notarmos falta de idéias comuns para querermos sair, separar, dividir… como se a discordância não tivesse proveito!

Estes espaços entre diferentes é que atrapalha a convivência… se não nos evitássemos ao descobrirmos nossas desigualdades… se nosmantivéssemos com a mesma doçura e respeito como dantes… se as diversas maneiras de ser funcionassem mais como atração que como repulsa, teríamos uma gama bem maior de experiências para lembrar, pra contar e para ajudar nossas decisões!

É preciso entender que ser diferente não é pecado! Talvez seja um pouco incômodo, um pouco desgastante… mas, na maioria das vezes, dado o devido tempo, pode ser muito benéfico.

Como perdemos boas oportunidades por estarmos distantes… como deixamos de perceber a abrangência total da vida, do tempo, da humanidade!

É triste notar que existe quem se feche em sua exclusividade e se negue a comungar, a compartilhar… por conta de um pensamento diverso, de um costume incomum, afasta-se.

Gosto de pensar no exemplo de Cristo… que atraiu e convocou pessoas diversas para caminhar consigo… umas rudes, incultas, outras astutas, espertas… mas fez questão de estreitar relações com todas… cada qual com seu jeito, seu estilo, seu interesse… fazendo parte de um só grupo.

Jesus sabia com quem andava… elas é que não se conheciam bem entre si… mas à medida que conviveram, que se tornaram seguidoras de um mesmo mestre, as coisas vieram à tona… vieram as amizades… e as inimizades… as proximidades e os distanciamentos.

No ápice do conhecimento mútuo, após três anos de convivência, quando já havia um espírito de família – em todos os sentidos que isso possa ter – Jesus propõe uma refeição, um sentar-junto, uma reunião de todas as diversidades, num só encontro, numa só mesa, e, nesse cenário, propõe a maior de todas as lições do cristianismo… a unidade.

De alguma forma Ele, na mesa da comunhão, ensina que diferença não deve ser motivo de distanciamento, mas de conversa, de tolerância e entendimento… é preciso sentar para conversar, para repartir, para comungar pensamentos, pontos de vista, para achar espaços de relacionamento e unidade.

Nosso maior erro é mantermos essa distância com aqueles/as que não são iguais… porque não cantam o que cantamos, porque não comem o que comemos, porque não riem com nossas alegrias e nem choram com nossas tristezas… mas é preciso reverter… caminhar em direção contrária… em direção das pessoas, especialmente daquelas que não são tão próximas.

Se agirmos assim, diminuiremos espaços… aumentaremos as possibilidades de convivência… diminuiremos as diferenças, aumentaremos as oportunidades de afeição e respeito.

Na graça e na paz,

Rev. Nilson.