02 março, 2007

CLAI: Um processo de construção coletiva

Adital

V Assembléia Geral do Conselho Latino-Americano de Igrejas
Buenos Aires - 19-25 de fevereiro de 2007
"A graça de Deus nos justifica, seu Espírito nos liberta para a vida" (Rm 5,21).

A Conferencia do CLAI tem todas as características de um encontro da Igreja-Povo de Deus, visível nas Assembléias Diocesanas ou nas Assembléias do Povo de Deus. Notamos a presença de homens e mulheres, jovens, indígenas, negros e negras de todas as idades. Aqui estão bispos, bispas (¡), pastores, pastoras, leigos e leigas, representando mais de 150 igrejas cristãs. Há também a presença de muitos convidados/as da Igreja Católica, representados/as pelo responsável do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), para o diálogo ecumênico, o bispo brasileiro de Lages, SC, Dom Oneres Marchiori e pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), na pessoa do seu novo presidente, o Pastor Carlos Möller da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).

Nota-se a presença de sabedorias, espiritualidades e leituras diferentes, mas complementares da realidade e do evangelho. A Bíblia está sendo interpretada, de forma criativa, por indígenas, negros, mulheres, contribuindo na construção de uma espiritualidade ecumênica e que possa responder aos grandes desafios vividos no continente latino-americano e caribenho.

Todos e todas dão sua contribuição a partir de seu lugar de compromisso na Igreja, na sua profissão, na sua inserção social. Bispos, pastores, pastoras, cientistas de diferentes campos do saber, trabalhadores e trabalhadoras das mais diferentes profissões deixam suas casas, suas famílias, seu trabalho cotidiano e se preocupam com o futuro das Igrejas e seu papel na construção de um outro mundo possível. Faz-se uma experiência de Igreja Povo de Deus.

Rompe-se com uma tradição de Igreja piramidal, centrada em sua hierarquia, e abre-se para a construção de uma Igreja onde todos/as, a partir de sua inserção na Igreja e na sociedade, dão sua contribuição para a evangelização hoje. A base comum é o batismo e a responsabilidade advinda da certeza de que o Espírito age em todos/as e sopra onde e quando quer.

Certamente, este modelo ganhará força num continente, onde as Igrejas convivem em um contexto multi-étnico e pluri-cultural, com uma exigência de se ter uma convivência de diferentes. E os diferentes, hoje, estão dentro de nossas próprias comunidades cristãs e nossas famílias. No futuro, este modelo de construção coletiva será desafiado a incorporar, mais e mais, uma reflexão sobre o diálogo inter-religioso.

Uma das marcas desta V Assembléia é a presença marcante dos povos indígenas: quéchua, aymara, guarani, toba, quiché… Demonstram que o Espírito continua falando em sua resistência histórica e em seu amor pela terra, pelo ar, pelas águas, pela comunidade. Sua espiritualidade abarca todas as dimensões da vida. Indicam também, com sua presença, que aqueles e aquelas que foram invisibilisados/as, estão mostrando-se presentes, visíveis nos diferentes países da América Latina e do Caribe, influenciando os rumos políticos do continente.

Esta presença forte está sendo sentida na Bolívia, no Equador, na Guatemala, no México. Em muitos países, os afros-descendentes estão retomando suas tradições e apontando a necessidade de um outro tipo de convivência social, de tal modo que haja uma comunhão de diferentes e iguais. Os indígenas querem ser iguais e diferentes, assim como os negros/as querem ser iguais e diferentes, como também as mulheres, querem ser iguais e diferentes. A partir destas novas visibilidades, temos a chance de vivenciar de forma diferente o mistério da Trindade, que é uma comunhão de iguais e diferentes. Desta forma, nas Igrejas somos convidados a um novo modo de relacionamento. A mesma exigência se coloca na convivência social, de tal modo que as espiritualidades são convidadas a incorporar as novas exigências advindas das indicações dadas pelas diferentes eleições no continente latino-americano e caribenho que apontam para novos caminhos e modelos de sociedade. Se nossas Igrejas não estiverem atentas a esses sinais dos tempos, com certeza, terão dificuldades para anunciar a boa notícia-evangelho para os povos da nossa América!