05 março, 2007

Declaração da V Assembléia do CLAI


24 de fevereiro de 2007

Estivemos reunidos na cidade de Buenos Aires, cerca de 500 delegados e convidados das igrejas membro das regiões Andina - Caribe e Grande Colômbia - Brasil - Rio da Prata e América Central, que constituem o Conselho Latino-americano de Igrejas(CLAI), no marco da V Assembléia Geral deste organismo. Um concerto de vozes, cores, sabores, perfumes, ritmos e canções celebraram a diversidade de nossas espiritualidades e identidades, em íntima comunhão com os desafios e esperanças de nosso tempo. Em confiança no Deus Vivo que nos mantém forjando a resistência na caminhada por esses tempos difíceis e confiança que, ao mesmo tempo, nos inspira a este "momento novo" de caminhada em direção a seu Reino.

Celebramos com alegria e esperança os novos sinais que se estao vivendo em Venezuela, Nicarágua , Bolívia, Equador y Chile, países que estão fazendo grandes esforços para levantar a dignidade daqueles/as menos favorecidos/as, em ações concretas pelo desenvolvimento integral da sociedade. A partir da reflexão bíblica e teológica, sentimos o fluir da Graça e do Espírito de Deus que liberta para a vida e que nos faz respirar e aspirar juntos em um contexto de novas brisas e ares frescos pela integração dos povos de nosso continente índio-afro-latinoamericano. Da mesma forma, assumimos publicamente diante da sociedade bonaerense o desafio da construção de uma nova justiça e uma Cultura de Paz, a partir da formação e a descolonização de nossas mentes e realidades no âmbito social, econômico, político e religioso. Segundo palavras da parlamentar peruana Maria Sumire, convidada desta Assembléia: ” ... é necessário que nos entreguemos em favor do outro, servir a nossos irmãos e irmãs e procurar trabalhar pelo bem-estar de nossos povos”.

Foi motivo de preocupação desta Assembléia a guerra perpetrada no Oriente Médio, a situação de conflito armado na Colômbia, assim como a crise nas relações entre Uruguai e Argentina devido a instalação de fábricas de pasta de celulose, a violação dos Direitos Humanos na cárcel de Guantánamo/Cuba, assim como a situação dos 5 presos políticos cubanos nos Estados Unidos, que têm sido motivo de oração, reflexão e intercessão. No entanto, nossa esperança se renova ao vermos o êxito de iniciativas em favor da formação e capacitação na mediação de conflitos, a promoção da paz no contexto estrutural, social e familiar, fruto da Campanha para América Latina da Década para a Superação da Violência. A presença do Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, assim como de autoridades governamentais, ONGs, representantes da Igreja Católica Romana, de homens e mulheres profetas de nosso tempo, colocaram a nota emotiva e inspiradora nessa jornada. Desta maneira, sentimos o equilíbrio entre a memória da resistência e a defesa da vida e a esperança de ver realizada em tempos muito próximos a promessa do salmista: “a misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Salmo 85.10)

Durante esta Assembléia, contamos com a presença das igrejas e organismos de cooperação de América do Norte e Europa, que compartilharam conosco suas lutas e esperanças, convidando-nos a renovar a missão compartida em convicções e ações conjuntas, no acompanhamento e apoio mutuo. Também destacamos a presença daqueles e daquelas que nos precederam. Lembrar a estes queridos irmãos e irmãs que fizeram caminho ao andar, reafirmou nosso compromisso de dar continuidade as suas obras. Da mesma maneira, afirmamos novos horizontes ao receber propostas dos jovens, povos indígenas e mulheres solicitando mais participação nos processos decisórios do Conselho, mantendo vigentes seus respectivos programas, sem renunciar a transversalidade nas atividades do CLAI.

Chamamos a atenção das igrejas para o risco de acomodar-se aos sistemas que se opõem aos valores da Teologia do Reino de Deus. Continua sendo necessário que expressemos nossa voz profética para denunciar as injustiças, as violações dos Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais, anunciando, em contrapartida, uma teologia libertadora que pratica uma ética comunitária, educativa e transformadora.

Precisamos aprofundar nosso compromisso por afirmar vida plena e abundante em temas vitais para a realidade de nossos povos, como é a anulação da Dívida Externa Ilegítima e Odiosa dos paises de América Latina e Caribe, a descolonização daqueles povos que ainda não puderam exercer seu direito à livre determinação, a afirmação dos direitos dos povos indígenas, afro-descendentes, mulheres, crianças, jovens, idosos, pessoas com necessidades especiais e outros/as sujeitos sociais. Continuam vigentes os desafios éticos para a mordomia da criação, que favoreça o despertar de uma consciência responsável para deter e reverter a crescente contaminação ambiental, o aquecimento global e a tendência de privatização dos recursos naturais. Da mesma maneira, assumimos o desafio de uma missão e evangelização contextual, que busque a conversão de vidas e estruturas em favor da vida em abundância (João 10.10).

Em meio a realidade que vivem nossos povos, também fomos testemunhas da Graça de Deus, que tem tocado esses povos. Graça que atua de maneira insuspeita, surpreendendo-nos no caminho, “escrevendo certo por linhas tortas”. Graça que nos convida a que nos contagiemos dela na festa da misericórdia e do amor, que já estão presentes hoje e que perdurarão para sempre no cumprimento da justificação de Sua Graça para a libertação e para a vida.

Despedimo-nos com uma benção que compartilhamos em um de nossos momentos cúlticos e que reflete fielmente o Espírito que nos acompanhou nesta jornada:


“Que o amor de Tata Deus
Mais imenso que o pampa,
Te cubra como um manto
Sopre o vento e faça brilhar o sol.

Que a grande misericórdia

Do Filho que nos liberta,
Transforme por dentro e por fora,
O coração e a história

E que teu Espírito Eterno,
Que nos dirige e consola
Continue marcando a senda
Até que triunfe teu Reino."

(F. Pagura)