19 maio, 2007

No ensejo do dia contra a violência e exploração infantil: Meninas e mulheres num vazio de sombras

Por Claudia Florentin

BUENOS AIRES, 16 de maio (ALC) - Madeleine MacCann tem mais de sorte do que milhares de meninos e meninas em todo o mundo que desaparecem sem deixar vestígio, e dos quais só os mais próximos guardam na memória um rosto, um último olhar e um último instante em que estiveram próximos.

Madeleine é a bebê britânica que, no sábado, completou quatro anos e que foi seqüestrada no dia 3 de maio numa praia do sul de Portugal. A polícia portuguesa trabalha no caso em conjunto com a Scotland Yard. Uma das hipóteses é que o seqüestro tenha sido arquitetado por pessoas vinculadas a uma rede de pedofilia.

Seu rosto doce e inocente deu a volta ao mundo apoiado por empresários e celebridades britânicas que ofereceram mais de dois milhões de euros para quem oferecesse alguma informação que levasse ao esclarecimento do caso. Um empresário escocês ofereceu 1,5 milhão de euros e, no domingo, a autora de Harry Potter, JK Rowling, somou outros 2,2 milhões de dólares à recompensa.

Hoje já se afirma que as buscas a Madeleine foram reduzidas por causa da falta de resultados. E assim continua crescendo a enorme lista de nomes de crianças raptadas e postas numa espécie vazio nas sombras de onde parece impossível resgatá-las.

Impossível? Obviamente que não é impossível. Num mundo tomado por redes, onde tudo é conhecido em minutos, onde até e-mails pessoais são monitorados e controlados, não é lógico que crianças simplesmente "desapareçam". A enorme rede de pedofilia e tráfico está amparada por setores poderosos, governos e máfias em todo o mundo.

A Associação Mexicana de Crianças Raptadas e Desaparecidas advertiu sobre a necessidade de tipificar como delito do foro federal o roubo de crianças, procurando manter, assim, maior controle e intervenção estatal sobre esses casos.

Alguns destes seres inocentes têm rostos que circulam pelo mundo e, talvez, alguém, algum dia, os veja e os reconheça. Mas é muitíssimo maior o número daqueles que não encontram espaço nos meios, na publicidade, nas instâncias governamentais. Seus nomes apenas aparecem numa nota breve, passando depois a representar um dossiê a mais nos enormes expedientes da justiça.

Em Buenos Aires, um grupo de mulheres comprometidas com a luta pela verdade e a justiça começou uma série de encontros que se repetem a cada dia 3 de cada mês, na Praça do Congresso. "Basta de assassinatos e desaparecimentos forçados de mulheres", reivindicam. Algumas dessas mulheres e meninas têm nomes que o cidadão comum escuta quase como familiar, porque o pedido de justiça foi veiculado por meses nas mídias, sem sucesso. Outros são nomes desconhecidos para a sociedade, mas bem presentes na dor de quem os amavam.

É preciso que os delitos do tráfico, da exploração e da prostituição contra a vontade sejam considerados crimes contra os direitos humanos. Há anos afirma-se que os "direitos das mulheres são direitos humanos", uma obviedade muito grande, mas que, numa sociedade sem eqüidade, patriarcal e violenta, é necessário repetir até a conquista de resultados efetivos.

Enquanto aqueles que têm a responsabilidade de tomar decisões políticas e jurídicas continuam olhando para o outro lado, milhares de meninas e meninos, de mulheres e jovens, como Madeleine MacCann, esperam que alguém desate o nó de sombras e as devolva à vida.
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