O CLAI nunca se fechou ao diálogo, diz Felipe Adolf
QUITO, 6 de março (ALC) - O Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI) nunca se fechou ao diálogo, mas também não confundiu o pessoal com o institucional, assinalou o primeiro vice-presidente do organismo ecumênico regional, pastor luterano Felipe Adolf, reagindo a um artigo do teólogo batista colombiano, Harold Segura, publicado em Lupa Protestante, da Espanha. Segura é responsável pelas Relações Eclesiásticas da Visão Mundial na América Latina.
Em artigo intitulado "Diferentes, sim. Distantes também?", Segura refere-se à recente renúncia do secretário-geral e de outros membros do secretariado do CLAI. Ele atribuiu o fato a uma "profunda discrepância entre duas formas - ambas respeitáveis - de conceber o ecumenismo", e não somente a diferenças "de ordem gerencial e administrativa".
Na resposta ao artigo do teólogo batista, Adolf situa o núcleo do conflito nos aspectos institucionais. "Tinha uma agenda paralela que funcionava a partir da secretaria-geral e da qual não havia informação", lamenta.
Segundo Adolf, na recente reunião na Cidade do Panamá não houve questionamento aos secretários regionais e de programa. O "intenso trabalho dos secretários regionais com as igrejas membros" foi "reconhecido e apreciado pela Junta", assegura.
Em seu artigo, Segura destacou o "papel protagonista" do secretário-geral do CLAI como "gestor de diversas iniciativas intereclesiásticas e interinstitucionais". Ele sugeriu que a tentativa de estabelecer relações com a Confraternidade Evangélica Latino-Americana (CONELA) teria sido a verdadeira “pedra de escândalo”.
Criado em 1982 para frear a "penetração de idéias esquerdistas" na igreja, CONELA considerou o CLAI e a teologia da libertação como seus inimigos explícitos. Sua constituição estabelecia que igrejas membros do CLAI ou do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) não poderiam pertencer à Confraternidade.
Adolf nega que a pedra de escândalo tenha sido CONELA e atribui o conflito a um "manejo inadequado para estabelecer agendas pessoais que não levaram em conta enormes feridas em certas igrejas, que se quis ignorar como 'coisas do passado', esquecendo-se que o CLAI é formado pelas igrejas que o integram, com suas feridas e alegrias."
Comparando o processo impulsionado pelo secretário-geral a um trem em marcha, Segura se pergunta se a nova Junta Diretiva do CLAI tentará "deter esse trem em pleno vapor (isto no suposto caso de que se creia a única proprietária da locomotiva)? Tentará baixar (pelo menos de seu vagão particular) os novos passageiros, os quais não tinham estado antes de Israel para regressar ao reduzido, embora cômodo vagão da classe exclusiva?"
Adolf responde que só quem conhece pouco do CLAI pode imaginar a Junta Diretiva como uma classe exclusiva e excludente, recordando que o Conselho sempre reconheceu a si mesmo como um caminho, mas não o único, nem o melhor, na busca da unidade.
"Sabemos que são muitos os caminhos que Deus abre para o cumprimento de seus propósitos. Não pretendemos que este seja o único, nem mesmo o melhor. Nosso caminho tem as limitações próprias de toda empresa humana e está longe de abarcar dentro de si a todo o povo de Deus na América Latina," reza um dos parágrafos da constituição do CLAI aludido por Adolf.
Quanto à possibilidade de que alguns "desçam do trem", Adolf reconhece que essa é uma possibilidade. Mas serão aqueles que "confundiram uma pessoa com a instituição, e essas não são precisamente as igrejas e instituições membros, mas os que confundiram o ecumênico como força espiritual com a globalização".
O vice-presidente nega que a Junta Diretiva do Conselho tenha qualquer pretensão de voltar "ao passado" ou de desmontar "programas importantes desses anos".
"O CLAI sempre teve uma comissão teológica. A reunião das famílias confessionais existe há muito tempo, ainda antes da anterior administração, os encontros de seminários são excelentes, bem como outras atividades e iniciativas que não somente seguirão, mas que possivelmente serão fortalecidas. O resto são especulações sem fundamento", afirmou.
A tarefa do CLAI, conclui, é anunciar ao povo latino-americano, com a luz da esperança, a mensagem de salvação, justiça e paz que, por amor de seu Reino, cristãos são chamados a viver e proclamar, e isso o Conselho deve fazer "deixando para trás toda contenda e vangloria".
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