Esperança, força cristã para além da morte
Por: José do Egito
Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta; A qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até ao interior do véu, Onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque. (Hb 6. 18 a 20)
A teologia cristã possui dentro de seus ensinamentos, a doutrina das virtudes teologais, as quais são três: fé, esperança e o amor. (I Cor 13,13) Dentre estas três, falaremos sobre a Esperança cristã, sua importância e aplicação na vida cristã individual, comunitária e no mundo. A esperança cristã, é simbolizada por uma ancora, o que lhe dá um caráter de segunça. É por meio da Esperança, que temos a certeza da razão de ser e existir da humanidade, a esperança presa em nosso ser, funciona como ancora que liga nossas almas a Cristo, nos fazendo acreditar que não somos obra do acaso, vindos do nada e para lá retornando. Graças a esperança infundida em nós, por meio da fé, temos consciência de que a vida humana não termina no vazio da morte. Esta esperança, baseia-se nos fundamentos inabalaveis da fé cristã, encarnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo, e, é com base nestes alicerces que a esperança nos acompanha, impusionando-nos na caminhada em direção ao futuro da nova humanidade que se prolongará na eternidade.
Embora a esperança cristã, se mova com base na obra realizada por Cristo há dois mil anos e se firme sobre promessas escatológicas, tais promessas não podem levar o cristão a viver na espectativa de coisas futuras relegadas a eternidade. A esperança que brota de nossa fé, deve nos tornar agentes de transformação, funcionando como força motriz, que move o individuo na transformação do mundo presente, como defende o teólogo Jürgen Moltmann, “Precisamos de fé, esperança e amor; mas destaco que é necessário aplicar a esperança não somente na eternidade, mas também exercitá-la para que cause efeitos nos dias de hoje” . Dentro desta proposta de Moltmann, relaciono a seguir algumas situações de morte, e pessoas que movidos pela fé e esperança de uma vida dignamente justa, entraram para História, trazendo a este mundo fleches da justiça que se fará plena na eternidade.
1 - Mahatma Gandhi. (Nova Déli, 2 de Outubro de 1869 — Nova Déli, 30 de Janeiro de 1948)
Embora, a esperança seja uma das virtudes teologais que faça parte do patrimônio da fé cristã, penso que ela transpõe as barreiras religiosas, sendo encontrada também em indivíduos de outras religiões. O Líder político e religioso hindu, Mohandas Karamchand Gandhi, o Mahatma (Grande Alma), (nascido em Catiavar, Bombaim, em 2 de Outubro de 1869 e assassinado em Nova Déli, 30 de Janeiro de 1948) , é para mim um exemplo de que a esperança transcende as fronteiras do cristianismo.
Gandhi ansiava por justiça e liberdade, para si e seu povo, este desejo, fez com que se insurgisse contra a exploração inglesa, sonhando com um estado indiano. Em sua luta por liberdade, fez uso da filosofia da não violência “ahimsa” como um meio de revolução, onde aplicava a “Satyagraha”, ou desobediência civil. Foi sua esperança que o manteve livre, mesmo estando detrás das grades das prisões, para onde fora tantas vezes, por ousar sonhar e lutar por liberdade e justiça. Sua experiência com a prisão, o fez refletir e dizer: “A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.”
A esperança impregnada em sua alma e manifesta em seus atos e palavras, venceu o medo e a opressão, inspirando outros a também acreditarem, pois tirando força da não violência o povo hindu liderados por Gandhi, finalmente em 1947, vira a Inglaterra conceder-lhes independência.
2 - Rosa Parks. (Tuskegee, 4 de fevereiro de 1913 – Detroit, 24 de outubro de 2005)
A esperança faz com que pessoas se cansem das injustiças, lutando contra elas, pondo fim a paradigmas e preconceitos. Ela é um sentimento virtuoso que leva a ação, oposição e resistência a opressão, a exemplo da costureira afro-americana Rosa Parks, membro da Igreja Metodista Africana:
“No dia 1º de dezembro de 1955 ela estava em um ônibus na cidade de Montgomery, Alabama, quando um homem branco exigiu que ela se retirasse do banco onde estava para ele poder se acomodar. [...] Rosa se recusou a sair, desafiando as regras que exigiam que pessoas negras se sujeitassem a abrir mão de seus lugares no transporte público para brancas. Com este ato, Rosa foi presa e multada em US$ 14. [...] Nesse ato de dignidade e coragem, Rosa Parks trouxe à tona a vergonha da segregação racial nos EUA e, junto com isso, acendeu a chama no coração do maior e último grande profeta de Deus do século XX: Martin Luther King. ”
3 - Martin Luther King Jr. (15 de janeiro de 1929, Atlanta, Geórgia – 4 de abril de 1968, Memphis, Tennessee)
Gandhi e sua forma de lutar serviram de inspiração a outro homem cheio de fé, nascido em 15 de janeiro de 1929 em Atlanta na Geórgia, filho primogênito de uma família de negros norte-americanos de classe média, a partir do gesto de rebeldia de Rosa Parks, ele entrou em cena, para não mais sair da História. Pois, foi a atitude de desobediência e conseqüente prisão, de Rosa, que fez efervescer a esperança dos negros em todo o EUA, fazendo com que no Alabama um jovem pastor batista neto de escravo se levantasse movido pela esperança de levantar outros. E o levante aconteceu! Pois, em 28 de agosto de 1963, mais de 250.000 mil esperançosos se reuniram na Marcha sobre Washington, clamando por Trabalho e Liberdade. A esperança que movia estes cristãos, na luta pelos direitos civis dos negros norte-americanos se materializou, ganhando som poético e tom profético nas palavras do celebre discurso: "I Have a Dream" “Eu tenho um sonho”.
Penso que, este discurso bem que poderia ter como título: "I have a Hope" “Eu tenho uma Esperança”.
Acredito que, sonhos e esperança se fundem, alimentando um ao outro e dando força a quem sonha e espera. Espera, porém não parado na inércia, mas sim agindo sob o mover da graça que em seu coração gerou a fé, alimento de sua esperança. Moltmann afirma que: Quando você, em situações de coragem, agarra-se à esperança, as correntes começam a doer, mas a dor é neste caso um sinal de vida. A resignação é, entretanto, um sinal de morte.
Só sonha quem possui esperança e só possui esperança quem é capaz de sonhar, e quem tem esperança, acredita no sonho e luta para realizá-lo, e desta luta vem à libertação. Esperança, que não leva a luta pela realização do que se espera, não é esperança cristã, antes mero devaneio. A esperança de Luther King, o fazia sonhar e seus sonhos e sua fé o levavam a lutar. Possuindo e possuído pela fé, esperança e amor, o pastor batista de etnia negra, Martin Luther King Jr, diante de mais de 250.000 pessoas, negras e brancas, católicas e protestantes, bradou:
“Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. ”
Fora a esperança em dias melhores que, levou Rosa Park e Martin Luther King a sonharem e lutarem contra a opressão no tempo deles. A pedra de esperança, a qual Luther King cortou da montanha do desespero por meio de sua fé militante e confiança renitente, cresceu, crescera tornando-se maior do que a montanha da segregação racial.
Ela cresceu por que, outros esperançosos acreditaram num sonho profético, que prognosticou o que nós contemplamos no ocaso da primeira década do século XXI. Testemunhamos hoje, o concretizar de uma esperança afro-americana, pois um homem negro, fruto da união de uma mulher branca norte - americana e um negro queniano, surge no cenário político mundial, entrando no palco da História, sendo esperado e aclamado quase como a um messias.
Um messias que, surge em um momento no qual o mundo enfrenta um cenário apocalíptico, imerso em crises financeiras global, desemprego em massa, ameaças terroristas, guerras e ocupações militares no Oriente. Em meio a tudo isto, diante de todos os desafios lhe propostos, cheio de esperança, contemplando um país formado por brancos, negros e latinos, judeus, árabes e mulçumanos, protestantes e católicos, teístas, ateístas e agnósticos, liberais e fundamentalistas, moderados, progressistas e conservadores, homo e heterossexuais. Diante destas multiformes maneiras de ser, crer, viver e se expressar, ele diz: “Yes We Can,” “Sim Nós podemos,”. Com esta afirmação de fé, em Deus, em si mesmo, em seu país e nas nações, esse homem se torna a esperança de paz e prosperidade, não só do povo anglo e afro-americano, mas também de todo o mundo.
Sim a pedra de esperança que King cortou da montanha do desespero, a partir do protesto de Rosa Parks em Montgomery, cresceu atingindo as alturas, e hoje, o mundo inteiro vê seu apogeu na eleição de Barack Hussein Obama, o primeiro negro norte-americano a chegar à presidência de um país majoritariamente anglo-saxão.
4 – Zumbi dos Palmares (Alagoas, 1655 — 20 de novembro de 1695)
Inspirados pelos ideais de liberdade de Zumbi dos Palmares, a esperança penetrou no coração dos negros brasileiros, fazendo-os sonharem e lutarem por liberdade. Lutarem até a morte, na defesa do que foi considerada a “Tróia Negra”, O quilombo de Palmares. O sonho de Palmares passou a se concretizar no inicio do século XVII, localizado na região da Serra da Barriga – Alagoas, suportando diversos ataques, “no mínimo 16 expedições”.
Palmares frutificou-se da esperança dos escravos brasileiros e seu líder Zumbi dos Palmares. Palmares, era na mente de quem tinha esperança de liberdade, a nova Jerusalém afro-brasileira, que desceu dos céus, aonde já não havia mais a dor causada pelos açoites e nem o pranto provocado pelo cativeiro e obstrução do desejo de ser livre. Era a Nova Jerusalém, não por que Zumbi seria como Deus para os negros, mas por que em Palmares seus refugiados aspiravam viver em meio à justiça e a paz.
Palmares caiu, mas o sonho não morrera e tampouco a esperança se perdeu, pois, tem sido ela que hoje 120 anos pós, assinatura da Lei Áurea, leva os afro-brasileiros a se unirem na luta contra o racismo e exclusão social, herdados dos quase quatro séculos de escravidão a qual seus ancestrais foram submetidos.
É a esperança em dias melhores, para si e as futuras gerações que faz com que, jovens negros abracem as cotas universitárias, para ingressarem nas Universidades e uma vez lá, dão o melhor de si. É esperança que faz com que hoje, um jovem afro-descendente tenha orgulho de sua etnia e Cultura.
É a esperança que faz com que, afro-descendentes cristãos se reúnam em diversos grupos e movimentos de cunho libertacionistas, políticos e religiosos, tais como: (Cenacora) Comissão Ecumênica de Combate ao Racismo, (MNE) Movimento Negro Evangélico –, (ANNEB) Aliança de Negras e Negros Evangélica do Brasil.... O sonho de Palmares sobrevive em cada negro e negra cristã, que movidos pela fé, cheios de esperança, engajados, somando-se a brancos e indígenas lutam pela superação do enorme fosso social existente entre estas etnias.
5 – Povo judeu, esperança para além de Auschwitz.
Foi a esperança que, animou o povo judeu, sobrevivente ao holocausto nazista, acontecimento tão macabro na história da humanidade a ponto de levar Emanuel Lévinas a fazer uma pergunta que, certamente ecoava na mente de muitos judeus e cristãos: “Como falar de Deus depois de Auschwitz?” Diante desta intrigante questão, a qual desafia a fé em Deus e a esperança no porvir, que Moltmann respondeu:
Como se pode falar de Deus depois de Auschwitz?[...] De que então é para falar depois de Auschwitz, se não de Deus?! [...] Este não-mais-poder-falar-de-Deus e contudo-ter-que-falar-de-Deus, em face da experiência esmagante do peso da culpa na minha geração, é possivelmente a raiz de meus esforços teológicos, pois o pensar sobre Deus sempre de novo me leva de volta àquela aporia .
E preciso falar de Deus, mesmo quando as tragédias naturais, como os tsunamis e as maldades humanas, como o Holocausto judeu, querem nos sufocar a fé, matar nossas esperanças fazendo esfriar em nós o amor. Neste momento é preciso trazer a memória, razões que nos faça ter esperanças. E o que nós trás esperanças, é que Cristo venceu a morte, e todo aquele que nele crê, ainda que morra viverá.
É preciso falar de Deus, não para tentar justificá-lo diante da existência do mal, que faz com que muitos descreiam na sua existência. Precisamos falar e mostrar Deus ao mundo por meio de nossas palavras e atos, manifestando sua bondade, para que fique evidenciado de quanto mal é capaz a criatura quando tenta viver alienado de seu Criador.
Os judeus, mesmo antes da ascensão de Adolf Hitler, já eram perseguidos, sendo vitimas das cruzadas cristãs, de saques, torturas, batismos forçados, hostilizados e mortos, acusados de serem responsáveis por quaisquer acontecimentos. Raimond P. Scheiindlim, em seu livro, A História Ilustrada do Povo Judeu, nos dá uma idéia da dimensão do sofrimento e opressão a que este povo foi submetido ao longo da História. Na Idade Média, além da má compreensão em torno de sua fé, que os tornavam vitimas de todo tipo de atrocidades advindas das superstições e crendices da parte de muitos cristãos, em 1348 e 1351 os judeus chegaram a ser responsabilizados até mesmo pela Peste Negra. Segundo Raimond: “circulou o rumor de que os judeus haviam causado a peste, envenenando os poços d água potável. Uma a uma, as comunidades judaicas, especialmente na Europa Central foram reunidas e, aí destruídas ou expulsas. ” Foram tantas as perseguições aplicadas a esse povo, por religiosos, regimes políticos e ideológicos que os fizeram vitimas de inumeráveis pogroms, mas em meio a tudo isto a esperança de que um dia se reuniriam em Jerusalém, manteve a muitos vivos.
Naquela época, assim, como ainda hoje, muitas famílias judaicas dispersas, a cada encerramento do Yom kipur (dia do perdão festa que ocorre 10 dias após o Rosh Hashaná festa do ano novo judaico) manifestam suas esperanças orando “sete vezes “o senhor é nosso Deus”. O Shofar soa pela última vez e a congregação proclama: “No ano que vem em Jerusalém”. Esta é parte da esperança de Israel, reunir se em Jerusalém.
Os Judeus, hoje, possuem seu Estado próprio, o Teólogo Anglicano inglês, John Stott, falando sobre a esperança cristã, a partir da vida concedida através da cruz de Cristo, compara a criação do Estado de Israel a um evento escatológico, assim ele diz: “os mortos de Auschwitz se levantaram do pó”, e sua ressurreição é vista na volta de Israel à pátria. ” Que outra coisa, além da Esperança, poderia ter mantido milhares de judeus vivos até que pudessem ver realizada a esperança de seus antepassados mortos nos campos de concentração.
Todavia, assim como aconteceu com Jó em meio a seus sofrimentos, a esperança judaica foi semeada em meio às lembranças dos horrores do holocausto, fazendo brotar a idéia do movimento sionista, sonhando com a criação do Estado de Israel, o qual finalmente floresceu e se frutificou em 1948.
O povo Judeu aprendeu desde cedo que, a esperança é algo possibilitador e seqüêncial da vida, ela dá forças para que se lute por um amanha melhor, mesmo em situações estremas diante das quais só o lembrar dos sofrimentos vividos faz com que a alma se abata dentro do individuo. A fé judaica – cristã, nos ensina, diante dos reveses grandes ou pequenos da vida a: “trazermos a memória aquilo que nos pode dar esperança.”
A ESPERANÇA FINAL A LUZ DO ANTIGO TESTAMENTO.
A Bíblia Sagrada narra à história de Jó, um homem que experimentou o sofrimento nas suas mais diversas formas: no seu corpo físico, ser abandonado por sua esposa, (a qual repudiava seu hálito, e lhe desejava a morte), a morte de seus sete filhos e três filhas, a perca dos bens acumulados durante toda uma vida. O que sempre sobrava após cada desgraça, era sempre alguém que escapava com vida, a fim de dar a Jó as más novas. Jó, apesar de ser um homem, integro e reto, temente a Deus, e que se desviava do mal, no apogeu de sua dor, teve ainda que suportar seus três “amigos”, Elifaz, Bildade e Sofar, os quais o acusavam de impiedade. Em meio a seus infortúnios, Jo, chega dizer-se privado do alento principal que possibilita a alguém enfrentar, suportar e até mesmo vencer os dramas da vida humana, a esperança.
No auge de seu sofrimento, em meio ao pó e a cinza, coberto de chagas purulentas, que lhe comichavam todo o corpo, e desprovido de unhas para ao menos se aliviar coçando-se, raspando-se com um caco de telha, o fustigado Jó, causticado pelo sol do dia e petrificado pelo frio do sereno da noite, desabafa contra Deus: “Ele me quebrou por todos os lados e eu vou; ele arrancou a minha esperança como uma árvore.” (Jó 19.10). Apesar desta declaração, vejo na história de Jo manifestar - se as virtudes teologais, sobre tudo a primeira e a segunda delas, a fé e a esperança. A fé é o elemento que possibilitou a ele suportar os infortúnios que se lhe abatera.
Teólogos defendem que, a ressurreição do corpo é uma doutrina encontrada com mais clareza somente no Novo Testamento, o que, Walter Klaiber e Manfred Marquardt confirmam ao afirmarem: “Desta esperança se começa a falar na parte final da história da revelação vétero-testamentária, onde tem suas raízes. , a Bíblia de Jerusalém em sua nota de rodapé no capítulo 19. 25, 26, diz que nestas palavras: “Eu sei que meu Defensor está vivo e que no fim se levantará sobre o pó: depois do meu despertar, levantar-me-á junto dele, e em minha carne verei a Deus”. o infortunado e angustiado homem da terra de Hus: “preludia a revelação explicita da ressurreição da carne.
Eu, porém penso que, a fé de Jó depositada em Deus, naquele momento angustiante, o fez manifestar a esperança de que o Doador da vida não o abandonaria no sofrimento ultimo que poderia levá-lo a morte, antes, lhe traria a vida física num gesto de justiça demonstrando que no tribunal de Deus, a morte não tem a palavra final.
Ainda sobre a não revelação explicita sobre a doutrina da ressurreição dos mortos em todo o Antigo Testamento, Walter Klaiber e Manfred Marquardt afirmam que:
“Em um lugar, pelo menos, do Antigo Testamento, a esperança na ressurreição é expressamente afirmada e, ao mesmo tempo, ligada à certeza de que não só os que ativeram a Deus viveram em eterna comunhão com ele, mas também que aqueles que pelo seu comportamento na vida se separam de Deus, deverão suportar o sofrimento da eterna separação de Deus (Dn 12.1s)”[...] Esta esperança final (escatológica) é adotada pelo judaísmo antigo e no Novo Testamento.
A ESPERANÇA FINAL A LUZ DO NOVO TESTAMENTO.
Na Tradição Cristã, a esperança é a virtude teologal pela qual o homem aspira alcançar a felicidade das coisas futuras manifestas plenamente no Reino dos Céus, onde a humanidade redimida desfrutará da vida eterna. O cristianismo pode ser classificado como a religião da esperança. Sua mensagem principal fundamenta-se na crença da vitória da vida sobre a morte. Partindo da fé em que o maior temor do ser humano foi vencido.
Para João Wesley: A Segunda marca espiritual daqueles que são nascidos de Deus, é a esperança. Em seu sermão, “As marcas do novo nascimento” ele explica em que implica esta esperança:
Essa esperança implica, Primeiro, no testemunho de nosso próprio espírito ou consciência, de que nós caminhamos "em simplicidade e sinceridade divina", Segundo, no testemunho do Espírito de Deus, "testemunhando com", ou para "nosso espírito, que nós somos os filhos de Deus", "e, se filhos, então seus herdeiros; herdeiros de Deus, e co-herdeiros com Cristo” .
É esta esperança, baseada no testemunho interior de que se é filho de Deus, que deve impulsionar o cristão a buscar o Reino de Deus e sua Justiça, trabalhando na terra para que ocorra aquilo que se pede nA oração do Pai-Nosso: “Venha a nós o teu Reino” Seja feita tua vontade assim na terra como nos Céus. A fé alimenta a esperança para além da morte física, e, é exatamente isto que o cristianismo tem como centro de sua doutrina escatológica, esperança de que a vida triunfa sobre a morte, penetrando a eternidade. Esta esperança se baseia no conhecimento de Cristo, pela fé em sua obra a favor da humanidade. O teólogo alemão Jürgen Moltmann, conhecido como “Doutor da Esperança” assim fala a respeito deste tema sobre o qual tem se dedicado e escrito diversos livros:
“Sem o conhecimento de Cristo pela fé, a esperança se torna uma utopia que paira em pleno ar; sem a esperança, entretanto, a fé decai, torna-se fé pequena e finalmente morta. Por meio da fé, o homem entra no caminho da verdadeira vida, não somente a esperança o conserva neste caminho. Desta forma a fé em Cristo transforma a esperança em confiança e certeza; e a esperança torna a fé em Cristo ampla e lhe dá vida ”.
A esperança cristã final é a ressurreição do corpo, o Apóstolo Paulo, assim declara sobre esta pedra fundamental da fé cristã: “E tenho em Deus a esperança, que também eles acalentam, de que há de acontecer a ressurreição, tanto de justos como de injustos” (Atos 25. 15). A Esperança é a virtude teologal que sinaliza não para o fim de todas as coisas, pois ela se fundamenta na fé de que a morte foi vencida e que eternamente perdeu seu lugar para a vida manifesta por meio de Cristo Jesus: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundancia” (Jo 10.10).
Paulo pode ser considerado o pregador da Esperança final e eterna, final, pois é a esperança do homem em relação a seu ultimo estado de vida, eterna por que este estado representa a entrada na eternidade. Ele tem plena convicção de que tal fato é assegurado pela habitação do Espírito Santo no coração de cada crente, por isto afirma em Romanos 8. 11. Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. (ARC 1969). Walter Klaiber e Manfred Marquardt, em seu livro, Viver a Graça de Deus, um Compendio da Teologia metodista, afirmam que:
“Esta passagem nos leva até o fundo do aspecto integral da esperança cristã. A experiência do poder criador do Espírito – experiência que se apoderou da vida de cada cristão – suscita e certifica neles a esperança de que este poder é mais forte de que a tendência e a inclinação à morte do corpo humano [...] Tal é o fundamento para a esperança na ressurreição do corpo, que está no centro da mensagem neo-testamentária sobre a esperança dos cristãos”.
A esperança cristã que esta para além da morte, dentre outras se baseia nas seguintes passagens do Evangelho de João, que atestam sobre o Doador da vida (Jo 3, 16.36; 5.40; 6, 33. 35. 48. 51 14, 6; 20, 31). Ela se fundamenta na vida em plenitude que Jesus veio trazer, vida a qual se inicia neste mundo se prolongando no Reino Eterno de Cristo, onde todas as coisas finalmente terão atingido sua plenitude, dentro do propósito salvífico e restaurador de Deus. Assim, o cerne da esperança cristã é a expectativa de ser recebido na plena e eterna comunhão com Deus.
A esperança cristã perpassa este mundo, ela fortalece o homem, preparando-o para enfrentar os desafios desta vida, porém, transcende a vida presente, apontando para a transformação de todas as coisas transitórias. Pois, o Reino de Deus manifestado na encarnação, vida, morte e ressurreição de Cristo, enfim atingirá seu auge em um novo céu e uma nova terra onde habita a justiça. Em “uma nova ordem da natureza, na qual todas as criaturas de Deus viverão em paz e harmonia, libertadas dos vínculos da transitoriedade.” Assim afirma Jürgen Moltmann, o “Teólogo da Esperança”, “quando morremos, sabemos que do outro lado da margem do rio está Jesus” e “ele nos espera para a festa da vida eterna” . Isto é a consumação da esperança cristã.
CONCLUSÃO.
A esperança cristã é o ingrediente que dá sabor e sentido a vida, ela firmada na fé em Cristo, é o leme que norteia neste mundo homens e mulheres que um dia tiveram uma experiência de nova vida com aquele que esteve morto, mas ressuscitou. Ao ressuscitar Jesus Cristo, tornou-se o primogênito entre os milhares de milhares que no último dia emergirão de seus túmulos ao som da trombeta que anuncia o inicio da nova e eterna Ordem Mundial.
Temos esta esperança como âncora de nossas almas, nos ligando a Cristo Ressuscitado. Nossa fé ensina-nos que, não somos cristãos somente da sexta-feira da paixão, mas do advento, quando Deus de uma vez por todas entrou na história humana, por meio de seu Filho Jesus Cristo, o Verbo encarnado. Somos cristãos da manhã pascal, quando a pedra rolou, pois a morte na cruz, não conseguiu deter o autor da vida.
Nossa esperança é de que, chegará o tempo, quando o domingo pascal, não mais, terá duração de um dia, como fora dois milênios atrás, pois o fator tempo será suspenso, assim como a transitoriedade de toda a criação, a qual passará a ser nova e eterna. Nesse novo e eterno capítulo da história humana, o domingo pascal marcado pela ressurreição de Cristo, deixará de ser dia finito, se convertendo em eternidade, e dentro desta nova realidade eterna, assim como ocorrera à ressurreição de Cristo, acontecerá a de todos/as que nele creram, perseveraram e morreram. Isto para mim é a consumação da esperança cristã.
Contudo, não podemos ser cristãos que depositam suas esperanças somente no futuro do Reino que ainda não veio em sua plenitude, mas também no Reino já presentemente manifesto em Cristo Jesus, por meio de quem estamos nele inserido. Devemos ser cristãos, que movidos pela fé na eternidade, se colocam a caminho do Reino pelas trilhas do mundo semeando a esperança. Construindo um mundo melhor, lutando pela justiça, contra toda forma de injustiça e exclusão, orando para que a vontade de Deus se faça na terra, assim, como é feita no céu. E mesmo diante das situações de desesperanças, que sinalizam para a morte, caminhemos cantando, poetizando, escrevendo, apregoando e acima de tudo trabalhando com e pela esperança a qual sinaliza para a vida.
Oremos: Creio no Espírito Santo; na santa igreja de Cristo; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém.
Cantemos;
Cristo já ressuscitou;
aleluia!Sobre a morte triunfou; Aleluia!
Tudo consumado está: Aleluia!
Salvação de graça dá: aleluia!
Clamemos:
MARANATHÁ! ORA VEM SENHOR JESUS, AMÉM!
Pr. José do Carmo da Silva. (Zé do Egito)
Igreja Metodista em Fátima do Sul - MS.
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