25 julho, 2006

Quem ganhou a disputa no Concílio Geral?

Por: Cláudio Ribeiro e Magali Cunha

Naquele 12 de julho, havíamos combinado de celebrar os nossos 20 anos de casamento. Boa oportunidade também para dar um balanço geral na vida, pensar sobre o passado e o futuro; lembrar das conquistas e das perdas. Estávamos felizes! No mesmo dia, a notícia que no Concílio Geral de nossa Igreja Metodista, um grupo do chamado movimento de avivamento foi bem sucedido na articulação política para as eleições episcopais, embora sem critérios éticos claros. Dias depois, esse mesmo grupo, de forma agressiva - segundo relatos de pessoas ponderadas da igreja presentes no plenário -, impediu a proposta de reflexão e maior diálogo sobre o relacionamento com católicos. Sair do CONIC, para nós, representa claramente uma negação do Evangelho por parte da igreja como um todo. Celebramos a data familiar com intensa alegria e também agradecemos a Deus pela Igreja Metodista, pois foi nesse contexto, ainda adolescentes, que nos conhecemos e que aprendemos o amor de Deus e como ele elimina todo o rancor e nos faz aceitar as pessoas de outras confissões, como dignas de salvação e graça diante de Deus, muitas vezes até mais do que nós mesmos. Todavia, ficamos envergonhados e entristecidos pelas atitudes de tais lideranças e pela iniqüidade que percebemos no meio dela.

Depois desses dias, estamos nos dedicando a tentar compreender melhor o processo do Concílio. Obviamente, aderindo e nos alimentando das tantas contribuições em curso. O que ocorreu não deve ser visto de forma isolada, mas como parte de um processo de deterioração dos valores éticos e sociais. Por exemplo, na sociedade brasileira, em especial nos grandes centros, a violência tem aumentado. Nossas igrejas assimilam essa cultura perversa da violência e da intolerância e tornam isso visível no "combate" à Igreja Católica. Outro exemplo: na política, a cada dia temos notícias de mais corrupção. Recentemente, foi divulgado que 19 entre 57 deputados (um terço, portanto) envolvidos na "máfia dos sanguessugas" são evangélicos. Este é o tipo de fruto do crescimento dos evangélicos no País; e "pelos frutos os conhecereis". Na Igreja Metodista, também assistimos a esta perda da ética. A política na esfera eclesiástica sempre existiu. Nós sempre a exercemos e continuamos a exercer. Mas, tirar bispos para colocar outros para favorecimento de grupos, sem que haja motivo moral forte, já fere frontalmente a ética cristã. É fato que isso não foi inédito. No Concílio Geral de 1997, por exemplo, isso também aconteceu.

Cremos que os resultados do Concílio Geral e os tais 19 deputados evangélicos sem ética têm uma relação muito mais direta do que imaginamos. Bebem da mesma fonte religiosa. E é ela que está contribuindo para o enfraquecimento do metodismo no Brasil. É como já nos referimos outras vezes: 'a Igreja Metodista cresce (ainda que de forma inexpressiva, é fato!), mas o metodismo diminui'.

O que ocorreu no Concílio Geral agora foi um atentado contra o avivamento espiritual, quase que a morte do movimento de avivamento da igreja. Estamos aguardando a manifestação de pessoas éticas identificadas com esse movimento para que se levantem contra esse quadro. A espiritualidade sem ética é como o címbalo que retine.

Nas conversas que temos tido até agora com amigos/as, ex-alunos/as e irmãos e irmãs das igrejas por onde servimos nestas mais de duas décadas, estamos sempre buscando esperança. Será desatino, ingenuidade ou utopismo imaginar que o estrago feito agora pode ter como conseqüência o reavivar dos ideais e das práticas ecumênicas no interior de nossa igreja? Será que os "que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão"? Será que se reconhecermos a fraqueza ela se tornará a nossa força? [Como aconteceu com Paulo, o apóstolo, quando reprimido por lideranças da Igreja da época] É preciso lembrar da mão de Deus em nossas vidas, trazendo esperança e paz, a despeito de lideranças eclesiásticas e deputados. Ainda há tempo de construir uma igreja e um país melhor para nós e especialmente para o Guilherme (que já está com cinco anos!) e para a 'turminha' dele espalhada pelo Brasil.

1 Comments:

At julho 25, 2006, Blogger lisieux said...

Professores e líderes espirituais queridos, os quais respeito e amo. Corroboro integralmente o texto de vocês e sonho, como vocês, com uma igreja avivada e ética, com um país justo e ético, com uma liderança inteligente e ética, para os meus filhos.
Nós, ecumênicos por convicção (e conversão!) não deixaremos de sê-lo nunca e temos que nos aproveitar desse momento de trevas, a fim de alimentarmo-nos de nossos sonhos e de nos vestirmos de esperança, na certeza de que o SENHOR DA IGREJA seja maior que tudo isso.
Meu carinho, sempre
lisieux

 

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