31 agosto, 2006

Moderador do CMI destaca crescente pluralismo religioso na América Latina

GENEBRA, 30 de agosto (ALC) - O crescimento evangélico e o redescobrimento de religiões aborígenes estão modificando surpreendentemente o panorama religioso latino-americano e tudo indica que a região apresentará, nos próximos anos, um espectro ainda mais colorido de pluralidade religiosa, admitiu, hoje, o moderador do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), pastor Walter Altmann.

"A América Latina foi considerada, no último século, um continente homogêneo em nível religioso, por ser majoritariamente católico. Mas hoje a região caracteriza-se por sua intensa mobilidade e crescente pluralismo no campo religioso", disse Altmann perante os 150 membros do Comitê Central, que se reúne nessa cidade, de 30 de agosto a 6 de setembro.

Citando o caso do Brasil, o líder ecumênico disse que uma comparação entre os censos de 1991 e 2000 revelam que em apenas nove anos a porcentagem de católicos caiu de 83% para 73,5%, enquanto os "evangélicos", principalmente pentecostais e de igrejas independentes, aumentaram sua membresia de 9% para15% da população do país.

Por isso não é estranho, agregou Altmann, primeiro latino-americano a ocupar o cargo de moderador do CMI, que “se registre uma competição hostil no campo religioso, freqüentemente com agressivas formas de missão e evangelização".

Entre os evangélicos latino-americanos existe um forte sentimento e um discurso anti-católico, e esse clima estendeu-se a varias igrejas "tradicionais e históricas", disse Altmann referindo-se ao caso da Igreja Metodista do Brasil, que em seu último concílio geral decidiu retirar-se de organismos ecumênicos que tenham a participação da Igreja Católica e de grupos não-cristãos.

Como parte do pluralismo religioso, o moderador do CMI destacou o redescobrimento das religiões indígenas e da espiritualidade afro-descendente, expressões religiosas que foram praticadas clandestinamente no passado, sem conhecimento da sociedade em geral, para evitar perseguições ou discriminação por motivos religiosos.

Esse processo de redescobrimento vem ocorrendo de maneira silenciosa, mas tem profundas implicações para o diálogo ecumênico, apontou Altmann.

A porcentagem de pessoas "sem religião" também aumentou no Brasil entre 1991 e 2000, passando de 4,8% para 7,3% da população, principalmente nas cidades e entre pessoas de nível elevado de educação, e entre os jovens. Segundo o teólogo brasileiro, esses dados devem desafiar as igrejas em sua reflexão e ação pastoral.

Presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e ex-presidente do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), Altmann afirmou que não há sinais que indiquem que a tendência ao pluralismo religioso possa ser revertida nos próximos anos. Tudo indica, antes, que a América Latina terá um rosto mais plural do que hoje, assinalou.

Esse pluralismo anda paralelo a tendências similares que se refletem na fragmentação pós-moderna da sociedade, de um lado, e o "mercado religioso" de uma economia globalizada, de outro.

No contexto do pluralismo religioso, Altmann defendeu o fortalecimento e a busca de novas formas de diálogo ecumênico, a cooperação entre as igrejas, assim como entre as diferentes expressões religiosas.

Em diálogo com a imprensa, Altmann expressou seu desacordo com aqueles que sustentam que atualmente se registra um esfriamento, um "inverno", no movimento ecumênico, embora admitiu que possa existir a tentação de algumas igrejas de levantar muros que impeçam o diálogo e a cooperação entre elas.

O líder religioso desafiou as igrejas a assumirem o trabalho ecumênico com paixão. "O ecumenismo não é algo opcional, mas um imperativo bíblico e faz parte da essência da fé cristã”, concluiu.

Fernando Oshige
Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)