20 junho, 2007

O que está acontecendo com a igreja?

* André Lotfi Maximiano

“O que está acontecendo com a Igreja Metodista hoje, meu filho?”
Minha mãe me questionou a respeito de toda a turbulência e mudança que vivemos no meio evangélico e principalmente metodista. Realmente sei o que minha mãe está sentindo. Apesar de manter a fé, me afastei um pouco da Igreja pois estava me sentindo sufocado pela instituição.
Percebi que só poderia fazer diferença mesmo na Igreja local, e isso se a igreja local desse espaço para trabalhos que não sejam baseados em música. Eu acho que a Igreja metodista no Brasil está vivendo um momento de extrema confusão e falta de identidade seja pela quantidade de fiéis e clara necessidade expansionista ou seja pelos fundamentos fracos e pouco enraizados na comunidade local. Passa-se a participar de um culto às estrelas e às multidões e se esquece das comunidades locais, de regar as plantas, de ajudar nos sopões e de ensinar a palavra de Deus.

Nilton Bonder escreveu que nós temos a necessidade constante de estar entretidos, de nos sentir ocupados, como se estivéssemos fugindo de alguma coisa, como se precisássemos ocupar a nossa mente e não pensar em mudar a realidade que vivemos. Isso é muito presente na sociedade e nos indivíduos e se reflete diretamente na Igreja e sua atuação. Parece que temos que estar sempre cantando, louvando, e buscando a próxima explosão de fogos de artifício para preencher nossa vida, numa histeria coletiva.
Fico triste em ver que a Igreja Metodista está se afastando do metodismo no Brasil. Parece que estamos sem identidade e que fazemos, pensamos e atuamos em tudo da mesma forma que todos os outros evangélicos sem lembrar de nossas raízes e sem olhar para o passado.
Sempre me orgulhei de ser metodista. De ter uma identidade, de fazer parte do grupo que pensava diferente, agia diferente e tinha um propósito cristão claro baseado no amor. Hoje, pela vontade de Deus e pelas correntezas da vida, moro em Chicago e tenho congregado na Igreja Metodista Local (United Methodist Church) e tenho que dizer que as coisas são bem diferentes.

A Igreja aqui é extremamente ativa. Participa de projetos de construção de casas, manda adolescentes para evangelizar em regiões pobres dos EUA, dá aulas de inglês para imigrantes, contribui com a prefeitura em eventos eclesiásticos e ecumênicos, e etc., mas em tudo o senso de comunidade e de identidade são presença constante e fortíssimos. É como se todos soubessem de onde vieram e para onde vão, e a identidade cristã e metodista é o que ajuda a sempre apontar a bússola para o norte espiritual.

Tem sido muito bom congregar aqui, pois existe atenção aos detalhes, à comunidade, ao ritual, e às pessoas principalmente. Não me sinto como um número ou mais um “João na multidão” cantando as músicas das rádios evangélicas e chorando com o coração contrito na hora que o grupo de louvor dá a deixa.
Apesar de conservadora, vejo que eles atuam com muito mais foco e resultado nas comunidades ao redor do que a Igreja Metodista no Brasil. Apesar de conservadora, vejo que eles atuam com muito mais foco e resultado nas comunidades ao redor do que a Igreja Metodista no Brasil. É claro que estamos falando de igrejas em economias altamente desenvolvidas (com Igrejas com ar condicionado, carpete e bancos acolchoados) mas a atenção e o senso de comunidade que não temos no Brasil é o que mais me surpreende aqui.

Acho que o meu "wake up call" aconteceu quando fui a um congresso da Igreja Metodista 15 anos atrás e foi feita uma palestra sobre planejamento estratégico da Igreja. Nada errado com fazer planos, mas fiquei boquiaberto e pensei "daqui a pouco vamos estar falando de dividendos, lucratividade e ROI". Esses conceitos são válidos, mas apenas quando olhamos as pessoas como “mercado em potencial”. Fiquei sabendo também que vários grupos de louvor de várias igrejas metodistas no Rio de Janeiro estão gravando CDs e fazendo contratos de distribuição. Realmente o palco, quer dizer o púlpito pode ser usado como arma e como plataforma de distribuição de mercadorias e isso nos distancia cada vez mais do proposito original da fé.

Onde está aquela Igreja engajada que cuida dos seus? Que mantém sua visão no alvo, ou seja aqueles que não tem outro recurso a não ser acreditar? Onde esta aquela igreja que deveria ser não um hospital, mas um oásis de sanidade e amor em contrapartida ao que o mundo acredita hoje? Não sei. Desencantei, mas sei que a instituição é bem diferente do movimento e minha fé está mais forte do que nunca, especialmente por todas as situações que passei na vida e por saber que o nosso único propósito na vida é dar louvor ao nosso criador.

Sempre quis viver uma vida cheia de experiências, por isso nunca disse não a oportunidade nenhuma que passou na minha frente para poder ver o mundo. Por isso cá estou e não sei onde estarei amanhã. Afinal de contas só levamos da vida as experiências e o amor, certo?
No final só o amor importa, nada mais. O amor que é fruto da fé e da nossa visão de mundo, forjada nas comunidades onde crescemos e onde fomos ensinados e educados.
Dou graças a Deus por pessoas como minha mãe, Maria Luiza Lotfi, minha tia Abigail da Cunha Braga, Zélia Constantino e o Rev. Bispo Paulo Ayres, que realmente e diligentemente souberam transmitir o senso de comunidade cristã, de amor fraternal e de responsabilidade em minha vida, me dando ferramentas para poder trilhar o meu próprio caminho segurando a mão de Deus.
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* André Lotfi Maximiano - Chicago - Estados Unidos