19 dezembro, 2007

UM EM CRISTO - Parte 1

(Rev. John Robert Nelson)

Por que tanto interesse hoje pela unidade cristã?
Se o problema da unidade fosse ignorado, a vida seria muito mais fácil para a maior parte dos cristãos em todo o mundo. O fato de que diferenças doutrinárias impedem todos os membros da família de Cristo de receber a Sua Ceia na mesma mesa, não seria causa de angústia de espírito de forma alguma; a competição aberta de igrejas cristãs pregando o mesmo Evangelho da mesma Bíblia na mesma vila para confusão dos mesmos povos não-cristãos, não seria causa de escândalo; cada pequeno grupo de cristãos poderia sentir-se complacente e satisfeito em seu isolacionismo das demais igrejas vizinhas; e cada denominação poderia realizar seu próprio programa de evangelização e de serviço social sem cogitar dos outros. Tudo isto estaria certo, se não fosse por uma cousa: Jesus Cristo quer que sua Igreja seja uma em mente, espírito, vida e testemunho.

O ensino da Bíblia acerca da unidade essencial da Igreja é perfeitamente claro. Ela não nos dá plano pormenorizado para a forma ou para a estrutura da unidade, mas não deixa dúvidas de que a obra de Jesus Cristo foi a de "reunir em um só Corpo os filhos e filhas de Deus que andam dispersos" (João 11.52), e reconciliar todos os que crêem numa só comunidade de amor.
Cristãos não são os únicos que falam de unidade. Mais e mais a palavra é usada na esfera política, como nas Nações Unidas (ONU); como os vários blocos de nações, estados, tribos e regiões formando uma só nação; também os sindicatos falam de unidade e da mesma sorte os comunistas. Centenas de clubes, sociedades, ordens e lojas fazem o mesmo. Além disso, há definidos apelos para a unidade dos aderentes de várias religiões: budistas, xintoístas, hindus e maometanos. Muitos povos hoje falam com crescente fervor da necessidade de união de todas as religiões do mundo. Unidade é palavra popular e universal hoje, mas os povos se encontram desunidos, até mesmo no próprio significado do termo, bem como na sua aplicação.

Os cristãos preservam um significado único e distinto de unidade. Aplica-se à relação comum que têm em Jesus Cristo e à relação mútua de uns para com os outros. Portanto, é palavra essencialmente importante acerca da vida da Igreja. Os cristãos podem muito bem estar desejosos de promover a unidade entre pessoas, grupos e nações para ordem e paz da sociedade humana. Quando, porém, eles trabalham por maior união da humanidade, lutam por um ideal que tem na história, desde há muito, relativamente pouca realidade. Hoje em dia é muito fácil para uma pessoa viajar pelo mundo todo e verificar que pessoas com os mesmos problemas e a mesma fidelidade desejam estar juntas. Mas há qualquer cousa de arbitrário e de artificial mesmo acerca dos mais dignos esforços para conseguir uma união mais íntima entre povos que têm relativamente mui pouco em comum.

Os cristãos do mundo, pelo contrário, têm muitíssimo em comum. O que têm não é somente história comum, ou linguagem, ou ainda limites geográficos comuns, pois tais cousas são temporárias e passageiras, terrenas e efêmeras. A unidade cristã está baseada naquilo que é eterno e divino, a saber, a escolha e chamado por parte de Deus, Todo-Poderoso, de um povo seu; a encarnação do Verbo eterno na pessoa de Jesus Cristo, sua morte e ressurreição, e a dádiva do Espírito Santo. Se os cristãos estivessem unidos somente pela memória de singular mestre religioso e pela lealdade à Bíblia, essa unidade poderia ser real, mas muito frágil. Porém a unidade cristã consiste de uma participação comum nos dons especiais e decisivos do próprio Deus. "Há somente um corpo e um Espírito... numa só esperança... um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos... (Ef 4.4-6).

Quando certo cristão de uma vila da Índia encontra outro de uma fazenda européia, ou citadino japonês, diferenças em linguagem, cultura e cor não são de essencial importância. O que vale realmente é o fato simples e primário de que ele, como os demais, crê no Deus e Pai de Jesus Cristo, professa o mesmo Evangelho de salvação, compartilha o mesmo batismo de água e o idêntico batismo do Espírito Santo. Isso faz com que o indiano, o europeu e o japonês sejam irmãos em sentido ainda mais profundo do que se pertencessem à mesma família e fossem do mesmo sangue. "Eis minha mãe e meus irmãos", disse Jesus. "Qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe" (Mc 3.34-35).

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(Esse texto é parte do primeiro capítulo do livro "UM SÓ SENHOR, UMA SÓ IGREJA", escrito por John Robert Nelson (um cristão metodista dedicado ao Ecumenismo, aos Direitos Civis, ao Ensino e à Bioética) e publicado em português no ano de 1964 pelo Centro Cristão de Literatura da Confederação Evangélica do Brasil e publicado em dezembro de 2007 no site da Igreja Metodista de Vila Isabel, Rio, Brasil).

Veja o texto completo no Site da Igreja Metodista de Vila Isabel

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