05 abril, 2009

PERÍODO PASCAL: duas realidades que nos convidam a uma convivência onde brota a esperança (Bispo Josué Adam Lazier)

Duas realidades são colocadas diante de nós no período da Páscoa: a morte e a ressurreição de Cristo. Duas experiências vividas por Jesus e que nos levam a pensar e refletir sobre a realidade em que vivemos hoje. Vivemos em meio a muitos sinais e ruídos de morte. Para nossa reflexão, vejamos como os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas interpretaram a morte e a ressurreição de Jesus.

A Morte de Cristo
1. Mateus 27.45-56 - Para Mateus, a morte de Jesus causou a ruptura no véu do Templo, que simbolizava a antiga instituição do culto judaico, introduzindo um novo relacionamento com Deus. Os sinais que se seguiram à morte de Jesus, como terremotos e ressurreição de mortos, demonstram que na morte de Jesus já imperava a Vida.

2. Marcos 15.33-41 - Marcos observa que a morte de Jesus é precedida de trevas, culminando com o grito de Jesus: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste”. Com este sinal, o centurião, representando o Império Romano, reconhece que Jesus era Filho de Deus. Ao longo de todo o Evangelho Marcos apresenta afirmações de fé sobre a divindade de Jesus. No final do Evangelho, coloca um representante do Imperador concordando com a filiação divina de Jesus.

3. Lucas 23.44-49 - Lucas observa dois detalhes diferentes, embora também mencione as trevas, o véu rasgando-se e a confissão do centurião: ele vê a multidão voltando arrependida, batendo no perito (v. 48); observa, igualmente, que não são apenas as mulheres que presenciam a cena: todos os seus amigos estão presentes (v.49).

Lucas registra o pedido de Jesus no contexto da crucificação: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). “O pedido que dirige ao Pai mostra até onde vai o seu amor. Revela que e entrega num gesto de perdão” (1).

A ressurreição de Cristo
1. Mateus 28.1-8 - Mateus vê na ressurreição, acompanhada de terremotos e relâmpagos, um prenúncio de que uma nova era já havia começado. Esta nova era é o Reino de Deus. Isso causa temor e grande alegria às mulheres que foram ao túmulo e correram para anunciar a novidade aos demais discípulos.

2. Marcos 16.1-8 - Em várias ocasiões, Marcos destaca o medo das testemunhas de alguns milagres de Jesus (1.7; 2.12; 4.41; 5.42; etc). Na ressurreição, as mulheres são tomadas de medo e pavor por testemunharem o “tumulo vazio”.

3. Lucas 24.1-11 - Lucas lembra as palavras de Jesus, anunciando a sua paixão, morte e ressurreição e isso ele destaca no relato da ressurreição: “lembrai-vos...” (v. 6). Não deveria, portanto, causar surpresa, como causou a Pedro (Lc 24.12), pois Jesus já anunciara a sua morte e ressurreição.

As duas realidades
Estas duas realidades da Páscoa nos apontam para a esperança, a fé, a paz e a para a vida. Um dos textos considerados mais antigos do Novo Testamento afirma: “Cristo morreu por nossos pecados”, segundo as escrituras; “foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia”, segundo as escrituras; “apareceu a Pedro e depois aos doze” (I Co 15.3-5).

Esta esperança, fé, paz e vida, devem orientar nossa celebração e impulsionar nossas vidas a uma vivência com estas características. Se há sinais e indicativos de mortes e conflitos em nossa sociedade, podemos cantar com fé e esperança que “Cristo vivo está” e que a nova vida, plena de seus direitos, continua a desabrochar pela força do Evangelho, pela presença do Reino de Deus e pela nossa doação como instrumentos para a construção de uma sociedade que vivencia estas duas realidades.

A Páscoa é um convite para que demos um passo a mais na nossa jornada de superação e de esperança. Esta jornada é marcada pela busca de Cristo, que vai ser encontrado, não entre os mortos, mas sim entre os vivos, especialmente entre os vivos que vivem num contexto de morte. Jesus Cristo lá está para que a vida renasça com os traços da dignidade e da paz.

No diálogo entre os dois ladrões crucificados ao lado de Jesus se ressalta a frase de um deles: “Ele não fez nada de mal”. O autor da frase parece reconhecer

“que não é pela força e pelo poder que a justiça, a liberdade e a vida se fazem. O Reino é o amor, que traz a verdade e a justiça, e daí a liberdade e a vida para todos. Esse é o paraíso para o qual Deus criou toda a humanidade” (2).

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CITAÇÕES:

(1) GORGULHO, G.S. e ANDERSON, A. F. O Caminho da Paz – Lucas. São Paulo, SP: Edições Paulinas, 1980, p. 255.

(2) STORNIOLO, Ivo. Como ler o Evangelho de Lucas. São Paulo, SP: Edições Paulinas, 1992, p. 203.