11 agosto, 2006

E agora, o que fazemos com essa lição?

Obs.: Trata-se de uma lição da revista Cruz de Malta, exemplar do 2º semestre de 2006, que já está em distribuição às igrejas locais.

Revista Cruz de Malta
Unidade 4 – Metodismo
Lição – 19
Título: O dono da bola
Texto bíblico: 2 Reis 10.15,16


(exemplar do professor/a)

Objetivo da lição

Demonstrar que é parte da identidade metodista respeitar as opiniões alheias.

Para início de conversa

O título da lição de hoje faz referência a uma figura bastante conhecida da infância da maioria das pessoas: o dono da bola, aquele que dita as regras do jogo, que determina os movimentos, que acha que é o único que tem razão e, se algo sai diferente da sua vontade, simplesmente pega a bola e vai embora não se importando com quem quer que seja.

Independente da idade, cada um de nós, muitas vezes, age como se fosse o "dono da bola" achando que é o centro do mundo. Gostamos de pensar que o mundo gira ao nosso redor e estão todos/as a nosso serviço.

Isso acontece também no que se refere à religião: é grande a tentação de considerar correta apenas a nossa prática religiosa julgando todas as posturas diferentes da nossa como erradas quando não "demoníacas". Essa forma de pensar, pedante, petulante e arrogante, além de revelar imaturidade, não deixa espaço para o diálogo que é uma das marcas do Metodismo e se apresenta como postura mais do que necessária nos dias de hoje.

Esta lição pretende contribuir para que os alunos/as reflitam sobre o "jeito metodista"de se relacionar com outras confissões lembrando que respeitar (o que está acima de tudo) não significa aceitar ou concordar assim como dialogar não significa impor ou determinar.

Desenvolvimento da aula

Depois de orar, exponha em poucas palavras o significado do título da lição. Deixe que 2 ou 3 alunos/as repartam com a classe momentos ou situações em que, no dia-a-dia, experimentam a realidade do "dono da bola". Para incentivar a participação, explique que muitas vezes as pessoas não são assim mas agem dessa forma em determinados momentos como, por exemplo, quando exigem que suas opiniões, ao invés de serem apenas respeitadas, sejam seguidas como ordens. Se e quando contrariado/a, o dono ou a dona da bola em geral diz algo como "Se não for do meu jeito, não brinco mais!" Isso pode acontecer entre casais, entre amigos, colegas de trabalho, irmãos e irmãs na igreja...

Escreva no quadro de giz as palavras RESPEITO e TOLERÂNCIA afirmando se tratar de sinais de maturidade no sentido de que pessoas imaturas são aquelas que ainda estão em formação, que não têm definidas para si mesmas a sua identidade. Daí a negativa ou distância que preferem manter do diálogo. Vêem o diálogo como algo perigoso à sua identidade. Não se dão conta de que dialogar não significa necessariamente concordar mas ouvir e expor e não "impor e fechar os ouvidos".

Deixe que a classe converse sobre as questões relacionadas na revista do aluno/a lembrando que assim como no dia-a-dia, é possível, sim, conviver e dialogar com aqueles/as que pensam diferente de nós em nome de algo maior. Dê o exemplo de torcedores de times rivais que se encontram para assistirem juntos a um jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo. Nem um deles deixa de ser corinthiano, flamenguista ou cruzeirense por estar assistindo à Copa ao lado do rival. O que os une (no caso, o time do Brasil) é maior e mais importante que o que os separa (seus "times do coração").

Para mantermos o exemplo na área do futebol, assunto comum à maioria dos brasileiros/as, lembre que o objetivo do encontro (no exemplo citado acima) não é convencer o outro a mudar de time mas apreciar juntos algo que lhes é comum apesar das diferenças de opiniões.

Para haver encontro (diálogo) de torcedores, há que se ter torcedores de times diferentes. Nada mais contrário ao diálogo que a pretensão de unificar, uniformizar. Como imaginar um "diálogo entre torcidas" se todos torcem pelo mesmo time? Na mesma linha, como imaginar uma bela salada de frutas se só se tem um tipo de fruta?

No episódio do Pentecostes, o Espírito Santo não fez com que todos falassem e entendessem uma mesma língua; ao contrário, o texto bíblico afirma que cada um entendia o que os discípulos falavam em sua própria língua de origem. Podemos afirmar, então, que foi vontade de Deus manter as características culturais (a linguagem faz parte da cultura) de cada povo.

Leve para a classe o sermão nº 38 de João Wesley, Advertência contra o Sectarismo. Se a biblioteca da sua igreja não possuir os Sermões de Wesley, seu pastor ou pastora provavelmente terá.

Para terminar

Providencie cópias da letra do cântico abaixo para todos/as. Depois de analisar e discutir o conteúdo, encerre a aula cantando e orando.

Eu sei que foi pago um alto preço
Para que contigo eu fosse "um", meu irmão
Quando Jesus derramou a sua vida
Ele pensava em mim, Ele pensava em ti,
Pensava em nós.


E nos via redimidos por seu sangue
Lutando o bom combate do Senhor
Lado a lado trabalhando, Sua igreja edificando
E rompendo as barreiras pelo amor


E na força do Espírito Santo
Nós proclamamos aqui
Que pagaremos o preço
De sermos um só coração no Senhor
E por mais que as trevas militem e nos tentem separar
Com os nossos olhos em Cristo
Unidos iremos andar



(exemplar do aluno/a)

A lição de hoje trata do tema da tolerância como parte da identidade metodista.

Para começar, precisamos nos lembrar de que essa é uma palavra dos tempos modernos. Isso porque a organização social e religiosa dos períodos que antecederam a modernidade não "necessitava" assumir uma postura de tolerância: cabia a um poder central estabelecer as normas, os valores e as virtudes que deveriam ser praticadas por todos/as. Foi assim na Idade Meia e em outros períodos da história.

Nos tempos modernos, com o desenvolvimento do conceito de indivíduo, que enfatiza a liberdade de cada pessoa de fazer escolhas ou tomar decisões, a palavra ou, o valor "tolerância" passa a ocupar lugar de extrema importância.

Por não mais estarem sujeitas a um poder central que determina suas ações, as pessoas passam a se unir em torno de propostas e projetos que lhes parecem razoáveis. Assim, tolerância e democracia caminham lado a lado o que pressupõe respeito à opinião de cada pessoa e predisposição de viver numa sociedade em que há diversidade de crenças e de pontos de vista. Tolerância é o elemento que torna possível a vida neste tipo de sociedade.

É necessário explicar que tolerância não significa concordância. Tem a ver com a capacidade de conviver, de respeitar opiniões divergentes estando sempre aberto ao diálogo respeitoso. Essa é a postura metodista, principalmente no que se refere às convicções religiosas.

O esforço empregado por Wesley para que o movimento metodista não se afastasse da Igreja Anglicana, entendendo que a divisão não era necessária, expõe uma marca preponderante do metodismo: a de buscar o entendimento, a conciliação como sinal da ação do Espírito na vida do seu povo. É próprio do metodismo histórico a disposição de praticar uma fé consciente, de princípios bem fundamentados e prática cidadã coerente, porém, com postura de respeito às opiniões diferentes.

Converse com seus colegas de classe sobre as questões abaixo relacionadas:
  1. Você convive com pessoas que pensam de forma diferente de você? Sobre que tipo de coisas vocês divergem? Time de futebol, cor preferida, alimentos, gosto musical, modo de se vestir?
  2. Se pensam de forma tão diferente, por que continuam juntos? Será porque existe algo maior que a diferença que os separam provocando tal união como o amor de um casal, o objetivo final de uma equipe, o salário no fim do mês etc.

Vida disciplinada, mas democrática

Embora defensores de uma vida cristã disciplinada (que cumpre as orientações do Evangelho e das normas doutrinárias), nossa perspectiva é a de que as práticas importantes e fundamentais em determinado contexto podem, ao mesmo tempo, serem consideradas irrelevantes em outro; isto é, entendemos que, no exercício da fé, existem algumas coisas que são centrais das quais não podemos abrir mão e outras que não devem tomar esse lugar central. Assim, a visão metodista é: "No essencial, unidade; no não-essencial, liberdade; em tudo, amor".

Quando falamos em disciplina democrática, queremos enfatizar que nossas decisões são tomadas pela comunidade de fé a partir do que nos orienta a Palavra de Deus. Nesse sentido, o que se busca é a preservação da unidade do Corpo de Cristo como algo fundamental (Jo 17.20-24). Fazemos isso procurando respeitar a diversidade de experiências sendo que o que nos garante a coesão numa sociedade tão diversa é o Espírito Santo.

A igreja de Cristo nasce na experiência do Pentecostes e nele se inspira para viver em união num mundo dividido. A disciplina, antes de ser uma lei rígida que nos oprime, é um instrumento de Deus para a preservação de nossa unidade na fé. Isso pode ser observado desde o antigo pacto que o Senhor estabeleceu com o povo hebreu em que havia o compromisso de observância de leis e condutas por parte do povo. Do mesmo modo, o novo povo de Deus, reconciliado em Jesus Cristo, é chamado a viver em santidade e isto implica na adoção de determinado padrão ou estilo de vida espiritual e social.

Uma espiritualidade não sectária

Um documento importante a respeito do tema de nossa lição é o sermão número 38 de João Wesley intitulado Advertência contra o sectarismo. Para termos uma rápida idéia da posição do fundador do Metodismo a respeito dessa questão, vejamos um trecho do sermão: a coisa que durante todo esse tempo grandemente me afligia e, contra a qual resolvi usar de todos os métodos possíveis de precaução, era a estreiteza de espírito, o zelo parcial, o constrangimento de alma; aquele miserável sectarismo que torna a muitos incapazes de crer que haja qualquer obra de Deus, a não ser entre eles.

Neste pequeno recorte podemos perceber a visão de Wesley a respeito de nossa conduta diante das opiniões alheias. Sectarismo é aquela atitude de isolamento, provocada pela crença de que somos os donos da verdade enquanto todos os demais estão errados ou equivocados. Como metodistas, entendemos que todo aquele(a) que faz a vontade de Deus é nosso irmão e irmã.

No sermão 38, Wesley estabelece as bases para uma religião não-sectária:

  • aquela que não pretende possuir como coisa sua, como posse privada, o poder de Deus;
  • que não faz da diferença religiosa motivo de exclusão ou separação do(a) irmão(a);
  • que não cria embaraços para aqueles(as) que, não pertencendo ao nosso grupo, esforçam-se para não só anunciar mas também viver de acordo com a palavra de Deus.

Para terminar

A revista do professor/a traz a letra de um cântico (Alto Preço) para ser analisada pela classe. Nossa sugestão é terminar a aula de hoje cantando.