10 agosto, 2006

Os ipês estão floridos...

Por: Pedro Nolasco

As causas do meu luto são conhecidas por todos que participam seriamente do movimento ecumênico em terras brasileiras.

Seus sintomas também são aqueles de sempre: a tristeza da perda, o vazio do sentido e a desesperança quanto ao futuro, que levaram-me a uma incrível falta de motivação quanto ao presente.

Mas, alguma coisa aconteceu nas últimas semanas. Em meio aos escombros de um terremoto ainda em atividade, começam a surgir sinais de esperança, como os ipês que insistem em florescer no inverno (na cidade onde moro, eles são muitos, havendo um até mesmo na frente ao templo da igreja em que sirvo).

Preciso confessar que minha esperança nasce do próprio princípio ecumênico um tanto deixado de lado por muitos de nós nos últimos tempos: o encontro.

Foi encontrando pessoas que amam a unidade da Igreja que pude chorar e refletir, pensar e sentir. Não somos tantos, mas não somos tão poucos e, acima de tudo, não estamos sós.

Estou redescobrindo, com outros companheiros e companheiras, alguns fundamentos da caminhada cristã que fazem muito sentido neste momento do metodismo brasileiro, os quais compartilho humildemente com os irmãos e irmãs:

Apesar de tudo...

O primeiro é a insistência na esperança, mesmo com todos os sinais contrários. Nossos olhos estão atentos aos movimentos que agem em prol da morte. Não somos ingênuos: a realidade é muito contrária à unidade e ao respeito, mas o aguçar do olhar sobre a dura realidade não deve ofuscar a visão do Reino de Deus e do seu ideal. Nossa vocação não é vencer aos olhos da sociedade, mas resistir no ideal do Reino apesar de todas as forças contrárias. Resistir mesmo com risco à vida.

Onde está a esperança?

O segundo é que nossa esperança não se funda (nem se finda) na instituição humana.

Queremos e buscamos uma instituição que esteja de acordo com a vontade de Deus, mas, quando esta se distancia de sua vocação, nossa fé nos leva à reafirmação da ação profética em prol da vida. Nosso fundamento é a fé, além do otimismo humano, além dos sinais evidentes de fracasso. Não é a instituição que nos motiva, muito menos o sucesso de nossa ação. Nossa motivação nasce do Espírito e atua mediante o amor aos semelhantes e aos absurdamente diferentes.
Encontro

O terceiro fundamento é o encontro. Além de todo discurso, as distâncias precisam ser superadas, especialmente entre aqueles/as que se esforçam pela unidade da Igreja. Nunca senti tanto gosto na palavra "movimento", que caracteriza o ecumenismo mundial. É tempo de fomentarmos consciente e alegremente o "movimento ecumênico" entre leigos e leigas, pastores e pastoras e entre as igrejas. A celebração, o estudo e o testemunho, tão marcantes no passado próximo ou distante, precisam ser priorizados, visando uma espiritualidade pulsante e consciente.

Muitas outras novidades vão surgindo, mas por enquanto, as sementes apenas começam a germinar, a partir das árvores que, há muito tempo, as lançaram ao vento.

E o luto vai dando lugar à luta, não aquela sangrenta e desleal, mas a uma luta amorosa, ética e responsável, não apenas pensando no tempo atual, mas inspirada no passado que nos motiva e no futuro que nos desafia.

E se você ficou tão desesperançoso como eu, dê uma olhada na rua, numa praça ou na beira da estrada, talvez algum ipê possa lhe mostrar que mesmo em meio ao frio inverno, a vida insiste em renascer.

Pedro Nolasco
Pastor Metodista em Jundiaí – SP
3a Região Eclesiástica