09 agosto, 2006

O lugar comum

Por: Nilson da Silva Jr.

Certamente nossa humanidade nos faz conviver com algum tipo de ansiedade. Cada um de nós luta para realizar sonhos, e é isto que nos faz sofrer... a expectativa de chegarmos à conquistas que tanto queremos.

De alguma forma somos caminhantes, andarilhos/as à procura do lugar onde mora a realização do que queremos.

Freqüentemente observamos que nosso sofrimento existe não porque não temos objetivo, mas, porque mesmo sabendo onde queremos chegar, não sabemos como fazê-lo.

É aí que reside a nossa fé... é nesse espaço que ela atua, como esperança de que existe um lugar onde as coisas acontecem e se concretizam.

A meu ver, ter fé em Deus é crer que Deus é este lugar. Um lugar onde os sonhos e esperanças se encontram, fazendo surgir a felicidade.

Mas que lugar é Deus? Quem pode chegar a Ele?

Deus é o objetivo natural de toda a humanidade. Cada um/a de nós, de alguma maneira, de algum jeito, procura andar em sua direção. Existe uma devoção particular em cada pessoa.

Mas o que conflita a fé, ou Deus, ou o lugar onde todos/as queremos chegar, é o fato de existirem ações humanas que demarcam o caminho e, pior, procuram restringir o caminho a Deus a moldes próprios, peculiares.

É assim que Deus se torna um ambiente distante, difícil e até proibido a muita gente!

Na dinâmica da fé os conflitos acontecem mais pela forma de entender o caminho de Deus do que pelo caminho, propriamente dito! Em diversos momentos, as tensões são causadas não porque não queiramos andar em direção à fé, mas porque existe confusão sobre o que isto significa!

Quando o parecer pessoal age como regra e condição para o caminho, o caminho passa a ser uma questão de imposição, de interpretação e especialmente de transtorno!

A cena da Ceia é o exemplo mais clássico do caminho de Deus. É desafiadora demais para a nossa limitação humana! A mesa é um espaço comum onde Cristo chama a todos/as para cear com Ele.

Alimentaram-se do pão e do vinho pessoas desiguais... pescadores rudes e ignorantes se sentaram ao lado de um médico, de um ex-coletor de impostos, e até de um traidor!

Jesus não excluiu ninguém! E Ele sabia profundamente de todas as intenções que o cercavam naquele momento... não concordava com muitos interesses dos que o acompanhavam, porém, mesmo assim, considerava o simbolismo da mesa importante como processo de crescimento, e porque não dizer, até, de conversão!

Quantas vezes vemos gente cercando as mesas, impedindo que desiguais participem juntos/as! Criando critérios, condições, salientando mais a diferença do que a utopia da unidade. Negar o pão e o vinho ao/a próximo/a, porque o/a próximo/a não comunga das mesmas idéias, porque não tem a mesma tradição e costume, porque tem crenças que divergem, é negar o Cristo Salvador a quem Ele mesmo fez questão de se entregar!

Em diversas situações vemos discussões acirradas sobre diferenças religiosas, mas essas diferenças da fé são nada mais nada menos, que reflexos das diversidades pessoais impressas em cada um de nós! A intolerância é uma só com faces variadas e é dela que nascem problemas de crença, de racismo, de cultura, de discriminação social, e por aí vai.

Se as diferenças tiverem o poder de nos afastar, então de quem seremos próximos/as? Em maior ou menor grau, somos múltiplos em pensamentos, em potenciais, em discernimento! É preciso haver uma constante tolerância na vida, até para que hajam relações na sociedade, na igreja e na família! Tolerar é arte de respeitar e conviver mesmo na diversidade!

Da mesma forma que não concordamos com o pensamento de algumas pessoas, assim, também, existe quem não aceite a nossa maneira de ser, mas isto deve ser encarado com naturalidade, parte de nossa humanidade, não como desagravo, desconsideração... é aí que Deus nos ensina a convivência, com o que Pedro chamou de multiforme graça de Deus, (1Pe 4:10) que é multiforme porque também nós somos multiformes!

Achando pontos de equilíbrio nesta heterogeneidade é que sobrevivemos como pessoas e comunidades!

A mesa de Cristo está muito acima disso! Porque se a mesa fosse se pautar de acordo com as nossas fraquezas, e aberta somente aos/as semelhantes, então necessitaríamos de uma mesa para cada um de nós! E isto seria participar da nossa própria mesa e não da de Cristo! Porque a mesa d’Ele é oferecida a todos/as e o critério de participação é uma análise pessoal e não uma norma institucional! Pode até ser que nos neguemos participar desta refeição de desiguais, que não aceitemos assentar nesta “roda” onde o pão e o vinho são um só pra todo mundo... mas foi isto que o nosso Mestre fez!

Creio que Jesus é o lugar comum, o lugar de todos/as, onde nos aproximamos para sermos curados/as, abençoados/as e transformados/as! Que Ele nos abençoe!

Na graça e na paz,

Rev. Nilson da Silva Júnior
Pastor Metodista em Cândido Mota – SP
5ª Região Eclesiástica