02 setembro, 2006

Bispo Paulo Ayres Mattos fala sobre o atual momento do metodismo brasileiro

Por: Odilon Massolar Chaves

O Portal Metodista On Line fez uma entrevista com o Bispo Emérito Paulo Ayres Mattos, atualmente terminando o seu Doutorado na Drew University, nos Estados Unidos da América, onde ele fala de discipulado, ecumenismo, neopentecostais e itinerância Veja na íntegra a entrevista:

(Portal Metodista) Você acredita que o discipulado no metodismo brasileiro é o caminho apropriado para o momento em que vivemos?

(Bispo Paulo Ayres) Não conheço de perto o processo de implantação do programa de discipulado que está sendo implantado nas diferentes regiões de nossa Igreja. Creio, pelo pouco que sei, que é um equívoco se deixar a implantação do programa a cargo das regiões. É claro que qualquer programa metodista nacional tem que levar em consideração as diferenças regionais próprias a um país tão diversificado culturalmente como o Brasil. Entretanto me parece que no atual campo religioso brasileiro, em que o mercado dos bens religiosos se caracteriza por uma competição cada vez mais virulenta (em alguns casos beirando à violência física), quando temos projetos religiosos monolíticos antagônicos procurando impor-se hegemonicamente no país, com indisfarçados interesses monopolistas e sectários, especialmente através da mídia radiofônica e televisiva, tanto entre o público católico como entre o evangélico-pentecostal, creio que a regionalização do programa de discipulado acarreta a perda de sua força para aglutinação, organização e mobilização do povo metodista no Brasil. Parece-me que acaba por reforçar o regionalismo reinante entre nós, além de permitir a penetração insidiosa e sutil de idéias e práticas de "grupos pequenos", que nada têm a ver com a teologia e a prática próprias ao movimento wesleyano metodista (práticas estranhas como igrejas em células, G-12, e outras experiências dissimuladas de "pequenos grupos", em voga em muitas igrejas metodistas).


(Portal Metodista) E aqui, em minha opinião, reside o maior problema do programa de discipulado proposto para nossa Igreja.

(Bispo Paulo Ayres) Também, devido a invasão de idéias e práticas não-metodistas sobre crescimento da Igreja, como, por exemplo, a de "church-growth", patrocinada tradicionalmente no Brasil por SEPAL, me parece que o programa de discipulado se afasta de nossas teologia e prática, pois, em última análise, o seu alvo é o crescimento numérico de nossa membresia. Ora não existe nada mais tão distante do metodismo wesleyano do que a obsessão quase que neurótica por crescimento numérico a qualquer custo. Por que afirmo isto? Por que tais idéias e práticas sobre grupos pequenos que buscam ser hegemônicas entre nós no Brasil (mas também em outras parte do mundo!) raramente tem alguma coisa a ver com a prática das classes metodistas desenvolvidas por Wesley no avivamento metodista do século dezoito na Inglaterra. O problema é que muita gente com tais práticas querem fazer crer que buscam sua inspiração nas classes de Wesley. Ledo engano! As classes metodistas não foram formadas como instrumento para o crescimento numérico das sociedades metodistas. Seu alvo era o crescimento em santidade de coração e vida dos(as) primeiros(as) metodistas. A incorporação de pessoas às classes se dava na medida que convencidas de seus pecados demonstravam interesse de "fugirem da ira vindoura e serem salvas de seus pecados". Sua adesão era em resposta à mensagem da graça de Deus "em todos e para todos" proclamada pelos pregadores leigos de Wesley nas capelas metodistas, mas muito mais ao ar-livre nas praças, ruas e campos da Inglaterra. O objetivo das classes metodistas era através da co-responsabildade entre todos os seus membros promover a mútua busca de santidade de coração e vida através da prática contínua e disciplinada das obras de misericórdia e obras de piedade. Santidade de coração e vida para Wesley era algo interior e exterior na vida de uma pessoa metodista, cujo elemento comum era o amor na intrínseca e inseparável manifestação de amor a Deus e ao próximo. Para o fundador da metodista a busca de santidade de coração e vida, como conseqüência direta do ser nova criatura em Cristo (novo-nascimento), não nascia de uma boa intenção religiosa humana, mas do fato de que Deus é quem opera tanto o querer como o fazer (Filipenses 2:13). Somente o Senhor através do seu Espírito é quem nos leva a discernir os sinais do tempo e responder em santidade de vida dentro das realidades do cotidiano de nosso povo os desafios e oportunidades para a manifestação mais plena dos sinais do Reino de Deus aqui e agora. Para Wesley e os metodistas primitivos, salvação é uma experiência que se dá no hic et nunc (aqui e agora).


(Portal Metodista) O crescimento no metodismo primitivo não foi resultado de implantação de estratégias, métodos, programas, ou lá o que seja, em termos de organização e métodos de marketing empresarial, mas sim o resultado da ação de Deus através do seu Espírito na vida de mulheres e homens que aceitaram pela fé o desafio bíblico de "sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste" (Mateus 5:48), da perfeição cristã, do perfeito amor, da salvação plena aqui e agora.

(Bispo Paulo Ayres) Nossas igrejas e corpo pastoral não têm feito da prática de santidade de coração e vida no exercício das obras de piedade e misericórdia, conforme o ensino de Wesley, o centro da nossa espiritualidade cotidiana. E aí me parece que mais uma vez erramos o alvo. Creio que é chegado o tempo para em nosso contexto social e cultural atualizarmos o ensino e a experiência wesleyana da santidade de coração e vida.

(Portal Metodista) Nas pesquisas que o Metodismo On Line fez a grande maioria pede mudança no processo de Avaliação Pastoral e na Itinerância. O que você atribui essa tendência?

(Bispo Paulo Ayres) Esse processo na minha opinião é decorrente de um exacerbado e infeliz "congregacionalismo" (que nada tem a ver com o sistema congregacional) que tem gradualmente tomado conta da Igreja Metodista no Brasil desde o final da década de sessenta. Para tanto tem contribuído o relaxamento de muitas práticas do metodismo wesleyano.
O metodismo é conexivo ou não é metodismo. Somos uma conexão. Com o medo de perdermos membros, ou com a intenção de crescermos a qualquer custo, temos feito crescentemente uma série de concessões "congregacionalistas" ao mercado dos bens religiosos.
Isto nos tem custado a perda da conexão na proclamação da mensagem específica do metodismo primitivo: a santidade de coração e vida na prática incessante das obras de piedade e das obras de misericórdia em nosso cotidiano. Temos deixado de, na tensão criativa entre ciência e piedade, buscar uma vida de verdadeira santidade pessoal e social, cuja manifestação do poder de Deus se dá no serviço a Deus através das obras de piedade e através das obras de misericórdia no serviço às pessoas à volta, especialmente aos pobres, doentes, presos, estrangeiros, marginalizados, em suma aos grupos humanos que sofrem, espiritual e materialmente, toda sorte de opressão, discriminação e exclusão. Assim sendo, muitas igrejas, não raramente sob suas lideranças pastorais, têm abandonado, às vezes por razões teológicas, às vezes por puro oportunismo, práticas como o batismo de crianças, batismo por aspersão, santa-ceia com o povo ajoelhado no altar (muitas igrejas nem mais genuflexório já que não têm altar e sim um palco, e a santa-ceia ministrada sem liturgia apropriada, muitas vezes ministrada às corridas como um ("fast-food" qualquer da vida!), confissão comunitária durante o culto, escola dominical e suas revistas, etc. Outro elemento que seguramente indica o aviltamento de nossa conexidade é a relutância crescente das igrejas locais em participarem do sustento da obra sob a responsabilidade da área regional e nacional. Daí a séria crise financeira enfrentadas por diversas regiões e pela área geral, e, numa tentativa de se conseguir recursos de outras fontes, as decisões dos últimos concílios gerais em taxar o aluguel dos prédios das instituições de ensino da Igreja. (E é verdade que o fortalecimento institucional que anima a programação de certas regiões em nada desafia as igrejas locais a se envolverem no sustento da obra regional.) É nesse contexto "congregacionalista" exacerbado que entendo a contestação ao sistema metodista de nomeações dos pregadores e pregadoras metodistas itinerantes, contestação essa vinda tanto da parte do pastorado como do laicato metodistas. É interessante que quando se trata de defender o sistema congregacional o critério do crescimento numérico então não vale mais; pois, já que entre nós metodistas hoje se fala tanto em crescimento numérico, seria bom lembrar que em certas igrejas que têm crescido muito mais que a nossa ninguém contesta o sistema praticamente conexivo-episcopal que nelas prevalece (por exemplo, históricas como a Adventista do Sétimo Dias [que alguns consideram "seita"; eu não! É tão histórica como o Exército de Salvação!], pentecostais como as Assembléias de Deus, ou neopentecostais como a Universal). Em suma, entendo que tal contestação é de fato mais um dado na luta política pelo controle dos mecanismos de poder institucional dentro de nossa denominação. Uma luta que considero bastante carnal. E pelo que temos visto em muitas igrejas locais é o reforço do clericalismo tanto do corpo pastoral como do laicato, especialmente dos ministérios de louvor (tais ministérios de "levitas" (sic) muitas vezes inconscientemente obedecem a ditames das famigeradas FMs "evangélicas" com os últimos sucessos "gospelizados" impostos pelos "jabás" extorsivos pagos por cantores "evangélicos" a DJ's "evangélicos" das rádios de políticos "evangélicos"; é muito evangélico entre aspas para o meu gosto!). Em nome da democracia "congregacionalista" temos criados verdadeiros caciques pastorais que nas igrejas locais já não mais respondem a qualquer governo metodista. E quando o bispo resolve tomar uma atitude dando um paradeiro a tais desmandos o que vemos é o brado do velho jargão: "sai dela povo meu!" E aí quase sempre é tarde demais.

(Portal Metodista) A liderança da Igreja sofre pressão por causa do ecumenismo com a Igreja Católica (Veja decisão do Colégio Episcopal de não participar da Campanha da Fraternidade) e sofre (como as Igrejas históricas) com as influências dos neopentecostais. Que caminho seguir?

(Bispo Paulo Ayres) O fechamento que a Igreja Metodista tem sofrido nos últimos anos é em grande parte decorrente da concorrência praticada pelo mercado dos bens religiosos e imposta pelo avanço do neopentecostalismo e do "gospel" das FMs marqueteiras, tanto sobre o campo católico como sobre o evangélico e pentecostal. É sabidamente reconhecido que tal fechamento tem a ver com a chamada crise de identidade confessional. E em termos de crise de identidade confessional não estamos sozinhos. Esta é uma tensão que as demais igrejas não estão sabendo como responder, inclusive a católico-romana (vide "Canção Nova" do Vale do Paraíba em São Paulo - nunca imaginei em minha vida ver ostensório ser carregado em meio a uma multidão de católicos falando em línguas estranhas! E é verdade!). O ataque das novas igrejas que, apesar do seu alegado pan-evangelismo, consideram as igrejas evangélicas e pentecostais mais antigas no país como "igrejas fracas" e, portanto, também campo de potenciais prosélitos, tem angustiado as lideranças de nossas denominações diante da ameaça da evasão dos seus setores mais fundamentalistas ou entusiastas para tais igrejas ou para outras novas igrejas que eles próprios fundam. Diante da concorrência agressiva, querendo-se salvar a instituição igreja, muitos se deixam pragmaticamente levar pelo que parece estar dando certo. Daí a guinada conservadora de crescentes setores de nossas igrejas evangélicas e pentecostais com uma história bem mais longa na vida do país (defendo a legitimidade das igrejas pentecostais baseada nos próprios fundamentos da experiência pentecostal sem apelação a outros referenciais como, por exemplo, o metodismo - de fato o pentecostalismo é o ápice de um sutil processo ao longo de cem anos que levou a wesleyana santidade de amor a se transformar na pentecostal santidade de poder). Creio que isto explica, apesar de em minha opinião não justificar, a tomada de decisões mais cerradas como a do Colégio Episcopal de não endossar a Campanha Ecumênica da Fraternidade no ano de 2005. De certa maneira, foi uma decisão para o público interno da Igreja, pesando mais os entrechoques entre diferentes correntes internas de nossa política eclesiástica que já não podem mais ser identificadas pelos velhos e surrados rótulos de conservadores, progressistas ou carismáticos. O quê se impõe agora é a defesa dos interesses institucionais e aí rótulos tais não dizem mais nada e antigos opositores agora se aliam na defesa do mesmo projeto institucional. O fechamento em curso creio que é uma tentativa de evitar maiores danos institucionais ao metodismo brasileiro. Digo institucional porque, como já mencionei, considero que nossa prática metodista de forma gradual ao longo de nossa história tem sido comprometida seriamente. Historicamente este não foi um problema criado por nós, pois de ato foi importado junto com os missionários. Na Grã-Bretanha o metodismo primitivo foi uma resposta religiosa aos primórdios da revolução industrial, ao surgimento e crescimento dos centros urbanos, à formação do proletariado. Nas colônias da América do Norte se viveu uma conjuntura completamente diferente, pois a colonização redundou na formação de uma sociedade praticamente rural e agrária formada por sitiantes pequenos e independentes. Em conseqüência os metodistas norte-americanos abandonaram num curto período de tempo o ensino e a pratica da santidade de coração e vida promovida pelo movimento wesleyano no interior de uma igreja estabelecida que não era uma denominação - a Igreja da Inglaterra (Church of England). Nos Estados Unidos ao invés de um movimento de renovação houve a formação de uma instituição denominacional - a Igreja Metodista Episcopal (The Methodist Episcopal Church). Houve também ao mesmo tempo a substituição progressiva da co-responsabilidade no crescimento gradual em santidade promovida nas classes metodistas pela introversão intimista e exacerbada das conversões instantâneas promovidas pelos "camp-meetings", o carro-chefe dos avivamentos metodistas. O metodismo que recebemos no Brasil na última quadra do século dezenove foi o resultado desse processo de acomodação do metodismo americano à sociedade de classe-média consumista consolidada vitoriosamente ao longo de todo aquele século. A experiência americana e a nossa própria parece nos indicar que os caminhos do Espírito de Deus seguem uma outra rota.

(Portal Metodista) Estou cada vez convencido que para superar tal obsessão institucional e mercadológica e exorcizar a tentação de nos fecharmos temos de atualizar no interior da Igreja Metodista a estratégia de John Wesley de formar uma comunidade espiritual de resistência comprometida profundamente com a busca de santidade de coração e vida.

(Bispo Paulo Ayres) Temos o compromisso histórico de reinterpretar para nossos tempos pósmodernos do capitalismo tardio a doutrina wesleyana da santificação não como prática religiosa introvertida e/ou entusiasta, mas de radical crescimento em amor a Deus e ao próximo inseridos nas experiências do duro cotidiano. Santidade como caminho de salvação, pois "se não somos salvos pelas obras, não somos salvos sem as obras", pois temos como Wesley afirmava ao citar do texto de Filipenses 2:12, "de desenvolver a nossa salvação". Santidade interior em termos das motivações mais profundas de nossa existência e santidade exterior no compromisso fiel no uso disciplinado, contínuo e constante dos meios de graça e no exercício contínuo das obras de amor na solidariedade irrestrita com os pobres, amor incondicional a Deus e ao próximo. Ao afirmamos o caráter soteriológico da santidade de coração e vida, afirmamos também que a santidade que buscamos é uma santidade ética e a ética que defendemos é uma ética de santidade - santidade da vida como expressão da vida de santidade e da santidade de vida! Nossas motivações antes de serem ideologicamente políticas e sociais, são soteriológicas e penumatológicas, pois motivadas pela graça de Deus em Cristo sob a ação e direção do Espírito Santo.
Com este compromisso de fé sustentados e revestidos pela graça divina no poder do Espírito resgatamos a força da proposta do Plano de Vida e Missão em seu engajamento na luta em favor da vida e contra todas as forças que produzem a morte. Creio que devemos como Wesley não dar prioridade ao modelo institucional inserido no mercado dos bens religiosos, mas sim à re-atualização do modelo wesleyano contra-cultura de "ecclesiola in ecclesia", assumindo uma prática eclesial de forte disciplina devocional comunitária e pessoal. Assumirmos agenda de santidade de coração e vida - de intensa espiritualidade wesleyana acaboclada - no exercício da santidade de coração e vida na prática cotidiana e dinâmica da tensão entre obras de misericórdia e obras da piedade. Para tal teremos de enfrentar pessoal e comunitariamente duas duras questões enfrentadas pelos irmãos Wesley e os(as) primeiros(as) metodistas: (1) como reinterpretar a vida de disciplina espiritual comunitária nos termos wesleyanos de co-responsabilidade na caminhada mútua de santidade no exercício das obras de piedade, na convivência das classes metodistas?; (2) como submeter as aspirações econômicas pequeno-burguesas ao compromisso espiritual de despojamento na caminhada mútua de santidade no exercício das obras de misericórdia - "ganhar" o máximo que puder, "poupar" o máximo que puder, e "dar aos pobres" tudo que tiver, na afirmação do mote wesleyano "o cristianismo é antes de tudo uma religião social"? Daí afirmarmos com o Wesley o espírito católico do metodismo e desenvolvermos um tipo de ecumenismo que não passa necessariamente pelas instituições eclesiásticas. Mantendo a postura eclesial em nosso compromisso ecumênico, não nos oporemos nem apoiaremos incondicionalmente organizações ecumênicas e para-eclesiásticas, mas terão nosso apoio sempre que suas práticas e iniciativas estiverem em consonância com nossa prática eclesial disciplinada de santidade de coração e vida promovendo a santidade da vida. Das respostas que com temor e tremor encontrarmos para estas questões poderemos reinterpretar e cumprir o mandato histórico do metodismo de "Reformar a nação, de maneira particular a igreja, e espalhar a santidade bíblica sobre a terra" e, com John Wesley, missionariamente declarar o mundo, e não a igreja, como nossa paróquia.

(Portal Metodista) Os teus estudos têm lhe mudado ou apenas ampliou sua visão sobre a Missão da Igreja?

(Bispo Paulo Ayres) “Tenho mudado minha compreensão sobre o movimento metodista e também ampliado minha visão da Missão da Igreja." Gostaria que os leitores tirassem suas próprias conclusões sobre meu atual estágio espiritual resultante de meus estudos sobre história e teologia do metodista pelo conteúdo das respostas acima, especialmente na ênfase à retomada do ensino e experiência wesleyanas da santidade de coração (santidade interior - pessoal) e vida (santidade exterior - social). Entretanto, pessoalmente creio que ambas as coisas estão se dando simultaneamente comigo, pois tenho mudado minha compreensão sobre o movimento metodista e também ampliado minha visão da Missão da Igreja. O processo, contudo, é mais em termos de compreender a igreja mais como comunidade espiritual do que de organização institucional. Sem deixar de considerar que não há como se escapar a processos institucionais, creio que no momento atual de nossa igreja temos de priorizar o carisma profético da Igreja sobre a burocracia eclesiástica que procura fortalecer a dimensão institucional do metodismo brasileiro. Aliás o movimento metodista bem como o movimento pentecostal são dois bons exemplos de algo que nos seus primórdios não tinha preocupações institucionais e sem muita tardança acabou por se institucionalizar como os demais movimentos. Neste sentido Max Weber tem mais do que razão quando elucida o processo de racionalização e rotina do carisma profético e sua transformação em burocracia sacerdotal, com a monopolização dos bens religiosos por parte dos clérigos e de leigos clericalizados, no caso metodista brasileiro de seu corpo pastoral e da burocracia leiga, e a marginalização e, pior, a manipulação do laicato da Igreja.

Minha esperança hoje resta sobre a certeza de que Deus não está longe de nós, e, pelo seu Espírito, pode das pedras suscitar filhos e filhas a Abraão e Sara, e, surpreendentemente, também a Agar! Como na revelação de João, o Cristo Glorioso está a clamar: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas!" Maranatha! Vem, Senhor Jesus!

Paulo Ayres Mattos - Bispo Emérito da Igreja Metodista
Fonte: Sítio da Igreja Metodista de Vila Isabel