02 setembro, 2006

Líder metodista vislumbra panorama desafiador para o movimento ecumênico

GENEBRA, 2 de setembro (ALC) – A professora brasileira Magali do Nascimento Cunha vislumbra um panorama desafiador para o movimento ecumênico latino-americano nos próximos anos por causa do avanço registrados pelos setores que têm restrições ao diálogo e à cooperação entre as igrejas.

“Os brasileiros e setores cristãos latino-americanos sofreram um impacto com a decisão do último Concílio Geral da Igreja Metodista de retirar-se dos organismos ecumênicos com presença católica-romana e de grupos não-cristãos”, afirma Cunha, integrante do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que está reunido em Genebra, de 30 de agosto a 6 de setembro.

Mas também preocupa o que acontece em outras partes do continente, afirma. Casos como o distanciamento de igrejas latino-americanas tradicionalmente vinculadas ao movimento ecumênico, e da carismatização de igrejas históricas, numa perspectiva sectária.

O crescimento numérico de igrejas com postura crítica ao ecumenismo é uma realidade “que deve chamar seriamente a nossa atenção e motivar uma reflexão profunda”, assinala a professora Cunha, da Igreja Metodista do Brasil.

Estima-se uma população evangélica de 60 milhões de pessoas (15% da população, em média) na América Latina. As igrejas que mostram maiores índices de crescimento são as pentecostais, neopentecostais e as independentes, tradicionalmente anticatólicas e críticas aos protestantes.

Nos últimos anos, de modo especial desde fins dos anos 80 do século passado, líderes dessas igrejas irromperam na cena pública, incursionando na política e nos meios de comunicação, promovendo uma indústria cultural evangélica que mobiliza milhares de recursos financeiros.

Um dos rostos novos do ecumenismo latino-americano, Magali Cunha aposta decididamente na capacitação de jovens, na produção de material informativo sobre o ecumenismo e numa política mais agressiva de informação e comunicação.

“Precisamos explicar o que é o ecumenismo e combater versões que caricaturizam o movimento ecumênico, como as ventiladas pela revista evangélica brasileira Ultimato. Essa publicação disse que a Assembléia do CMI, realizada em Porto Alegre, em fevereiro último, foi uma reunião de propagação do movimento gay e que não houve reflexão bíblica”, arrola.

Cunha propõe a construção de alianças com igrejas e movimentos vinculados ao mundo evangelical, que se revelam mais abertas ao diálogo, como Visão Mundial, Fraternidade Teológica, entre outros, para reforçar a proposta ecumênica no continente.

A professora assinala que é um desafio buscar a cooperação com os pentecostais, e acredita que é possível dialogar e buscar pontos afins com líderes e igrejas, como o pastor Ricardo Gondim, da Assembléia de Deus Betesda. Uma aproximação e um programa com denominadores comuns reforçarão o movimento ecumênico na região, aponta.

Magali Cunha destaca, ainda, a importância de uma maior aproximação do CMI à realidade da região e às novas igrejas. Preocupa-a, no entanto, que apenas 27 das 348 igrejas membros do CMI sejam da América Latina, enquanto a África tem 93 e a Ásia 74 igrejas membros.

Entre as igrejas latino-americanas filiadas ao CMI aparecem as metodistas, luteranas, anglicanas de vários países; a igreja morava, da Nicarágua, as batistas de El Salvador e da Nicarágua, e cinco pentecostais, do Chile e da Argentina.

Fernando Oshige
Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)