05 setembro, 2006

Carta do Rev. Messias Valverde ao Bispo Paulo Lockmann

DE: Messias Valverde – IV Região Eclesiástica.
PARA: Bispo Paulo Lockmann – Presidente da I Região Eclesiástica.

Prezado Bispo e professor Paulo Lockmann,

Paz.

Li a entrevista do Senhor ao “Jornal da Vila”, da Igreja Metodista de Vila Isabel, ocorrida em 3 de setembro último e resolvi partilhar com o Senhor algumas preocupações:

1. Quando o Senhor afirma: “Nunca fui tão desrespeitado como nesse Concílio Geral” (Jornal da Vila) está, na verdade, expressando o sentimento de inúmeros e inúmeras metodistas no Brasil e no mundo, que aprenderam com o Evangelho e com a tradição metodista a grandeza, o poder e a dignidade do diálogo e do respeito pelo outro: Como João Wesley prezava a recomendação bíblica“...tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas” (Mt 7.12). Infelizmente, parte significativa do Plenário do último concílio não pensou assim e produziu sofrimento e desrespeito. Incluo nesse rol de desrespeitados(as) os bispos não reconduzidos; muita gente da IV Região Eclesiástica, inclusive parte da própria delegação, clériga e leiga, mais acentuadamente na representação leiga;

2. Recordo-me, que em Gerais anteriores, por muito menos, o plenário fora convidado a refletir sobre Dn 9.7: “A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós, a confusão do rosto, como se vê neste dia...”

3. Quanto à saída da Igreja da relação com o CONIC e outros órgãos ecumênicos que mantenha diálogo com a Igreja Católica, fiquei muito preocupado com a afirmação de que tal questão é uma preocupação da IV Região Eclesiástica “onde, os protestantes de um modo geral, seriam hostilizados pelos católicos” (Bispo Lockmann- in: Jornal da Vila).

Não estive presente no Concílio Geral na infeliz noite em que a Igreja rompeu com os organismos ecumênicos. Soube que alguns membros da delegação da IV Região encaminhou e discutiu o assunto de forma agressiva e desamorosa. Comportamento que considero totalmente incompatível com a prática e orientação que vem sendo desenvolvida na IV Região Eclesiástica. Pois, como é conhecido entre nós metodistas, mesmo com o posicionamento oficial das relações ecumênicas da Igreja. Nenhuma pessoa ou comunidade, em nenhuma circunstância foi forçada a participar de qualquer evento ecumênico.

Soma-se a isso o agravante de se apresentar como justificativa possíveis “hostilizações” de católicos a protestantes da IV Região Eclesiástica, muito menos a metodistas. A não ser que as pessoas estejam se reportando a eventos históricos ocorridos há mais de meio século!

Não podemos nos esquecer de que o último presidente do CONIC (Bispo Adriel de Souza Maia) ; o Secretário Executivo do CONIC , Rev Western Clay Peixoto; A Coordenadora Estadual em Minas Gerais, Revda Sônia Rosa Faria; a Coordenadora do CONIC JF, Delma Paradela Valverde. São todos(as) da IV Região Eclesiástica e de Minas Gerais. Sem falar em Vasny Cândido de Andrade, penúltimo Coordenador do CONIC em Minas. Esses fatos podem ter suscitado as reais preocupações dos representantes não-ecumênicos da última delegação ao Geral.

Em Juiz de Fora, por exemplo, o Seminário Arquidiocesano Santo Antônio (que já teve em seu quadro docente os pastores Western Clay Peixoto e Antônio Carlos Ferrarezi) conta hoje com representantes docentes metodistas, presbiteriano e luterano e, em seu grupo discente com alunos clérigos e leigos metodistas, batistas, presbiterianos e pentecostais. Soma-se a isso, a postura respeitosa da referida instituição com a Igreja Metodista e com a Faculdade Metodista Granbery.

A penúltima semana de oração pela Unidade dos Cristãos realizada em Juiz de Fora, com celebrações em espaços católicos, metodista e luterano (como acontece há dez anos ininterruptamente) teve, na celebração de encerramento a presença do Bispo Adriel de Souza Maia; do Bispo D. Eurico; do pastor Luterano e do Coordenador do Conselho de Pastores da cidade- pastor Renato- Pastor Pentecostal.

Na última, em maio deste ano, uma das celebrações foi desenvolvida em Mar de Espanha (cidade próxima a Juiz de Fora), onde, sob a liderança do Padre local, reuniram-se representantes católicos, luteranos, metodistas e pentecostais, tendo como pregador um pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular. Em Benfica, bairro de Juiz de Fora, na mesma data reuniu-se, na paróquia católica, representantes luteranos, católicos e da Assembléia de Deus, tendo como pregador o pastor que redige o atual texto.

Esses fatos foram mencionados Bispo para fundamentar o meu espanto com a alegação de hostilidade de católicos para com protestantes, na atualidade, em Minas Gerais.

Na verdade, após o Concílio, temos recebido visitas e telefonemas de apoio de muitos católicos, inclusive de D. Eurico, Arcebispo de Juiz de Fora.

Por esses e outros fatores assino com o Senhor a declaração: “Nunca [fomos] tão desrespeitados como [no último] Concílio Geral.

A meu ver, o que não permitiu que 2006 ficasse 100% marcado pelo retrocesso secular foi a assinatura da Declaração Conjunta ocorrida no Conselho Mundial de Igrejas, documento que precisa ser mais divulgado no meio metodista.

Precisamos de algo que nos permita “trazer à memória” a esperança de que apesar dos equívocos de homens e mulheres a graça de Deus se renova em nossas vidas (Lm 3.21s). Não acha?

Atenciosamente,

Messias Valverde
Pastor da 4a RE