03 setembro, 2006

Mulheres no 18º Concílio Geral

Por: Rosângela Soares de Lima e Genilma Boehler

A participação feminina no Concílio é um retrato do papel desempenhado pela mulher na vida da Igreja Metodista?

Durante a primeira fase do 18º Concílio Geral, de 10 a 16 de julho, as pastoras Rosângela Soares de Lima e Genilma Boehler fizeram um monitoramento da participação feminina na formação dos grupos de trabalho, nas discussões das plenárias e na eleição episcopal. O resultado não é muito animador. As mulheres pronunciaram-se pouco nos debates, não estiveram presentes em todas as comissões (o que gerou, inclusive, um “protesto” da Bispa Marisa) e, ao final das eleição episcopais, a Igreja Metodista continuava com apenas uma mulher no Colégio Episcopal – e eleita em último escrutínio.

Por outro lado, é importante destacar o próprio trabalho desenvolvido pelas pastoras – que vêm, agora, divulgar os resultados finais à Igreja, convidando-a à reflexão. Essa capacidade de refletir internamente sobre a questão de gênero é um diferencial da Igreja Metodista, pioneira ao formar suas primeiras pastoras, no início da década de 1970. Em 1974, a primeira presbítera ordenada foi Zeni de Lima Soares. A Igreja Metodista foi, também, uma das pioneiras em adotar a linguagem inclusiva e, ainda hoje, é a única das igrejas chamadas “históricas” a ter uma bispa.

Leia, a seguir, alguns trechos deste trabalho:

A composição da Cogeam

Este monitoramento é uma iniciativa conjunta da Cátedra de Gênero “Maria Luiza Schlottfeldt Fagundes” do Centro Universitário Metodista IPA, através de sua coordenadora Genilma Boehler, e Sabedoria e Testemunho - projeto de Formação de Liderança de Mulheres e Jovens na América Latina, coordenado por Rosângela Soares de Oliveira. Foi realizado com o apoio da Rede Metodista IPA e Divisão de Mulheres da Junta Geral de Ministérios Globais. O processo de monitoramento foi desenvolvido durante o XVIII Concílio Geral, com o conhecimento do Colégio Episcopal e da plenária. Um breve resumo da análise foi apresentada à plenária, e com este texto apresentamos uma versão mais detalhada e conclusiva do processo de monitoramento.

- O Colégio Episcopal esteve composto por 7 presbíteros e 1 presbítera eleitos/a no XVII Concílio Geral para o Quadriênio 2002/2006.

- A COGEAM esteve composta por 14 membros. Há uma política explícita de paridade entre membros por suas funções institucionais (ordem presbiteral, membros leigos, colégio episcopal) e regiões eclesiásticas ou campos missionários. Inclusive, impedimentos administrativos por linha de parentesco.

- O resultado da eleição realizada no Concilio anterior foi: Para o Colégio Episcopal - apenas uma mulher

- Para a COGEAM - duas mulheres - uma presbítera e uma leiga - entre os 11 nomes que poderiam ser eleitos.

- A mesa do Colégio Episcopal que integra a COGEAM esteve composta por três homens. - As substituições feitas pela COGEAM dos seus membros implicou em um acréscimo de mais uma mulher (leiga). Por outro lado, se perdeu a posição de secretaria da mesa que era ocupada por uma das mulheres.

- A mesa da COGEAM esteve composta somente por homens ainda que a paridade de inserção eclesiástica tenha sido respeitada (bispo, presbítero e leigo).

Observamos que não há uma política explícita de paridade por gênero ou composição proporcional a membresia de acordo com o sexo quantificado nas estatísticas gerais.
Uma leitura acrítica destes relatos podem levar o/a leitor/a a compreender as informações expressas nos relatórios, como se de valores naturais se tratassem, como se não houvesse no silêncio ou na ausência da mulher (ou das mulheres) exclusão ou negação. O que podemos concluir é que mantemos na Igreja uma cultura patriarcal que prioriza escolhas masculinas – que são padrões sócio-culturais considerados normais, mas que camuflam a exclusão das mulheres nos momentos de escolhas e designações.

A participação nas plenárias

No processo de quantificação da participação das plenárias dos dias 10-12, notamos que os homens pastores exerceram com mais frequência o uso da palavra para discussão ou apresentação de propostas. É preciso notar que a metodologia conciliar priorizando as discussões plenárias – como um espaço público de discussão – inibiu a participação de mulheres e leigos – facilitando a participação daqueles que têm maior desenvoltura e prática nos espaços de debates públicos e discursos individuais e pessoais. Notamos que as propostas discutidas em plenário, tiveram a maior intervenção masculina do que feminina. Em conversa com mulheres delegadas escutamos várias vezes de que as mesmas não intervinham neste espaço porque consideravam os debates repetitivos e estéreis, e que não se sentiam à vontade em discuti-los desta maneira. Vale também destacar que 70% dos conciliares (mulheres e homens) estavam participando pela primeira vez de um Concilio Geral da Igreja Metodista – dado este constatado em enquête realizada na plenária pelo Professor Hélerson Bastos - portanto neófitos nesta dimensão eclesiástica.
As palavras, como os silêncios, estão carregadas de sentidos, cada sentido constrói uma verdade que por sua vez produz uma forma de poder. Se quem fala na maioria das vezes são os homens – e os homens clérigos - eles detêm o poder da palavra e conseqüentemente o poder de decisão nas aprovações de propostas.

A eleição do Colégio Episcopal


A eleição para o episcopado revelou a dificuldade de se alcançar uma relação paritária no Colégio de Bispos e Bispa. Além de apenas uma mulher ter sido eleita, o foi somente no último escrutínio. Mais uma vez, se demonstra que há resistência à participação de mulheres em posições de liderança em estruturas de governo ou administração superior da igreja. Os padrões de escolhas camuflam a dominação masculina ou a predileção pelo poder masculino sob valores considerados normais. Os símbolos da normalidade escondem, muitas vezes, princípios de negação da alteridade e da inclusão que são formas de discriminação. Através da normalidade cultural a pessoa se sujeita às estruturas sociais e internaliza os valores propostos como normas de condutas inquestionáveis por serem considerados “naturais”. Assume-se por exemplo, que é natural eleger bispos e não bispas , é “natural” que o governo seja exercido por homens e não por mulheres.

As nomeações ad hoc ou comissões provisórias também privilegiaram indicações de homens, e um número mínimo de mulheres. A Comissão de Legislação que foi composta por nomes apresentados pelas delegações e entregues à Comissão de Indicação, segundo decisão de plenária, não incluía nenhuma mulher. O argumento dado de que esta Comissão já estava em andamento previamente ao Concílio apenas confirma o dado apontado acima, de que a inclusão de mulheres em comissões chaves ou em papéis considerados não tradicionais para as mulheres é feita com um número mínimo possível quando não totalmente zero.
Protesto das mulheres mobiliza plenária.

A Comissão de Indicações apresentou os nomes para a Comissão de Legislação do Concílio Geral:

1ª RE – Nelson Magalhães
2ª RE – Cláudio Nelson Kiehl
3ª RE – Wagner dos Santos Ribeiro
4ª RE – Moisés Abdon Coppe
5ª RE – Henrique Moraes Ziller
6ª RE – Jonadab Domingues de Almeida

Esses nomes foram eleitos, porém um fato provocou uma acalorada discussão. A Bispa Marisa Freitas Coutinho, da Remne, demonstrou seu pesar aos membros do Concílio pela ausência de mulheres na Comissão, um paradoxo diante da existência de tantas metodistas capacitadas para a função. Outras vozes se levantaram em apoio ao alerta da bispa, bem como algumas vozes masculinas com justificativas – e até declarações de amor às mulheres -- que não convenceram muito o público feminino...

Fonte: Site da 3a Região Eclesiástica