02 setembro, 2006

A beleza de renascer a cada dia

Por Maria Newnum

Da vez primeira que me assassinaram, perdi um jeito de sorrir que eu tinha... Depois, de cada vez que me mataram, foram levando qualquer coisa minha... (Mário Quintana - Soneto XVII, em Rua dos Cataventos)

Ah! Quantos assassinatos sofremos nessa vida. Sim, a cada um, nos levam qualquer coisa nossa; não nos enganemos; a cada um somos dilapidados como pessoa. Levam nossa crença, esperança, paciência, tolerância e até nosso tesão. Somando os assassinatos que sofremos por essa sociedade hipócrita e egocêntrica, pelos políticos ineficientes que elegemos por pura falta de opção, pelas decepções com as pessoas que elegemos como amigas, pelos heróis e heroínas que morreram de overdose; exaure-se o nosso tesão.

Tesão. Gosto dessa palavra, para mim exprime não somente o relativo ao sexo; é mais... É o prazer gostoso das coisas da vida. Dias desses senti esse tesão na livraria Bom Livro aqui de Maringá. Estava lá, de mãos dadas com meu marido, lendo com a cabeça no seu ombro, tomando um café gostoso com creme de chantilly, enquanto, ao fundo, um artista tocava solitário, seu violão ao vivo para nós. Que delícia! Um momento de perfeito gozo com a vida. Absolutamente nada poderia se equiparar àquele prazer; nem poder, nem dinheiro, nem sexo... (pode ser que meu marido discorde disso...) Passamos três horas perfeitas; desligados do mundo. Ocasiões como essas, experimento um renascimento como mulher e como pessoa.

Prestes a chegar aos 40, não perco de vista as contas dos assassinatos que sofri. Não me considero o tipo vingativo; mas não os perco de vista de propósito. Parece-me um erro a idéia de esquecer, de passar a borracha em tudo. Nada disso, se puder, quero reaver cada centavo que me tiraram; não em moeda - embora tenham me levado alguns níqueis, mas tenho o suficiente para viver bem - falo das sacanagens, das falsidades, da confiança roubada; das traições, do menosprezo à minha inteligência. Ah! Isso se puder, pego tudo de volta.

Se invisto tempo nesse resgate? Não. Acredito numa idéia: Ninguém saí dessa vida sem recibo. Espero e assisto de camarote. Pois quando agimos de alma limpa, desprovidos da mesquinhez dos nossos assassinos, as coisas chegam aos nossos pés e mãos. Agarrar ou chutar é uma opção.

Há uma regra da grande mãe natureza que nos lançou nesse mundo. Como filhos e filhas herdamos dela, a força tremenda que nos impele a renascer a cada dia como se ele fosse único. Temos em nós essa força de superar até uma doença terminal. Quantos casos já ouvimos... Quantos adiaram a morte iminente?

Não! É preciso dizer não, aos assassinos que cercam a minha, a sua, a nossa vida. Digamos chô ! Coisa ruim... Seja nas relações profissionais, afetivas religiosas... Ah! A religião, quantos assassinatos sofremos, não pela religião. Mas quantos religiosos matam nosso vigor?...

Apesar de a cada assassinato roubarem qualquer coisa sua, minha, nossa, não nos esqueçamos: Ninguém, nada pode nos roubar essa força maravilhosa, esse vigor que nos impulsiona a renascer a cada dia, com mais beleza, mais sabedoria, grandeza e força.

O renascimento começa agora... No ombro da pessoa amada, numa chícara de café, no som de um artista solitário; no colo de nossa grande mãe natureza...

Morrer é certeza, renascer é magia...
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Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e Coordenadora da Spiritual care Consultoria.
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