Os Amigos e os Inimigos do Messias
“...Logo que o encontrarem, avisem-me, para que eu também vá adorá-lo”.
A primeira vinda do Messias – gerado miraculosamente e nascido desinstaladamente – foi o cumprimento de promessas proféticas. As estrelas e os anjos lhe emprestam um caráter cósmico; os pastores e os magos sinalizam o seu caráter terreno, histórico. As Boas Novas transformariam vidas individuais e relacionamentos, no grande milagre da metanóia (salvação e santidade), mas a sua destinação deveria ser muito mais ampla: a sinalização do Reino de Deus e seus valores diante dos anti-valores do anti-reino das trevas e da morte.
Daí, o seu primeiro conflito foi de natureza política. O rei Herodes se sentiu ameaçado em seu trono, procurou (como muitos políticos, e não-políticos) “levar na conversa” os magos, com a demagogia e a insinceridade de procurar saber onde estava o menino, para ir e também adorar. Os magos, advertidos pelo céu, literalmente saíram pela tangente, e o rei, furioso, provocou um infanticídio coletivo, mandando matar todos os meninos de Belém, que tivessem de dois anos para baixo. Advertido em sonho, José toma Maria e a criança e vão para o Egito como refugiados políticos, somente voltando após a morte do tirano. Ao longo da História – e hoje – quantos tiranos forçaram milhares de pessoas a sair de suas terras e viverem em condições miseráveis como refugiados? "Quando o Evangelho é anunciado em sua plenitude acaba sempre batendo de frente com os poderes deste mundo: político, econômico, social, cultural, religioso. O Evangelho desinstala, subverte, ameaça com a ordem de Deus a desordem do mundo.
Hoje, além do fanatismo religioso anti-cristão, que gera um novo ciclo de martírio, discriminação e privação, de parte dos crescentes setores extremados das grandes religiões, temos a sua negação pelo racionalismo ocidental fora e dentro das Igrejas, e a própria festa tomada pelos símbolos do secularismo consumista.
Concordo com o Rev. Ramacés Hartwig, nosso clérigo na Paraíba, que a nossa reação não pode se restringir ao mero lamento, ao mero discurso de denúncia ou a uma necessária renovação do anúncio, mas a um embate de símbolos, com a decoração de motivos natalinos cristãos nos lares e nos templos. No lugar de Papai Noel, o Presépio e a Coroa do Advento, para darmos dois exemplos.
Um Evangelho que não incomoda os Herodes da nossa época; um Evangelho que ainda não se concretizou em Boas Novas para os pobres; um Evangelho que não motiva uma batalha no campo das artes, dos símbolos e do lúdico, é um Evangelho distorcido, parcializado. Alguma coisa está faltando. Os cristãos ultra-místicos que retiram o Evangelho da História para o recôndito da alma, o outro mundo ou o fim do mundo, e os cristãos, que em sua iconoclastia, despojamento, falta de sensibilidade artística ou anti-romanismo primário, procuram enfrentar os símbolos secularizantes com quatro paredes caiadas e um sermão raivoso, se tornam (tantas vezes como inocentes úteis) aliados dos inimigos do Messias.
Cristo Nasceu! Cristo está Nascendo! Cristo Renascerá! "Um abençoado natal para toda comunidade diocesana Anglicana do Recife – territorial e extraterritorial –, para nossos irmãos e amigos em todos os rincões, porque as novas de grande alegria “será para todo o povo” (Lc 2;10b).
Recife (PE), 20 de dezembro de 2007.
+Dom Robinson Cavalcanti
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Texto extraído da Agência Soma.
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