Roberto de Nóbili - um jesuíta que por volta de 1605 ousou viver um cristianismo que se fez indiano com o povo da Índia
(texto extraído do capítulo 6 do livro "Começando de Jerusalém", escrito por John Foster e publicado em português em 1961 pela Imprensa Metodista que narra de forma suscinta e intrigante o avanço missionário e a expansão cristã através de dezessete séculos, começando justamente de Jerusalém).
Em 1605, Roberto de Nóbili, jesuíta de descendência italiana aristocrática, sobrinho de um dos mais famosos cardeais, chegou em Madura, no sul da Índia, centro da cultura hindu tâmil. Ficou desgostoso ao ouvir os cristãos apelidados de "Ferengi", ou seja, europeus, e ao encontrar pouca gente, e assim mesmo pária, forçada completamente a ficar do lado cristão, ou mesmo comprada para isso.
“O cristianismo precisa tornar-se indiano, e precisa conquistar os brâmanes, se quiser ganhar a Índia”. Assim sendo, propôs-se ele mesmo tornar-se um santo nos termos da vida indiana.
Abandonou todos os costumes europeus e vestia-se, comia, vivia e se parecia um indiano. Ainda mais rigoroso, abandonou a língua italiana pela tâmil. E desse modo tornou-se o primeiro europeu a pesquisar a literatura sanscrítica. Ele próprio descreve a sua obra:
“Logo que dominei a língua dei início a discussões, tanto públicas quanto particulares — muitas vezes com brâmanes, que são os letrados desta terra. Neste ano (1609) cinqüenta se converteram, e este é o capital tanto no que tange à erudição quanto à política, e assim a conversão é mais difícil aqui do que em qualquer outro lugar.”
Desde logo a Missão de Madura estava contando 1.000 convertidos por ano, embora apenas um número insignificante de brâmanes. Alguns, ganhos com excessiva facilidade, facilmente se foram. Muitos consideravam essa política um compromisso com o paganismo, até que uma decisão favorável de Roma, em 1623, silenciou tais acusações.
Depois do falecimento de Nóbili (1656) novamente se formou a tempestade. A longa controvérsia, conhecida como "os Ritos de Malabar", continuaram até 1744, quando Roma limitou estritamente a adoção de costumes indianos.
Se a Missão de Madura tivesse a tendência de tornar o cristianismo excessivamente indiano, antes de Nóbili, certamente teria sido muito mais português. Poucos missionários quiçá poderiam ter-se entregues a si mesmos, mais completamente a um país que não o seu próprio, ou ter exemplificado mais plenamente as palavras de São Paulo: "Não pregamos a nós mesmos".
----------------------------------------------------------
Este livro pode ser lido integralmente no site da Igreja Metodista de Vila Isabel.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home