Ecumênicos: Nem que seja em uma NOITE DE PAZ!
Ronan Boechat de Amorim
Depois de ser o professor de uma Classe de Liderança na Escola Dominical de Vila Isabel onde estudamos as Pastorais do Colégio Episcopal (entre elas a Pastoral sobre o Ecumenismo), estava relendo por estes dias o livro “As Crenças Fundamentais dos Metodistas”, e me deparei em sua página 18 com a afirmação de que nós metodistas “cremos na Igreja ecumênica”, “que nos orgulhamos do metodismo” e ainda que nos envergonhamos de não fazermos o máximo para unir todas as denominações numa fraternidade parte e ação íntimas”.
Tenho pensado sobre o lugar da proposta ecumênica hoje em nossa Igreja. E as primeiras perguntas que surgem são: Somos de fato uma igreja ecumênica? Em que nível ou lugar da Igreja concretamente vemos uma prática ecumênica? Com certeza somos ecumênicos em nossos principais documentos, na celebração de algumas cerimônias, em alguns discursos feitos em determinados ambientes favoráveis e exigentes de um discurso ecumênico... mas é algo muito pequeno diante do imenso desafio do ecumenismo. Acredito que já fomos mais ecumênicos do que somos hoje. Curiosamente os primeiros missionarios metodistas norte-americanos que chegaram ao Brasil e que foram perseguidos, humilhados, apedrejados, etc... foram a liderança mais ecumênica que a Igreja Metodista teve no Brasil.
Até a alguns anos atrás, apesar de sempre haver resistências ao ecumenismo, tínhamos uma liderança de fé e prática ecumênica. Hoje já não há, em minha opinião, nem mesmo uma liderança ecumênica, mas pessoas ecumênicas que não estão necessariamente na liderança da Igreja.
Mas eu sou Metodista. E justamente por ser metodista (desde aquele longínquo ano de 1974 quando aceitei a Jesus como meu Senhor, Salvador e Deus, na classe de adolescentes da Escola Dominical da Igreja Metodista em Itaperuna, RJ) tenho aprendido que muito, muito, muito, muito mais importante que a denominação religiosa é ser parte do Corpo de Cristo. Que posso abrigar-me sob o nome e a bandeira Metodista, mas meu supremo desejo, meu alvo imediato e eterno é estar sob o Nome que está acima de todos os nomes, o nome de Jesus Cristo.
Desde então meu coração, o meu ministério pastoral, a comunidade de Vila Isabel onde pastoreio há 12 anos, o culto que prestamos ao Senhor, a Ceia do Senhor (e não a “Ceia da Igreja Metodista”) estão abertos e franqueados à participação de todo aquele que confessa e professa que Jesus Cristo é Senhor.
Preservar a característica ecumênica (a unidade) da Igreja de Jesus, é mais que um desafio, um ideal. Para mim é uma ordenança de Deus: “Sermos um para que o Mundo Creia!”.O Ecumenismo não é uma responsabilidade só da liderança e dos que têm funções de mando e poder eclesiástico, mas um motivo de oração, um desafio e parte da espiritualidade de cada crente. Particularmente dos cristãos metodistas...
Precisamos ter clareza de que ao utilizarmos a expressão "ecumenismo" estamos falando não de juntar todas religiões e nem mesmo juntar todas as igrejas denominacionais numa única Instituição, mas em trabalhar pela unidade do povo de Deus, pelo respeito e pelo reconhecimento do Evangelho na vida dos demais cristãos e não achar que eu e minha denominação somos os "únicos salvos!" É verdade que quando a Igreja Católica fala oficialmente de Ecumenismo ela entende isso apenas como o retorno dos "irmãos separados" (pela Reforma Protestante) à instituição e à teologia e ritos católicos. Mas não deve ser esse reducionismo o nosso entendimento pelo desafio ecumênico. Somos muitos, somos diferentes, somos em determinadas circunstâncias, muito diferentes uns dos outros. Mas Deus nos desafia a nos olharmos e a nos tratarmos com amor e paciência e cuidarmos uns dos outros no temor do Senhor.
Eu não quero e não prego que os metodistas sejam como os batistas ou que os batistas sejam como os pentecostais. Eu quero que os metodistas amem, respeitem, intercedam, se solidarizem, bendigam e abençoem os batistas. E a todos os demais cristãos. E que cada grupo denominacional ame, respeite, interceda, se solidarize, bendiga e abençoe aos demais grupos cristãos... Devemos ser um povo que tem um só Senhor e uma só fé. Para que o mundo creia, nos ensinou Jesus, pois a casa dividida não subsiste. Nossa divisão e falta de amor e respeito é uma vergonha para o Evangelho, pois além de nossa luta não ser contra o sangue e a carne e nem contra as denominações diferentes de mim e da minha denominação, confundimos a cabeça do descrente ao falarmos mutuamente mal uns dos outros. O descrente no Evangelho deve achar que somos um “saco de gatos”... a família esquizofrênica do Príncipe da Paz... pois se não nos entendemos uns com os outros, nem ao menos nos respeitamos e nos bendizemos, como queremos que o mundo entenda a nós, nosso testemunho e nossa fé?
Não devemos fingir ser quem não somos. Devemos ser quem nós somos! Ter nossa própria história, nossas ênfases doutrinárias, nossos ritos, nossa cultura denominacional... Mas isso não nos deve levar à arrogância e à atitude vergonhosa de menosprezarmos e desprezarmos quem é diferente de nós.
A diferença deve ser vista como riqueza, como manifestação concreta da multiforme graça de Deus. Deus nos fez diferentes. Deus levantou comunidades de fé diferentes. Deus nos deu liberdade de adorá-lo com variados ritos, jeitos, ênfases, etc...
E aquilo que temos dificuldades em aceitar no outro, na doutrina do outro, na prática do outro, devemos colocar nas mãos de Deus. Ou seja, não devemos ir pra programas de rádio falar mal uns dos outros, mas ir sim e unicamente em oração e intercessão para o Altar do Senhor para colocarmos quem pensa e crê diferentemente de mim nas mãos do Senhor. Jesus é o Senhor da Igreja. Ele é o árbitro em nossos corações e em todas as nossas querelas e demais situações.
Deixemos que seja o Supremo Pastor a curar nossas feridas e a derrubar toda parede de separação. Deixemos que seja o Supremo Juiz a separar os bodes das ovelhas e o Joio do Trigo... nossa tarefa é adorá-Lo e testemunhar seu maravilhoso amor e salvação. Importa é que o Evangelho (e não nossas instituições denominacionais e dogmas) seja pregado.
Certamente por não termos uma prática ecumênica quotidiana (comprometida com a unidade) nem uma ação educativa para sermos ecumênicos, a cada dia somos mais e mais influenciados e transformados pelas práticas não-ecumênicas, e assim vamos priorizando menos essa questão e nos envergonhando dela. Eles dominam a presença (dita evangélica!) na mídia, seja rádio, tv, editoras, produtoras de Cd, e nas distribuidoras desses materiais. E percebam e pasmem: são os pastores e bispos e bispas e apóstolos e os que se investem de caráter messiânico que dividem o rebanho, que construem as muralhas e as cercas de arame farpado da ideologia religiosa para dividir e "separar" em "guetos denominacionais" parte do povo de Deus dos demais que foram remidos e que têm seus nomes escritos no Livro da Vida.
Ironicamente temos confundido a evangelização ordenada pelo Senhor Jesus com o crescimento numérico das denominações e temos reduzido o discipulado ao doutrinamento. Também temos colocado em lado opostos a vivência ecumênica e evangelização, ou seja, temos tratados esses dois desafios bíblicos (unidade e evangelização) como se fossem práticas distintas e excludentes.
Aparentemente fazemos uma evangelização que não constrói unidade ou optamos por uma unidade que não permite a construção de identidade. Desdenhamos, portanto, a evangelização que constrói concomitantemente evangelização, unidade cristã e identidade. Ou seja, não acreditamos em unidade na pluralidade.
É como se às vésperas desse Natal de 2007, os crentes e as suas comunidades, as diferentes denominações e teologias, estivessem esperando cada qual pela sua própria estrela que nos guiará à Promessa do Menino em Belém, ou tentássemos tão somente cada um de nós “tomar posse” da estrela, para a chamar de sua estrela, unicamente sua. Talvez disputemos a manjedoura, o feno, os lençóis que envolveram Jesus... se tivermos essas coisas talvez nos sintamos mais “donos” de verdades maiores, mais capazes de compreender o sentido do Natal e o que o menino Deus nos revela...
Infelizmente ainda não poderemos nos apresentar ao Menino Jesus como um só povo e um só coração. Pois continuamos brigados uns com os outros, desejando ser melhores que os demais, mais santos, mais verdadeiros, mais numerosos, mais poderosos...
Nem mesmo na Mesa do Senhor (Celebração da Ceia) e no Batismo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo nós temos unidade. Estamos sempre querendo ser os mais certos, os mais puros, os que se assentam imediatamente à esquerda e à direita do Menino Jesus.
Certamente concordaríamos com uma frase, ou melhor, um postulado, atribuído a Rubem Alves que diz que se a cristandade ao longo dos séculos tivesse cantado mais, tivesse passado a maior parte do seu tempo cantando, teríamos tido uma outra história, com menos conflitos, divisões vergonhosas, perseguições, guerras, “santas inquisições”, “o livro do index” e fogueiras...
Precisamos ser mais cristãos e menos "dogmólatras", "formólotras", "ritólatras", "institucionólatras" e "denominacionólatras". Precisamos colocar o Evangelho de Cristo acima de nossas picuinhas, precisamos colocar a vontade de Deus acima da soberania de nossas denominações e instituições humanas. Precisamos colocar nosso compromisso com a Evangelização e a Unidade do Povo de Deus acima de nossas políticas eclesiásticas, de nossa sede de poder eclesiástico e de nossa intenção em conquistar fatias crescentes e significantes do mercado religioso. Nós não somos de Paulo, nem de Apolo, nem de Calvino, nem de Wesley, nem de Lutero... Nós somos de Cristo! Amamos em maior ou menor medida a esses homens e mulheres do passado que tanto nos abençoaram com sua vida, ministério e legados, mas nossa história tem de nos levar para mais perto de Cristo, mais para dentro do Reino, mais e mais submissos à vontade de Jesus, incluindo o desafio da unidade cristã... da unidade na pluralidade.
Precisamos amar mais tal como Jesus nos ensina no maior de todos os mandamentos e deixar que o Espírito Santo nos conduza pelos maravilhosos caminhos da reflexão que canta, da música que teologa e da teologia que ora e da oração que se alimenta da Palavra... mesmo quando nossas experiências religiosas são diferentes...
Até porque fomos chamados por Jesus para crermos e amarmos não somente aos que pensam iguais a nós, mas a todas as pessoas. Até mesmo aos inimigos que nos perseguem, machucam e nos matam.
Cristãos diferentes de nós não podem ser nossos inimigos, mas nossos irmãos.Cristãos diferentes de nós não podem ser nossos inimigos, mas nossos irmãos, eu repito.
Neste Natal, eu gostaria imensamente de poder estar aos pés de Jesus, meu Senhor e Deus, tendo ao meu os demais irmãos e irmãs cristãos, Metodistas, Presbiterianos, Luteranos, Assembleianos, Batistas, Congregacionais, Católicos, Anglicanos, Menonitas, Ortodoxos, Adventistas e das comunidades da Deus é Amor, Universal do Reino de Deus, Católica, Brasil pra Cristo, Evangelho Quadrangular e todos os demais que têm suas vidas entregues ao Salvador Jesus, e por algum momento não discutir quem é o melhor e o maior, o mais salvo e o mais errado, e tão somente em oração contemplar a maravilha e a santidade do Filho de Deus, e poder – por um momento ao menos – dar as mãos, sentir nossos corações como um só, pertencentes a um só Corpo, a um só Senhor e a uma só vocação (a Salvação), e cantar com todo nosso entendimento em adoração, uma tradicional canção, que prenuncie e profetize a Paz, nem que seja somente uma noite de paz.Cristo não está dividido. Não nos apresentemos diante dele como um Corpo dividido, um povo dividido, uma família dividida. Diferentes sim, divididos não. Nem que seja em uma única NOITE DE PAZ:
Noite de paz!
Noite de amor!
Tudo dorme em derredor.
Entre os astros que espargem a luz,
Proclamando o Menino Jesus,
Brilha a estrela da paz!
Noite de paz!
Noite de amor!
Nas campinas ao pastor,
Lindos anjos, mandados por Deus,
Anunciam a nova dos céus:
Nasce o bom Salvador.
Noite de paz!
Noite de amor!
Oh! Que belo resplendor
Ilumina o menino Jesus!
No presépio do mundo eis a luz,
Sol de eterno fulgor!
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