Os (verdadeiros) símbolos do Natal (Luiz Carlos Ramos)
(Cf. Lucas 2.8-20 e Mateus 2.1-11)
O tempo do Natal é um tempo simbólico. As narrativas evangélicas do Natal destacam alguns sinais que marcaram o grande evento pelo qual a glória de Deus visitou a humanidade na simplicidade de uma criança recém nascida.
A narrativa evangélica do Natal de Jesus começa fazendo referência aos pastores que viviam a céu aberto. Esses trabalhadores do campo foram os primeiros a ver no céu o sinal da salvação porque não tinham um teto sobre sua cabeça. Ao que parece, a mensagem do Natal nos nossos dias, para sermos fiéis ao primeiro Natal, deveria alcançar em primeiro lugar os que estão desabrigados, os sem-teto, os sem-terra, os andarilhos, os vigilantes, os porteiros, os que trabalham no sereno ou se revezam nos turnos da noite, e todos aqueles e aquelas que passam as noites sob as estrelas, à espera de uma boa nova de salvação.
Anjos mensageiros povoou o céu na noite do Natal de Jesus, e diz ainda que eles anunciavam uma boa notícia que glorificaria a Deus no céu e traria paz à terra. Os anjos eram mensageiros, portadores de notícias e informações importantes. Ora, os portadores das notícias que nos chegam hoje são os carteiros, os officeboys e os motoboys; são também os jornalistas, repórteres e todos os profissionais que se arriscam para nos trazer informações. Anjos, portanto, são todos aqueles homens e aquelas mulheres que em algum momento nos trazem boa nova que dão alegria, informações que de alguma forma glorificam a Deus e trazem paz à terra.
Maria fora escolhida para ser a mãe de Jesus. Ser mulher e ser pobre, por si só, já significa ter de enfrentar preconceitos e discriminação. No caso de Maria, havia um agravante: além de ser pobre, ela ficou grávida antes de se casar. Se hoje isso já é motivo para muito sofrimento e humilhação, imagine-se essa situação nos tempos bíblicos. Mesmo assim, os pastores foram orientados a procurar por uma mulher que acabara de dar à luz uma criança, porque isso lhes serviria de sinal de que ali encontrariam a salvação. Aprendemos com o Evangelho que uma mulher grávida ou que acaba de dar à luz é mais um dos maravilhosos símbolos do Natal. Seríamos nós capazes de tratar as mulheres grávidas e, em particular, as mães sozinhas e pobres, como portadoras privilegiadas da salvação?
É impossível separar as personagens enigmáticas dos “Magos que vieram do Oriente” do cenário natalino. Desperta-nos a curiosidade o fato de que a criança de Belém se constitui em ponto de encontro de parentes e vizinhos, mas também de desconhecidos e estrangeiros. Sendo do Oriente e sendo magos, esses senhores não professavam a religião de Israel. Observadores de astros, eram uma mistura de astrônomos e astrólogos, meio cientistas e meio feiticeiros. Ainda assim, são recebidos pela família do Salvador. Seria o encontro, aproximação e diálogo entre as diferentes religiões mundiais um dos símbolos do Natal? Os nossos dogmas adultos nos afastam, mas o Deus menino nos aproxima. Não precisamos concordar em tudo, nem acreditar nas mesmas coisas, mas podemos nos encontrar para servir a Deus no serviço uns dos outros, servindo até mesmo aos que não crêem.
Uma “manjedoura” serviu de berço para Jesus, um coxo que servia para alimentar os animais. Um bebê rodeado por animais domésticos, selváticos e mesmo de animais selvagens, coexistindo de forma pacífica, faz parte da tradição messiânica, segundo a qual “o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará.” (Is 11.6-7). E não haveria paz só em relação aos animais, mas em relação a todo o meio ambiente: “Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar” (Is 11.9). O respeito pelos animais, quer sejam domésticos, selváticos ou selvagens, e o cuidado da natureza em geral, sim, esse respeito e esse cuidado fazem parte da essência da mensagem do Natal.
Mas o maior de todos os símbolos bíblicos do Natal é a criança. Os pastores foram orientados a procurar “uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura” (Lc 2.12), e este seria para eles o grande sinal de que estavam diante do “Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.11). Essa criança não tinha berço, nem usava trajes nobres. Contudo, trazia dentro de si um amor tão grande, que foi capaz de salvar o mundo. Encontrar Deus no colo de uma mulher só pode ser uma surpresa fantástica. O Natal não nos fala, então, de um Deus furioso, vingativo e violento; ao contrário, ver as crianças como símbolo do Natal é contemplar um Deus terno, um Deus bom, um Deus alegre. Um Deus como você e eu.
FELIZ NATAL!
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