31 julho, 2006

Carta Pastoral - Bispo Josué

CARTA PASTORAL
ORIENTAÇÕES E ESCLARECIMENTOS À IGREJA METODISTA - QUARTA REGIÃO ECLESIÁSTICA SOBRE A EVASÃO DE MEMBROS LIDERADA POR PASTORES METODISTAS (05/2002)


“Quero trazer à memória...” Lm 3.21

Iniciamos esta Carta Pastoral com as palavras do profeta Jeremias. O texto de Lamentações 3.1-21 registra a percepção do profeta acerca dos sofrimentos pela destruição de Jerusalém e sua memória das circunstâncias que geravam esperança para si e para o povo.

O texto é pertinente neste momento, pois há situações que geram dor, tristeza, desesperança e pesar. Queremos, assim, trazer à memória o que pode ajudar nosso povo a alimentar sua fé, amor e esperança.

O que nos traz esperança
Lembramos os irmãos e irmãs que foram os desbravadores em terras mineiras e capixabas, ao plantar a semente do Evangelho, fixar a bandeira metodista nestes estados e anunciar uma nova maneira de testemunhar a vida cristã através da paz e do amor. Muitos destes desbravadores já se foram. Outros ainda vivem, como vivem também suas lembranças e memórias das lutas, dificuldades e, sobretudo, as vitórias alcançadas em nome do Senhor Jesus.

Estes homens e mulheres de Deus, mesmo no silêncio, nos ensinam muito. Ensinam a tolerância, o amor, a solidariedade, o compromisso com Deus e com a Igreja Metodista. Algumas destas pessoas, baluartes na fé, foram perseguidas no passado, mas nunca, jamais, como bons cristãos, fecharam-se ao diálogo e ao serviço, mesmo com seus perseguidores. Eram homens e mulheres que não se abatiam facilmente. O anúncio do Evangelho era prioridade, mesmo em meio à hostilidade e adversidade. Acima de tudo, priorizaram a prática do amor ensinado por Jesus Cristo (Mt 22.34-40).

Aprendemos muito com estes anônimos e anônimas que nos legaram uma Igreja Metodista genuinamente movida pelo Espírito Santo, fundamentada na Palavra de Deus e capaz de viver na adversidade e diversidade. Trazemos à memória o equilíbrio e a vitalidade que caracterizam a Igreja Metodista: o culto e o serviço; os atos de piedade e as obras de misericórdia; o coração aquecido e a mente transformada pelo conhecimento da Palavra de Deus; a evangelização e a ação social; a doutrina e a prática.

A tolerância com os clérigos e leigos é um fator gerador de esperança na Igreja Metodista. Dentro dos parâmetros humanos, a Igreja vai até onde é possível, como também até onde a Graça de Deus e o Evangelho de Jesus Cristo permitem. Assim ocorre com muitas pessoas. Assim o será com outras. A Igreja só não tolera a indisciplina, seja institucional ou doutrinária, daqueles/as que tentam implantar um novo tipo de igreja com costumes e práticas conflitantes com nossas doutrinas bíblicas e raízes wesleyanas.

Questões usadas para polemizar
Ao trazer à memória circunstâncias que nos trazem esperança, consideramos algumas questões usadas para polemizar e dividir, quando o Reino de Deus nos convida e nos constrange ao serviço, ao amor e à unidade, mesmo nas opiniões divergentes (Atos 15.1-21).

Há alguns pontos polêmicos em evidência. Um deles é o Ecumenismo. Na Pastoral da Igreja Metodista sobre o Ecumenismo, define-se: “ecumenismo não é a união das igrejas em uma única forma institucional. Ecumenismo é, acima de tudo, a afirmação e reconhecimento da diversidade de dons e ministérios concedidos por Deus ao seu povo. Portanto, pode-se dizer que ecumenismo é a busca e vivência da unidade na diversidade” (p. 12).

Quando a Igreja Metodista expressa o ecumenismo em seus documentos, não está proclamando unidade institucional com as demais Igrejas Cristãs, muito menos com a Igreja Católica, mas o diálogo e serviço que podem contribuir para o bem-estar de toda a coletividade. Aliás, em se tratando do ecumenismo com os católicos, a Igreja Metodista é crítica. A Pastoral sobre Ecumenismo afirma que o culto à Maria, à infabilidade papal e à idolatria, além de outros aspectos, são sérios impedimentos ao relacionamento ecumênico (p. 81). A Igreja Metodista também não participa de celebrações ecumênicas com grupos religiosos que não sejam reconhecidamente da tradição cristã.

O ecumenismo com a Igreja Católica é de diálogo, pois não podemos nos fechar a isto, uma vez que Jesus Cristo dialogou com samaritanos e gentios (Jo 12.20-33). Pedro não queria o diálogo com eles, todavia prevaleceu a prática da Igreja Primitiva (Atos 15.1-21). Algumas celebrações ecumênicas podem ser realizadas como casamentos, formaturas, cultos cívicos. Basta que a liturgia seja ecumênica e preparada com a participação dos metodistas.

A filiação ao Conic foi decidida pelo XIII Concílio Geral em 1982. Não foi uma decisão do Colégio Episcopal. No XVII Concílio Geral, realizado em Julho de 2001, o assunto da filiação ao Conic foi novamente discutido e aprovada a permanência da Igreja Metodista neste órgão. Não foi uma decisão de alguns, mas uma decisão conciliar que contou com a participação de delegados de todas as Regiões Eclesiásticas. É bom salientar que a Igreja Metodista é, historicamente, conciliar, isto é, seus passos advêm de decisões de seus Concílios Gerais.

Outra questão usada para polemizar é a maçonaria. A Igreja Metodista não está sob o jugo desta sociedade chamada secreta. As orientações do Colégio Episcopal sobre o assunto são bem claras e específicas: a) A Igreja Metodista não recomenda que seus membros participem de sociedades secretas e de associações religiosas que não professem os princípios de fé aceitos pelo Metodismo Mundial; b) A Igreja Metodista convida o possível metodista participante de sociedades secretas, como Maçonaria e outras, a observar os compromissos assumidos e verificar sua fundamentação bíblica e doutrinária. O princípio que os metodistas seguem é buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua Justiça (Mt 6.33); c) Os metodistas que um dia se filiaram à Maçonaria e desejem se afastar, encontrarão o apoio e a compreensão da Igreja que acredita no poder da Graça de Deus para gerar nova vida em Cristo Jesus.

O que tem trazido desesperança
Os pastores que solicitaram afastamento do ministério pastoral da Igreja nos últimos anos, fundamentaram seu desligamento no ecumenismo, na maçonaria e na itinerância pastoral. Estes ministros redigiram cartas de apoio para suas atitudes por meio de inverdades e fatos distorcidos para confundir os recém-convertidos.

Tais pastores, antes de formalizar sua saída, envolvem a membresia da igreja local que pastoreiam e criam divisões entre as famílias metodistas. São pastores que foram acolhidos com muito carinho pela Igreja Metodista, receberam apoio para o estudo teológico e sustento de suas famílias, mas, ao se desligarem, procuram convencer outros a segui-los, numa atitude anticristã. Eles fazem uso de sofismas para justificar um anseio pessoal.

Estes atos causam dor e desesperança. Qualquer pessoa tem o direito de entrar e sair da Igreja Metodista. Só não tem o direito de envolver inocentes e induzi-los a participar de um ato reprovável e antibíblico como a divisão no Corpo de Cristo.

Alguns destes clérigos promovem a dilapidação da Igreja. Outros perseguem aqueles que são metodistas convictos e ainda assediam membros de outras igrejas metodistas, mesmo tendo firmado compromisso com o bispo de que não fariam tal atitude. Recentemente um destes pastores chegou ao extremo de ir ao velório de uma metodista tradicional de nossa Igreja para “panfletar”, entregando convites para os enlutados para participarem da igreja autônoma que fundara para si e assim atender seus anseios pessoais.

Estes pastores nada dizem do apoio que receberam da Igreja Metodista e dos bispos. Ocupavam cargos e posições de confiança, por eleição ou nomeação. No entanto, ao saírem, não tiveram a gentileza de tornar público a forma respeitosa como foram e continuam sendo tratados, em que pese suas atitudes pouco cristãs. Encontraram liberdade na Igreja Metodista para evangelizar, para pregar a Palavra de Deus, ministrar os sacramentos, realizar casamentos e outros atos pastorais e agora cometem injustiça contra a Igreja que os amou e acolheu, atingindo com inverdades as autoridades legitimamente constituídas pelos Concílios Gerais.

Aqueles que provocam estas rupturas, veiculam maledicências contra a Igreja Metodista e suas autoridades. Afirmam que os bispos são vinculados à sociedades secretas; que a Igreja Metodista vai adorar imagens e que os púlpitos serão ocupados por sacerdotes católicos e religiosos de outros grupos heréticos. São inverdades, calúnias e palavras covardes com o objetivo de atingir a imagem da Igreja Metodista e daqueles que permanecem fiéis ao Evangelho, ao Reino de Deus e às tradições, desafios e anseios a nós confiados há mais de 250 anos.

Alguns destes pastores afirmam, de maneira injusta e maldosa, que o bispo da Quarta Região Eclesiástica é contra o avivamento. Gostaria de informar que tenho expressado meu compromisso com o avivamento em textos publicados no Diálogo Pastoral. Mas, para dirimir dúvidas, reafirmo que o avivamento do qual participo e promovo é o genuíno avivamento bíblico e preconizado por João Wesley, o que ocorre no coração, como fruto da presença do Espírito Santo e ação da Graça de Deus. O avivamento que divide, que cria a rebeldia, promove a maledicência e a soberba espiritual, não tem o meu apoio.

Reprovamos veementemente esta conduta e reafirmamos, com orgulho cristão e dignidade: Jamais, em qualquer uma de nossas instituições de ensino, púlpitos e demais segmentos de nossa igreja, ensinamos ou oferecemos exemplo destas condutas. Tais atos não se assemelham, nem ao menos de longe, a qualquer uma de nossas posições ou doutrinas. O metodista é alguém que busca realizar e participar da missão de Deus sem buscar proveito pessoal a partir do demérito de outrem.

Como pastor e bispo da Igreja Metodista, esclareço aos irmãos e irmãs que os pastores que assim procedem, deixam o ministério pastoral por livre e espontânea vontade. Informo que, mesmo após muito diálogo e encontros com o Ministério de Ação Episcopal, com o fim de demovê-los desta atitude de afastamento, não houve deles a disposição em permanecer e acatar os desafios missionários e pastorais que a Igreja Metodista lhes apresentava. Não dispostos em continuar, recusaram a nomeação pastoral entregando suas credenciais de pastor metodista.

Quero também lamentar o crescimento de estranhas idéias, especialmente no âmbito das igrejas neo-pentecostais, a que o apóstolo Paulo chamou de "outro evangelho" (Gl 1.6). Paulo estava advertindo aos irmãos e irmãs da igreja em Gálatas para o perigo de apropriarem-se de práticas espúrias aos princípios cristãos. Repilo com toda a energia a aproximação dessa teoria pós-cristã. Sendo assim, chamo a atenção do ministério pastoral sobre a ameaça herética que invade os nossos campos de trabalho. Não tenho dúvidas que precisamos mais e mais estudar, com seriedade e competência, a Bíblia e os principais documentos de fé que a Igreja Cristã produziu ao longo de dois mil anos.

Irmãos e irmãs, conclamo a todos/as os/as metodistas da Quarta Região a continuarem amando a nossa Igreja, participar ativamente dos desafios missionários propostos pelos Concílios Geral e Regional e atender aos princípios bíblicos presentes nos documentos e pastorais do Colégio Episcopal. Lembrem-se que somos uma Igreja conciliar, missionária, ministerial, conexional e de governo episcopal. Não somos uma igreja congregacional, onde o governo recai sobre o autoritarismo ou personalismo que muitos querem implantar em nossa Igreja. Desta forma, estejamos unidos pois a seara mineira e capixaba é grande e nos chama para evangelizar e colher os frutos do testemunho do Evangelho.

Concluímos esta pastoral com as palavras do profeta: “as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se a cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lm 3.22-23)


Josué Adam Lazier
Bispo da Igreja Metodista
Quarta Região Eclesiástica
Minas Gerais e Espírito Santo
Maio de 2002

1 Comments:

At agosto 01, 2006, Blogger Luis Cardoso said...

Reverendíssimo e amado Bispo Josué,

Sua fala foi, como sempre, pautada pela Bíblia e pela elegância e amor que lhe é peculiar.

Suas informações ajudam a todos/as os metodistas a compreenderem o cursos que há tempos vem seguindo alguns pastores(as) que se infiltraram na Igreja Metodista, beberam de seus recursos financeiros e institucionais com o um único intuito: Transformá-la naquilo que ela não é, ou seja uma Igreja sem bases históricas; sem norte teológico e neo-pentecostal.

Lamentavelmente a Igreja Metodista de Wesley há tempos vem "pecando" por ser ingênua e abrir suas portas aos pastores/as que, tais quais como o senhor citou, usam a igreja para atinguir objetivos pessoais; fazendo nome e sendo alimentados pelos dizímos dos fiéis e depois colhendo-os para suas "novas igrejas".

A Igreja Metodista de Wesley há muito vem "pecando" pelo ecesso de amor e bondade que a faz acolher lobos vestidos de cordeiros. Vem "pecando" pelo ecesso de tolerância. Ora, em situações em que não se segue o juramamento feito concordando com o caminhar da Igreja Metodista, não se deveria esperar a entrega das credências; elas deveriam ser tomadas; antes que houvesse tempo para prosetismo dentro da igreja.

E por último, como parte do corpo que sofre e lamenta essa situação em que vemos a Igreja Metodista sendo transformada em outra coisa, outro movimento; outro ramo neo-pentecostal repleto de crendices e "visões" do movimento G-12; encontro com Deus e implantações de modelos de discipulados autoritários e burros; diria que antes de serem aceitos como pastores(as) os candidatos(as) deveriam "provar" conhecimento profundo de Wesley e da Igreja Metodista.

Obrigada por compartilhar e parabéns por seu ministério que conhecendo-o como o conheço, não tenho dúvida que foi sempre exercido com o mais profundo amor, compromisso e ética pessoal e cristã.

Fraternalmente,

Maria Newnum - Sua Irmã e Ex-aluna

 

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