UTOPIA (IM)POSSÍVEL?
Pedi ao moderador desse espaço para integrá-lo. Queria contribuir com a minha experiência cristã, adquirida a muito custo, porque saí do catolicismo romano com 40 anos de idade e cheia do “ranço” anti-católico que normalmente os “convertidos” levam para as denominações evangélicas. Isso porque, toda ruptura é difícil e causa mágoas, provoca estragos, cria desavenças.
No entanto, como me sei passional (talvez por ser poeta e não saber calar a minha dor) e impulsiva, esperei passar um pouco o susto, a decepção, a raiva (sim, raiva – também sou humana!) a fim de escrever, esperando que agora eu consiga ser um pouco mais lógica e racional.
Escolhi a Igreja Metodista porque havia estudado no Instituto Educacional Mineiro, educandário mantido pela Igreja Metodista em Carlos Prates-BH, cuja diretora foi Marianna Allen Peterson, a qual já havia plantado no meu coração a semente do amor por essa igreja, sua história e sua doutrina. Fui, pois, para o Metodismo mas, embora já tivesse algum conhecimento sobre ele, estava disposta a ser uma “cristã de fato”, livre da “idolatria” católica e não queria nem ouvir falar nos católicos como irmãos, porque eu julgava que os meus irmãos eram “aqueles que faziam a obra de meu Pai”... Como tinha descoberto a “verdade” acerca da salvação e ignorante nos meus arroubos de primeiro-amor por Jesus e congregando numa igreja local que passava por uma de suas crises de identidade mais sérias e que por isso deixava-se levar por um carismatismo, no mínimo, contestável, não conseguia ver essa mesma obra sendo alicerçada nas demais religiões, muito menos naquela para a qual eu dava as costas: o catolicismo romano.
Aos seis meses de conversão passei a fazer seminário. Ingressei no Seminário Bíblico Mineiro, indenominacional. Ali convivi com diversos irmãos de várias denominações evangélicas, conheci seus cultos, seus costumes e aprendi a respeitar as diferenças que passei a identificar no “nosso” próprio meio. Depois de dois anos, passei a fazer o Seminário na IM Central de BH e, concluindo o Básico em Teologia, fui para a Faculdade de Teologia fazer o Curso Teológico Pastoral por Extensão, visto que não poderia me mudar para SBernardo, por motivos familiares.
Por que conto tudo isso? Porque foi ali que eu, de fato, me converti! Vemos muita gente dizer que a Faculdade de Teologia mata a fé e solapa a espiritualidade. Que ali aprendemos a alimentar o intelecto, a ser coniventes com o “pecado” e a sacrificarmos a nossa vida devocional. Que grande mentira! Ali, amados, foi que eu aprendi a amar de fato a minha Igreja, a conhecer os mais de dois séculos de História, a reconhecer os seus feitos, a valorizar o seu jeito de ser cristão(ã) e, principalmente, a reconhecer a absoluta necessidade alteridade, de converter-me ao outro se de fato o meu coração era convertido à causa do Evangelho.
Divago, eu sei... acho que ainda não estava preparada para falar. Sei que, ainda, não estou conseguindo ser racional. Mas, era preciso que eu me manifestasse, mesmo que assim, à esmo, a fim de conter esse caudal de emoção que se me represa no peito. A fim de tentar entender as decisões conciliares que me parecem tão díspares daquilo tudo que eu aprendi nessa minha caminhada de quase 12 anos de estudos teológicos e de vivência cristã na Igreja Metodista.
Sinto-me, como muitos já disseram aqui, de uma ou de outra forma, órfã de Igreja. Órfã dos valores que eu, a custo, consegui agregar, o mais importante deles, a minha “conversão ao ecumenismo”. A partir da experiência ecumênica, foi que aprendi a dar razão da MINHA fé, a não temer o confronto com o diferente, a reconhecer a ação do Espírito Santo em todas as manifestações religiosas, porque, afinal, Ele, o Espírito, não pode ser formatado numa caixinha e muito menos é propriedade nossa.
Agora, eu me pergunto: Unidade na Diversidade é uma Utopia? E, se é, essa utopia é possível? É ainda possível, amados, preservarmos o vínculo do amor e da união, da solidariedade e da tolerância, apesar desse baque que se abateu sobre a vida da igreja (porque o golpe não foi dado apenas em nós, ecumênicos, mas em todo o Corpo de Cristo, ainda que os contrários digam que não)?
É possível que seja revista essa decisão que representa um retrocesso histórico e uma abertura a mudanças estruturais ainda maiores na Igreja e dá margem ao abandono de todo o nosso jeito de ser Metodista, fazendo com que tenhamos o vislumbre (pra mim, assustador!) de uma igreja pentecostalizada e “emburrecida”, fechada em si mesma e fadada a um crescimento quantitativo com perda total de propósito da missão?
Como líder do Ministério de Ensino de minha igreja local, professora de ED, integrante do Ministério de Comunicação, além de escritora e poeta, sinto-me culpada. Deveria ter repassado aquilo tudo que aprendi, não só na Faculdade de Teologia, como nas ações ecumênicas (como a Pastoral Carcerária, da qual participei com a igreja Católica, além de outros encontros para discussão e celebração) aos meus alunos e divulgado a causa do ecumenismo com mais ardor e fé. Penitencio-me, agora.
Enfim... acho mesmo que me precipitei em escrever. Não consegui ver neste meu texto, a lógica e a contribuição que eu pretendia dar.
Desculpem, irmãos. Vejam-no, então, apenas como desabafo.
Abraços ecumênicos
Terezinha de Lisieux (lisieux, como gosto de ser chamada)
Igreja Metodista Central de BH - MG
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