Com a mesma moeda?
Quando eu era menino, houve uma eleição muito disputada para prefeito em minha cidade. Lembro-me que a oposição da época conseguiu chegar ao poder com uma votação expressiva. Em nossa rua, moravam pessoas dos dois segmentos e, da mesma forma, extremadas. Quando saiu o resultado, como que por despique, a ala opositora que acabara de chegar ao poder, imediatamente se muniu com fogos e foi festejar sua vitória exatamente na frente da residência dos derrotados. Nem é preciso dizer que houve uma confusão sem igual, inclusive com polícia.
Já se vão muitos anos e, repetidamente, revejo aquele fato de minha infância se repetir. Derrotados afrontados pelos seus opositores, cultivando novos insultos para quando estiverem novamente no poder, vez de espezinhar os adversários. Assim caminha a humanidade... e assim ela se consome... se desgasta, se empobrece, de picuinha em picuinha, de ultraje em ultraje, de injúria em injúria.
Seja na política ou no futebol, na família, na escola ou na igreja... vivemos e revivemos este carrossel que faz da discriminação moeda de troca e valor de vida nos relacionamentos que temos. Em várias situações somos derrotados, em outras vencedores... não há esse ou aquele que possa se vangloriar mais ou menos, porque a vida é cheia de altos e baixos pra todo mundo.
É por isso que não podemos cair na tentação de entrar na roda da ofensa ou da discriminação... nossa resposta tem que ser renovadora, transformadora, inspiradora num mundo que só sabe devolver o que recebeu... sem acréscimos, sem melhoria. Esta é a proposta de Cristo... de aprendermos a elevar o nível quando isto estiver em nossas mãos!
Devolver paz quando nos oferecerem guerra... retribuir amor quando nos atingirem com o ódio!Pagar com a mesma moeda, pra Jesus, é coisa do passado... agora, a proposta é transcender o “dente por dente, olho por olho” e ter a capacidade de “andar a segunda milha”, “oferecer a outra face”.
A vida é extensa demais pra alguém se achar ganhador ou perdedor! É na sucessão de erros e acertos, vitórias e derrotas que somos melhorados no decorrer do tempo. Mas isto não quer dizer que conseguiremos sempre nos manter num só lado destas duas realidades. Por isso mesmo, ninguém tem o direito de discriminar! A transformação do mundo só acontecerá no dia em que as derrotas e as vitórias forem consideradas parte de um processo maior, portanto, indignas de muita atenção, de muito choro ou de muita euforia!
Discriminar é considerar o que não existe, que o/a outro/a é menos ou mais porque é diferente, portanto, merecedor/a de ser colocado/a longe, à parte, fora de nossa alegria ou de nossa tristeza! Em muitos momentos da vida as conquistas virão e, mais que nas derrotas, precisamos lembrar que, como seguidores de Cristo, os valores devem mudar, as respostas precisam ser diferentes, porque assim acabarão as separações, as distâncias, as alturas e as depressões!
Talvez fosse certo parafrasearmos Jesus dizendo, enquanto depender de vós tende consideração para com todos... porque assim o mundo andará na direção de Cristo, com menos diferenças, com menos discriminação.
Precisamos pensar nosso cristianismo a partir desse prisma, entendendo que, queiramos ou não, a vitória ou a derrota de um é a vitória ou a derrota de todos! Ninguém consegue se afastar tanto do outro a ponto de não sentir os bons ou maus resultados que ele tem! Existem laços que nos conduzem de igual modo!
Se fomos discriminados, precisamos devolver isto de um jeito novo, renovador, que nos melhore, que nos faça transcender, superar a limitação de quem nos ofendeu! Se discriminamos, precisamos procurar reverter isso, promovendo a inclusão das diferenças, porque é nela que está a nossa chance de sermos renovados a cada dia!
Não é possível pagar discriminação com discriminação, isto é um equívoco grave para o cristianismo!Que Deus nos ajude a vivermos as mudanças que pregamos!
Na graça e na paz,
Rev. Nilson da Silva Jr.
5a RE
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