24 agosto, 2006

Cooperação marca o novo momento ecumênico, diz pesquisador

LONDRINA, 23 de agosto (ALC) – O movimento ecumênico no Brasil vive um novo momento, caracterizado pela articulação e cooperação. Igrejas e organismos começam a trabalhar em conjunto, principalmente através de redes, forçadas pela conjuntura nacional do país, que exige postura e ações concretas de intervenção.

A avaliação é do coordenador do mapeamento e diagnóstico do movimento ecumênico no Brasil, o cientista da religião Darli Alves de Souza, em relatório preparado para o Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), que vai rediscutir sua missão, diretrizes e linhas de ação na V Assembléia Geral, agendada para Buenos Aires, dias 19 a 25 de fevereiro de 2007.

“Um novo mundo ecumênico é possível”, destaca Souza no relatório. No Brasil, não faz mais sentido a antiga divisão entre evangelicais e liberais, entre seguidores do Pacto de Lausanne e do Conselho Mundial de Igrejas. As relações ecumênicas já superaram esse paradigma, assinala o cientista da religião, embora ainda existam tensões nesse espaço.

O grande desafio para o movimento ecumênico é a necessidade de maior inserção junto à comunidade local. Souza propõe, para tanto, ações de formação ecumênica e atividades pontuais no contexto local. “É necessário buscar alternativas para ser mais ‘sal da terra’ e ‘luz do mundo’. O povo das igrejas precisa sentir o importante e gostoso sabor de ser ecumênico”, afirma o pesquisador.

Na sociedade da informação e da tecnologia “é necessário oferecer respostas mais rápidas e contextualizadas”, e utilizar os meios de comunicação modernos para envolver mais pessoas para o ideal ecumênico, sugere.

Souza detecta, na análise do espectro religioso atual no país, dificuldades que igrejas protestantes tradicionais estão passando por causa de concessões feitas aos movimentos carismáticos internos no decorrer dos anos, o que resultou na “descaracterização de suas identidades e tradições, fruto da concorrência no mercado de bens simbólicos”.

Ele também assinala a importância do diálogo amplo e aberto com os pentecostais, de melhorar a relação ecumênica entre protestantes e católicos e, a partir daí, “alargar as fronteiras em direção às outras religiões que pertencem à ‘oikumene’. Sem esta predisposição o ecumenismo não será pleno”, vaticina.

O “Diagnóstico do Movimento Ecumênico no Brasil”, título do documento, aponta que existem no país vários modelos de vivência ecumênica, o que possibilita uma rica e ampla experiência.

Entre esses modelos, Souza arrola o ecumenismo pleno, vivenciado para além das fronteiras do cristianismo, como é o caso da organização espírita Legião da Boa Vontade, que tem como principais áreas de atuação a promoção social e humana, a formação da cidadania ecumênica, a educação e cultura com espiritualidade. Outro tipo de vivência ecumênica plena é a experiência dos movimentos populares, livres de doutrinas, agindo diante de questões concretas do cotidiano.

Um segundo modelo de vivência ecumênica, segundo análise preparada por Souza, é o ecumenismo entre cristãos, que se dá em entidades como o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), o Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEP), com a presença de católicos romanos.

O ecumenismo evangélico, um terceiro modelo, congrega cristãos protestantes, pentecostais e evangélicos, o que se verifica, por exemplo, no espaço promovido pelo CLAI, pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), Diaconia, Visão Mundial, Movimento Evangélico Progressista e nas inúmeras Associações e Conselhos de Pastores, que proliferam nas cidades de grande porte.

Souza também aponta para os não-ecumênicos, grupos, organizações e igrejas que não se identificam com nenhum dos três modelos enunciados e que rejeitam qualquer possibilidade de relacionamento ecumênico, como é o caso dos fundamentalistas e os pertencentes às religiões de mercado, nem todas de inspiração cristã, que comercializam bens simbólicos.

Nesse novo momento de articulação e cooperação em que se encontra o movimento ecumênico brasileiro, Souza destaca o papel do FE-Brasil, uma das mais importantes experiências de trabalho em rede, que começou em 1994 como Compartir Ecumênico de Recursos, motivado pelo CMI.

Apesar desses avanços, Souza frisa que é preciso desmistificar, de maneira definitiva, a concepção errônea de que ecumenismo é sinônimo de fusão de igrejas. O pesquisador destaca que o movimento ecumênico precisa de novos paradigmas num contexto de sociedade plural.

A Igreja, aponta Souza no Diagnóstico, “está sendo desafiada pela sociedade cada vez mais ‘religiosa’ e menos disposta a se constituir como ‘igreja’ sob doutrinas canônicas. O que importa, muitas vezes, é o ‘mercado de bens simbólicos’”, aponta.

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