24 agosto, 2006

Uma lembrança ...

Tenho pensado muito, e sofrido como muitos, quanto à decisão conciliar... nesses tempos, uma situação vivida no pastorado do meu pai, Rev. Goodwin - sempre acompanhado pela minha mãe, dona Jô - veio-me à mente...

Os dois encerraram o seu ministério missionário da ativa na Igreja Metodista em Linhares, ES. Era uma tentativa de repensar as práticas e as vivências da igreja, questionando seu formato tradicional e sua inserção na sociedade. Eram os anos do processo de abertura democrática e reaprendizagem das relações políticas. Muitas decepções, muitas tensões, muitos desafios.
No norte do Espírito Santo, a luta pela terra avançava, enfrentando jagunços, e um aparelho oficial permeado pelos interesses de latifundiários e bandidos - como hoje vemos claramente! Em meio a isso tudo, uma comunidade de assentados sofreu um duro golpe: o bispo católico proibiu os padres de levarem àquele grupo a eucaristia, como castigo por terem se rebelado contra o status quo do poder regional. Esse grupo procurou a Igreja Metodista, procurou o pastor metodista local, e colocou as coisas nos seguintes termos: "nós não queremos deixar de ser católicos, mas também não queremos deixar de comungar. Você poderia vir ministrar a ceia para nós, regularmente, e conduzir-nos em oração diante de Deus?"

Na família, até hoje, brincamos com meu pai sobre isso, sobre o tempo em que ele pastoreou uma igreja católica. Pois foi isso que aconteceu. Para além de nossas questões teológicas - transubstanciação, consubstanciação etc. - e para além das formalidades rituais e formais, eles viveram ali uma profunda experiência ecumênica. Como recitamos em nosso Ritual da Ceia do Senhor, a Mesa pertence a Ele, é Ele, Senhor Ressureto e Presente, quem nos convida a comungar...

Agora nós, metodistas, ousamos nos colocar no lugar Dele, e decidirmos com quem podemos sentar ou não, afastando de nós aqueles que julgamos menos santos que nós -e ao mesmo tempo renegando tudo aquilo que sempre nos identificou...

Ainda bem que aqueles assentados não precisaram pedir ajuda a outros pastores e pastoras que agora campeiam pela Quarta Região Eclesiástica. Talvez fossem duplamente excomungados...
Que Deus tenha misericórida de nós, e continue a abrir as portas para nós, como lembrou a Magali em mensagem aqui postada...

Graça e Paz - se o seu coração é como o meu, dá-me tua mão...

James William Goodwin Jr.
jamesg@uai.com.br