04 agosto, 2006

Na Crista da Onda do Início do 3º Milênio

Por: Derrer Homer Santee

O 18° Concílio Geral da Igreja Metodista

O início do terceiro milênio está sendo marcado por um fenômeno assustador – movimentos fundamentalistas dentro das três grandes religiões monoteístas, islamismo, cristianismo e judaísmo. O primeiro choque foi no dia 11 de setembro de 2001 quando fundamentalistas islâmicos destruíram as torres gêmeas do World Trade Center em Nova York. O segundo foi a reação do presidente Norte Americano com a ocupação brutal do Iraque, influenciado pela sua base eleitoral, os fundamentalistas cristãos dos Estados Unidos. Estamos assistindo o terceiro choque: o fundamentalismo judaico, que controla a política do governo de Israel: está impiedosamente matando centenas de Libaneses com suas armas poderosas, a grande maioria mulheres e crianças inocentes que apenas querem viver em paz.

O fundamentalismo moderno teve suas origens no século passado e os fundamentalistas das três religiões têm muito em comum. Todos visam o retorno da sua religião à pureza das suas origens, defendendo os fundamentos da fé. Interpretam suas escrituras ao pé da letra e se sentem “divinamente chamados” para cumprir a missão de renovação. Cada uma das três considera a sua religião como única e verdadeira. Não há espaço para diálogo porque suas “verdades” são divinas e não podem ser comprometidas. Os que não compartilham com eles são considerados maus e inimigos a serem convertidos, neutralizados ou destruídos. Dentro de cada uma das três religiões monoteístas há grupos fundamentalistas rivais, brigando entre si. A grande ironia histórica é que, no zelo de promover sua causa, a essência da fé se torna vítima. A misericórdia de Alá, a justiça bondosa de Javé, e o amor incondicional de Jesus são ignorados. Vale tudo para cada um atingir seu alvo.

Quem presta atenção pode ver estas forças operando nos noticiários da TV, dos jornais e das revistas. As guerras no Oriente Médio e a política dos Estados Unidos são exemplos claros. No âmbito religioso do Brasil este fenômeno é muito evidente. O cristianismo é uma verdadeira Babilônia de línguas e mal entendimentos, cada um tentando “vender seu peixe”, desprezando o peixe dos outros!...

Já fui fundamentalista e carismático. Entendo a sua mentalidade. Antes de eu possuir subsídios para ter uma visão crítica, fui fundamentalista e carismático convicto. O movimento carismático protestante é na essência, fundamentalista, assumindo suas atitudes e táticas. Dentro do protestantismo brasileiro o espírito fundamentalista é muito forte, especialmente no âmbito carismático. O movimento carismático metodista não foge a regra.

O movimento julga ter uma espiritualidade superior aos outros e procura se distanciar dos que não têm a mesma visão. Confundem seu movimento com o Reino de Deus e acham que suas conquistas são vitórias Divinas. Seu objetivo é tomar o poder e dominar a igreja, imprimindo sua imagem. Colocam os demais como condenados de Deus e recusam associar a eles como irmãos. É a continuação da história de Caím que recusou dar tratamento de irmão para Abel ou da parábola do filho mais velho que recusou se aproximar do seu irmão mais jovem.

É diante deste pano de fundo que analiso os acontecimentos do 18º Concílio Geral. Não estive presente, mas tenho procurado ler o que está sendo publicado. Fico com a impressão que a dinâmica do Concílio Geral não era em nada diferente do que o do Congresso Nacional ou qualquer outra assembléia política. Mas tudo era feito em nome do Espírito Santo.

Será que este Concílio Geral, não foi o palco de jogo de poder feito em nome do Espírito Santo? Será que a maioria dos delegados não foi cuidadosamente escolhida e instruída, chegando ao Concílio com sua agenda já pronta? Será que os debates não foram uma série de monólogos? Pelo que tenho lido e pela minha participação em outros concílios, há muito para indicar que este foi o caso.

As decisões do 18º Concílio parecem dentro da onda de radicalismo e alienação que está dominando o cenário político e religioso do mundo onde a luta é pelo poder neste início do milênio. Um grupo dentro do metodismo brasileiro (o movimento carismático) tomou o poder com a finalidade de impor sua agenda.

O Colégio dos Bispos é dominado por uma só linha de pensamento. Há pouco pluralismo.

Na sua decisão de se retirar de entidades ecumênicas o metodismo brasileiro se isolou não somente de outras igrejas que professam Cristo, mas do metodismo mundial! Deixou de ser Wesleyano.

Parece que o 18º Concílio Regional da Igreja Metodista estava mesmo na crista da onda deste o início do terceiro milênio.

Derrel Homer Santee
Campinas-SP, agosto de 2006