Debate democrático e necessário
Tenho sido beneficiado pela leitura das manifestações neste espaço ecumênico e metodista. Encontrei hoje a carta do Bispo Josué, muito esclarecedora no tocante aos mecanismos e atitudes de parte da IMB em sua região, ao mesmo tempo que reafirma o ecumenismo como elemento constitutivo da identidade metodista. Encontrei também o artigo do meu querido amigo Fernando Oshige - fomos colegas na Faculdade de Teologia em 1968 - que é tão aberto quanto tolerante em relação às novas igrejas e ao movimento pentecostal na América Latina.
Assim, gostaria de compartilhar uma reflexão que me é sugerida neste momento por ambas as manifestações, mas que se desenha no Brasil há alguns anos.
Primeiro: o avanço recente do diversificado mundo evangélico no campo da política (partidos, parlamentos, governos), depois de décadas de recusa a este tipo de participação, tem sido maculado por procedimentos de corrupção e de uso privado dos bens e recursos públicos.
É certo que haverá inúmeros exemplos de participação e contribuição democrática de evangélicos na política. Lembro e homenageio aqui o Rev. Elias Abraão, pastor presbiteriano durante décadas em Curitiba, tendo sido professor, secretário de Educação e Meio Ambiente; foi excelente deputado federal (PMDB-PR) e presidiu com maestria a Comissão de Educação lá por 1994. Conheci-o de perto, fui seu amigo durante anos e sei de sua intensa preocupação social e integridade pessoal e política. Como disse, haverá muitos outros. Elias Abraão faleceu precocemente numa campanha política.
Segundo: a despeito dos que agem democraticamente, a avalanche evangélica na política imprime projetos de poder incompatíveis com o caráter republicano e democrático do Brasil seja pelo grau de corrupção de suas práticas (quantos não fazem parte do mensalão e do esquema das ambulâncias!), seja pela perspectiva de implantação de um "reino de deus" que não poderá dispensar mecanismos autoritários. No momento, o que mais destaca a presença pública destes novos donos da política são a criação e-ou o domínio de partidos políticos, a formação de bancadas pluri-partidárias que cultivam posições estritamente conservadoras quanto à vida moral e uma voracidade na apropriação de recursos públicos, além da clara e aberta prática de manipulação de votos dos membros de suas igrejas. Há lideranças evangélicas que negociam milhares de votos, elegem pastores e bispos em regiões às quais não pertencem; enfim, aproveitam-se das liberdades democráticas e, a seguir, voltam-se contra elas.
Terceiro: tenho a impressão de que a IMB está vivendo uma manifestação pequena e tímida dos traços anti-democráticos e messiânicos (não me refiro aqui à corrupção, é certo) que procurei desenhar em meus comentários. O risco é imenso, inclusive o de perdurar durante anos como ocorreu em outras igrejas históricas.
Um abraço
Eliézer Rizzo de Oliveira
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