11 setembro, 2006

Para manter fiéis, Metodista diz não ao ecumenismo

Terra Magazine
Segunda, 11 de setembro de 2006, 07h31

Antoine Morel

Em julho último, em Concílio Geral, a Igreja Metodista, notável representante do protestantismo histórico, decidiu não mais fazer parte de qualquer culto, organização ou festividade ecumênica em que a Igreja Católica e grupos não-cristãos estivessem presentes.

O líder da região de Minas Gerais e Espírito Santos da Metodista, Antonio Lutero de Oliveira, afirmou que o ecumenismo nunca foi bom para a sua igreja. "Não trouxe qualquer benefício para a Igreja Metodista. Se fosse só o diálogo, tudo bem, mas o diálogo foi só a porta de entrada para celebrações, festas com diversas religiões... Teve uma debandada muito grande por causa do ecumenismo. Perdemos muitos membros da igreja, inclusive pastores", explicou, enfatizando ser a perda de fiéis a principal razão para a nova postura.

Lutero, que atua nos estados que mais lutaram a favor da medida, afirma que a "debandada" foi de dois mil dos 20 mil membros na sua região nos últimos seis anos. Para se ter uma idéia, atualmente - segundo o mais recente Censo do IBGE de 2000 - 73,2% da população brasileira é católica e 15,41% é protestante. Esse percentual, que inclui desde denominações históricas até pentecostais, é o maior de todos os tempos no país e se deve, especialmente, à expansão das correntes neopentecostais, que atraem milhares de fiéis desde os anos 90. A Metodista congrega apenas 0,2% da população brasileira.

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) divulgou uma carta assinada pelo Cardeal Geraldo Majella Agnelo, em que lamenta o resultado do Concílio e se diz aberta a novos diálogos: "Respeitamos com o coração constrangido a decisão tomada no 18º Concílio (...) Em momento tão difícil de divisões, violência e guerras que atravessa o mundo, um distanciamento entre nós enfraquece e debilita nosso testemunho cristão e nossa capacidade de prestar um bom serviço às pessoas de hoje e ao mundo em que vivemos". Procurada por Terra Magazine, a CNBB não quis comentar o assunto.

Padre Gabriele Cipriani, secretário-executivo do ecumênico Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil), não concorda com Lutero e explica por que o argumento dos metodistas não é válido, além de restrito. Para ele, todas as igrejas estão perdendo fiéis, principalmente a Católica. "Com a Igreja Católica é pior ainda, porque ela é a maior. Conseqüentemente, perde mais fiéis. A análise desse assunto deveria ser mais ampla... A troca constante de instituições religiosas pelas pessoas não é um fenômeno religioso e sim sociológico. O Brasil é um país em mudança."

O Conic, onde o padre Gabriele atua, foi fundado em 1982, e hoje congrega seis igrejas cristãs (Católica Apostólica Romana, Católica Ortodoxa Siriana do Brasil, Cristã Reformada, Episcopal Anglicana, Evangélica de Confissão Luterana e Presbiteriana Unida). Até o final de julho, o presidente do Conic era o bispo metodista Adriel Souza Maia, que abdicou ao cargo para concordar com o conselho da sua igreja. Outros metodistas que defendiam o ecumenismo também acataram a nova determinação e deixaram a entidade, como o reverendo Stanley da Silva Moraes, antigo vice-presidente do Conic.

"O Concílio é órgão máximo da igreja e as decisões tomadas por ele são respeitadas. A igreja quer ver isso com clareza. A decisão, então, é sair para avaliar... Esse é um assunto polêmico. O Brasil é um país católico e essa tensão é sempre presente", diz o reverendo, que não deixa, porém, de lembrar os feitos da Metodista no ecumenismo: "Já participamos e ajudamos no Conic, seja no diálogo, nos programas sociais... Esse diálogo que tivemos teve influência na realidade brasileira".

Mas na prática talvez a ruptura não seja tão simples. O padre José Oscar Beozzo, único convidado a participar do Concílio dos metodistas e coordenador do Centro Ecumênico de Serviços a Evangelização e Educação Popular, esteve nessa semana num congresso na faculdade Metodista e mostra que a decisão pode ser mais protocolar do que parece. "No aspecto formal, a Metodista saiu das organizações ecumênicas. Na prática, o futuro vai dizer o que vai acontecer."

A decisão de se afastar de cultos ecumênicos no Concílio Geral da Igreja Metodista foi tomada por 79 dos 143 votantes. O conselho volta a se reunir em outubro próximo. No entanto, não há mais chances de rever o tema.

Fonte: Terra Magazine