O feitiço da serpente
Por: Maria Newnum
Desde a primeira fase do 18º Concílio surgiram frases como: “A questão ecumênica é apenas a ponta do iceberg; a questão é poder; os carismáticos querem assumir a Igreja Metodista...” Ora, é preciso começar dar nome aos leões. Não! Aqui não cabe a linguagem inclusiva.
Primeiro, é necessário traduzir o que significa, por exemplo, a questão de poder. Deve-se ir direto ao ponto: É o controle ideológico e o controle financeiro das instituições rentáveis da Igreja. Do contrário, a polêmica advinda dessa suposta “homérica” discórdia já teria levado há tempos à uma divisão. Por que não aconteceu? Por que certos indivíduos resistiriam tanto tempo? Não seria o caso de terem fundado outra igreja, como fizeram alguns?
Segundo, será que os carismáticos devem ser colocados num mesmo saco? Não estariam apenas sendo usados por certos leões raivosos?
Há sim carismáticos anti-ecumênicos, espiritualistas e ávidos pelo poder... Mas, há carismáticos sinceros em sua fé e também há carismáticos ecumênicos. Nesses grupos, pode ser que haja pessoas com compreensões bíblicas e teologias díspares dos “intelectuais” e “liberais” da Igreja, mas, em absoluto, pode-se afirmar que a maioria almeje controlar seus recursos financeiros. Um caminho didático consiste em separar o joio do trigo.
É muito provável que a maioria carismática nem ao menos possua dimensão do que está acontecendo na Igreja pós-18º Concílio. As compreensões equivocadas sobre ecumenismo e o desconhecimento acerca dos fundamentos históricos do metodismo, não fazem de todos oportunistas. Saber quem é quem é um exercício que requer menos preconceito e mais amor.
Oportunismo é que o se assiste por parte de um grupo pequeno - conduzido por uma dúzia ou menos de líderes - que se valeu de um ponto nefrálgico da Igreja para construir um projeto que em absoluto tem a ver com espiritualidade dos carismáticos, com a preservação da tradição da Igreja ou algo similar.
É passada a hora de se analisar a dimensão do encantamento lançado sobre o ecumenismo que tal qual serpente balançando o guiso enfeitiçador, foi usado na certeza de encantar não apenas aos carismáticos desavisados, mas, também paralisar toda a Igreja entorno de uma discussão que apenas esconde os reais propósitos dos encantadores.
Essa tática é comum entre líderes e regimes totalitários. Eles pegam um ponto nefrálgico de uma sociedade ou de um grupo e direcionam os holofotes, deixando à sombra os reais propósitos de suas agendas.
Na história da humanidade, esse feito se repetiu sucessivas vezes. Enquanto muitos se entregaram ao feitiço do que aparecia sob efeito da “luz”, na escuridão alguns brincavam de “deus,” varrendo para dentro de fornalhas corpos que garantiam o show macabro e lhes conferia credibilidade. Credibilidade essa, fruto do encantamento, medo e horror.
Há de se fugir das ingenuidades, dos encantamentos e perceber que em maior ou menor grau, a história se repete forjada pela “grandeza medíocre” dos que querem poder a todo custo. É só olhar para o projeto do presidente dos Estados Unidos, é só olhar a nossa volta.
Em A mosca azul, p. 122, Frei Beto diz: “Nos porões da humanidade aprendi por que na floresta os tigres se movem à noite. Não buscam a luz, nem se deixam inebriar pelos primeiros raios do alvorecer. Nutrem-se do que vislumbram em plena escuridão”.
Profetas e profetizas da história bíblica não se deixaram enfeitiçar por serpentes. Eles e elas, mesmo em tempos de perseguições e fornalhas, trouxeram à luz o que precisava ser revelado.
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Maria Newnum é metodista da 6a. RE - pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá .
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