18 agosto, 2006

40 anos de diálogo Católico-romano – Metodista

Por: Gabriele Cipriani

“A graça que vos foi dada em Cristo”

O engajamento na busca comum da unidade dos cristãos através de diálogos teológicos e cooperação entre católicos e metodistas teve início há 40 anos prosseguindo ininterruptamente até os dias de hoje. O diálogo ecumênico entre a Igreja Católica Romana e o Conselho Metodista Mundial (WMC). é o mais antigo dos diálogos metodistas e um dos mais antigos da Igreja Católica. A Igreja Católica Romana entrou ativamente no movimento ecumênico mundial durante o papado de João XXIII. O Concílio Vaticano II estabeleceu oficialmente o compromisso ecumênico da Igreja Católica e permitiu a formação de uma ampla rede de relações com diferentes tradições cristãs, visando a busca comum da unidade do povo cristão.

No Brasil, todos conhecemos a participação da Igreja Metodista no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) e na Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese) onde atua como parceira a Igreja Católica Romana. Menos conhecido é o diálogo teológico e a constante colaboração entre a Igreja Católica Romana e o Conselho Metodista Mundial (WMC). Este, desde 1961, ano de sua fundação, respeitando a autonomia das Igrejas Metodistas espalhadas pelo mundo, serve à unidade de seu testemunho e de sua ação. O Conselho Metodista Mundial encoraja também a participação metodista no Movimento Ecumênico e promove a unidade do testemunho e do serviço metodista dentro do movimento.

O WMC tornou-se um interlocutor eficiente e dinâmico no diálogo ecumênico com a Igreja Católica Romana. Em todas as sessões do Concílio Ecumênico Vaticano II, o WMC esteve presente com um grupo altamente qualificado de 16 observadores. Em 1965, o Comitê Executivo do WMC convidou a Igreja Católica a formar um Grupo de estudo e ação conjunta entre as duas comunhões. O plano foi realizado em 1966, depois do Congresso do WMC daquele ano. Na Mensagem final do Congresso lê-se: “O marco principal é a derrubada das barreiras de suspeitas e de ignorância que nos têm separado dos irmãos da Igreja Católica Romana e eles de nós”. [1]

Depois de constituir oficialmente uma Comissão Mista de diálogo teológico, logo foram realizados encontros de trabalho em Ariccia, Londres, Cambridge, e em outros lugares. Pela primeira vez foram convidados teólogos católico-romanos para o Encontro Teológico (4°) promovido pelo Instituto de Estudos teológicos metodistas de Oxford. A convivência de dez dias permitiu aos teólogos católicos conhecer melhor o pensamento metodista. Na reunião de Rabat, em 1970[2], a Comissão Mista estava em condição de publicar um primeiro Relatório, parcial e provisório, com o intuito de receber reações e contribuições em vista de um Relatório final a ser submetido à apreciação das respectivas Igrejas. Acordado o método de trabalho e debatidas as temáticas prioritárias, quatro argumentos foram tomados em consideração formalmente: a Eucaristia, a crise de autoridade na Igreja e no mundo, o ministério, a secularização. Dois outros temas foram sugeridos para serem estudados sucessivamente: lar e família cristã, vida cristã e espiritualidade. Na parte final do documento, a Comissão Mista avalia que os progressos da experiência ecumênica dos últimos anos foram rápidos e certamente conduzidos pelo Espírito Santo. Agradecidos a Deus, os membros renovam seu compromisso de redobrar os esforços no estudo e no diálogo, cientes das dificuldades futuras, especialmente do desafio de educar os fiéis de ambas as Igrejas e comunicar a eles a alegria e a inspiração que foi concedida aos membros da Comissão.

Em outubro de 1970, o documento “Declaração de Intenção”[3] da Igreja Metodista Unida dos Estados Unidos contribuiu para que se prosseguisse com entusiasmo pelo caminho iniciado. A resolução adotada pela Conferência Geral da Igreja Metodista Unida é um passo importante no progresso rumo à unidade cristã. A Declaração de Intenção se refere às atitudes e intenções ecumênicas da Igreja Metodista Unida com relação à Igreja Católica Romana. A Resolução está ligada a uma longa passagem do Book of Resolutions of The United Methodist Church 1968 que expõe o pensamento ecumênico dos Metodistas. A Comissão teológica de estudo sobre a Doutrina e as normas doutrinais encarregada de examinar a dimensão ecumênica dos Artigos de Religião anti-católicos havia sugerido suprimir esses artigos do Book of Discipline da Igreja. A Declaração de Intenção, acolhendo essa sugestão, depois de ter situado na história e avaliado os conteúdos anti-católicos dos Artigos de Religião, declara: “Em conseqüência, nós decidimos, pelo presente ato, declarar nossa intenção de interpretar daqui por diante todos os nossos Artigos de confissão e outras normas de doutrina em conformidade com as nossas melhores concepções de avaliação ecumênica, tal como aparece da resolução da Conferência de 1968 sobre “A Igreja Metodista e a base da Unidade Cristã” (The Book of Resolutions of the United Methodist Church, 1968, pp.65-72). Pelo menos, isso implica de nossa parte em uma muito sincera benevolência e fraternidade cristã para com todos os irmãos católico-romanos, na esperança certa do dia em que todas as lembranças tristes (as nossas e as deles) serão remidas pelo dom da plenitude da Unidade cristã, feito por Deus, Pai do nosso comum Senhor Jesus Cristo”. (Declaração adotada pela Conferência Geral da Igreja Metodista Unida, Saint Louis, Missouri – 23 de abril de 1970).
O Relatório da primeira fase de diálogo foi apresentado ao WMC na Conferência de Denver (Colorado, USA)[4]. O Cardeal Johannes Willebrands, convidado a ter uma conferência que introduziu o debate sobre o primeiro Relatório, sublinhou os avanços do trabalho realizado e o valor da herança comum das duas Igrejas.

A segunda Comissão Mista, da qual era membro também o Dr. José Miguez Bonino (Argentina), a partir das recomendações do Relatório de Denver (1971) trabalhou intensamente e, pontualmente, entregou às Igrejas o Relatório 1972-754. Os 119 números desenvolvem as temáticas: testemunho comum e salvação hoje, espiritualidade, lar e família cristã: casamentos inter-eclesiais, questões morais: eutanásia, Eucaristia -- com os sub-temas: posição católico-romana e metodista sobre a Eucaristia, Presença de Cristo, Sacrifício de Cristo, Comunhão eucarística --, ministério, autoridade, tarefas para a união eclesial.

Concluindo o Relatório da segunda série de diálogos, a Comissão Mista, consciente de que haveria ainda um longo caminho a percorrer, reafirma a disposição para continuar a tarefa ecumênica ampliando os contatos e tratando das preocupações comuns, “pois não há razão para duvidar no início da caminhada nem para desanimar ao longo do caminho”. Aquilo que une as duas Igrejas é muito mais daquilo que as divide. Na mensagem enviada, em nome do WMC, para a eleição do papa João Paulo I, o presidente do Comitê executivo da WMC, Kenneth G. Greet, afirma que iniciou uma nova era de relações entre católicos e metodistas com um diálogo sistemático, que agora vai ser prolongado por mais dez anos, e que é um privilégio viver em uma época em que vemos com clareza a busca da unidade plena como autêntico testemunho a Cristo. Lembra também que, no diálogo, já foram descobertas muitas maneiras de cooperar no serviço do único Senhor da Igreja, dando um comum testemunho do seu Evangelho e contribuindo para estabelecer uma ordem justa e pacífica da sociedade sobre a terra. “Nossa prece é que possamos, no período do vosso pontificado, aprofundar a compreensão da nossa fé comum e o chamado a estreitar os laços da comunhão no Serviço de nosso Senhor”. Depois de apenas 28 dias, por ocasião da morte de João Paulo I, o Secretário Geral do WMC, em sua breve mensagem, citava, com profunda comoção, Charles Wesley: “Inseparably joined in one, the friends of Jesus are”.

Na reunião de Roma, em janeiro de 1979, a Comissão mista debateu o tema da Pessoa e da obra do Espírito Santo. Os co-presidentes, em nome da Comissão, declararam: “Nós cremos que é o Espírito Santo que nos reuniu aqui em Roma e que, como cristãos, católicos e metodistas, estamos fundamentalmente e essencialmente de acordo sobre a doutrina e a pessoa do Espírito Santo e sobre a sua obra na justificação e santificação no seio da Igreja”. “Nós cremos que a unidade que nos foi dada de partilhar no diálogo tem sido, de qualquer maneira, a realização da oração que nosso Senhor fez para que nós fossemos um nele e no Pai”. (SI, N° 40, 1979/3, p. 20-21).

João Paulo II, em 5 de dezembro de 1980, ao receber em audiência a Comissão Mista, exortou: “Façam tudo o que está ao seu alcance para ter a certeza de que a sua busca de reconciliação seja compreendida e envolva católicos e metodistas em qualquer lugar do mundo onde eles se encontrem”.

Em 31 de janeiro de 1981, a Comissão Mista publicou o Relatório da terceira série de diálogos (Relatório 1977-1981)5. A Comissão adotou o critério de preparar os relatórios, ainda que parciais, de cinco em cinco anos, antes da reunião do WMC, em 1971, 1976, 1981. A Comissão entendeu que o envolvimento freqüente das respectivas Igrejas fosse pedagogicamente mais útil do que publicar um relatório final muito tempo depois. A cada qüinqüênio, os teólogos metodistas e católicos foram convidados a se debruçar sobre os documentos e a enviar seus comentários. Os Relatórios mostram a concordância cada vez mais ampla e a convergência crescente alcançadas através do diálogo. Conservam também a intenção inicial de falar juntos – metodistas e católico-romanos – às pessoas da nossa época apontando os sinais animadores da ação do Espírito Santo na Igreja hoje. O tema central do Relatório (1977-81) é a pessoa e a ação do Espírito Santo: o Espírito Santo-Deus, a obra do Espírito, o Espírito Santo e a comunidade cristã, o Espírito Santo transforma em Reino de Deus a comunidade humana, Espírito Santo: experiência cristã e autoridade na Igreja. Na última parte, “As decisões morais cristãs”, um estudo especial é dedicado ao matrimônio cristão. A Comissão definiu também o programa da série seguinte de diálogos: “A natureza da Igreja”. Convictos, enfim, de que as declarações conjuntas sobre a pessoa e a obra do Espírito Santo têm aumentado a confiança acerca da futura unidade entre católicos e metodistas, os membros da Comissão manifestam a esperança de que as autoridades do WMC e da Igreja Católica destaquem a importância desses diálogos e relatórios e o conseqüente comprometimento. O WMC, na sua reunião de 1981, dedicou uma sessão inteira ao debate sobre esse terceiro Relatório.

Animados pelo consenso alcançado sobre a pessoa e a obra do Espírito Santo, os membros da Comissão Mista da quarta série de diálogos publicaram um novo documento de trabalho com o título “Para uma Declaração sobre a Igreja”, aguardando as contribuições de teólogos católicos e metodistas. Tiveram que constatar que nenhum comentário ou crítica chegou nem por parte católica nem por parte metodista. A Comissão deparou com as questões: “Até que ponto os resultados destes diálogos são conhecidos nos âmbitos da Igreja Católica e das Igrejas Metodistas? Como podemos favorecer uma compreensão crescente por parte dos membros das Igrejas em diálogo, superando o isolamento do grupo de delegados da Comissão?”.

O diálogo havia chegado a pontos positivos sobre o objetivo da unidade visível, da plena comunhão na fé, na missão e na vida sacramental. No encontro de Lake Junaluska (Carolina do Norte – U.S.A.), em novembro de 1984, à luz das diferentes tradições foi estudada, em um clima de fraternidade e de cordialidade, a questão específica de uma primazia universal na Igreja, com debates sobre a figura de Pedro no Novo Testamento e sobre o conceito de primazia na teologia e na vida da Igreja. A Comissão, ao expressar a convicção de que as divisões manifestam um falta de caridade entre as diferentes tradições cristãs e representam um escândalo para o mundo, sente a responsabilidade de continuar as conversações em vista da unidade.

O quarto Relatório (1982-86)6, conhecido como Relatório de Nairobi, tem como título: “Rumo a uma Declaração sobre a Igreja” e abre com uma das definições mais belas da Igreja - segundo Jean Marie R. Tillard -: “Deus amou tanto o mundo que enviou seu Filho e o Espírito Santo para nos conduzir à comunhão com Ele. Esta participação na vida de Deus que resulta da missão do Filho e do Espírito Santo encontra sua expressão na “koinonia” visível dos discípulos de Cristo, a Igreja” (n.1). O Relatório trata da natureza da Igreja, a Igreja e os sacramentos, chamados/as à unidade, caminhos em direção de uma única Igreja, estruturas e ministério, a função de Pedro (Pedro no N.T. e Primazia e ministério de Pedro, Jurisdição, Ensino repleto de autoridade). O Relatório expõe com clareza as convergências e as diferenças e fixa aquisições definitivas nas etapas da caminhada para a unidade, ainda que falte aprofundar o campo de estudos. Para alcançar uma convergência sobre os problemas em aberto, a Comissão Mista decide que o título geral dos estudos dos anos seguintes seja “A tradição apostólica”.

O Relatório 1986-1991, dedicado ao estudo da Tradição Apostólica, é dividido em duas partes: 1ª Parte “A fé apostólica – seu ensino, sua transmissão e recepção, 2ª Parte “Ministério e ministérios: o serviço na tradição apostólica. Metodistas e católicos têm uma mesma perspectiva de ministério, de importância fundamental, quando afirmam que o ministério ordenado é essencialmente de natureza pastoral. Os ministros ordenados são encarregados de exercer e manter unidas as funções de proclamação do Evangelho, convocar homens e mulheres para a fé, alimentar a comunidade com a palavra e os sacramentos e fazer conhecer Jesus Cristo pelo ministério de serviço no mundo. Vários problemas relativos ao ministério ordenado permanecem ainda sem solução e serão estudados no futuro: a sacramentalidade da ordenação ministerial, as formas de transmissão e episkopé, quem pode ser ordenado. É importante sublinhar que, no Relatório, a Comissão se absteve voluntariamente de enfrentar todas as diferenças doutrinais ou práticas. Este método corresponde à convicção de que metodistas e católicos já partilham uma certa forma de comunhão ainda que imperfeita, isto é, o que os une e maior do que aquilo que os separa, e estão “comprometidos a seguir o caminho que nos levará à plena comunhão na fé, na missão e na vida sacramental” (Rumo a uma declaração sobre a Igreja. N° 20). Os Relatórios querem contribuir ao êxito desse processo e uma vez mais, com este relatório a Comissão faz progredir a compreensão ecumênica da natureza da Igreja.

Uma delegação oficial do WMC se encontrou, em Roma, com membros do Pontifício Conselho para a unidade dos cristãos para avaliar os progressos do diálogo e preparar os programas futuros. No dia 26 de março de1992, a delegação foi recebida pelo Papa João Paulo II que, em seu discurso, destacou os frutos evidentes do diálogo constante que dura há 25 anos e solicita metodistas e católicos a renovarem o compromisso da cooperação a serviço do Evangelho envolvendo as comunidades locais. O Rev. Dr Donald English, saudando o papa em nome dos 54 milhões de membros da família metodista espalhados em 94 países, destacou a existência de um alto nível de fé comum. Trata-se agora de consolidar os pontos de concordância e perseverar no estudo das questões controversas.

A fase seguinte de diálogo debate como a revelação de Deus produz fruto na Fé, Missão e Vida Sacramental na comunhão da Igreja. O Relatório 1992 –1996 “A Palavra de vida, Declaração sobre a revelação e a fé”7 foi apresentado à Conferência Metodista Mundial do Rio de Janeiro, em 1996. A Declaração, na primeira parte, trata da Revelação (Auto-comunicação de Deus, a revelação de Deus na história, a revelação de Deus Pai, Filho e Espírito Santo) Na segunda parte trata da Fé (a Fé pela qual nós cremos, a Fé que é crida ou os conteúdos da fé, a fecundidade da Fé - o crescimento da fé, os frutos da fé, o discernimento da fé. Na terceira parte trata-se da Missão ( a missão da Igreja vem de Deus, a Missão: palavra e ação, a Missão e a comunidade, a Missão apostólica, Missão e ecumenismo, Missão e culturas. A parte quarta trata da Vida Sacramental, a quinta da Koinonia ( a Comunhão no testemunho apostólico, as grandes expressões da comunhão nas nossas Igrejas – Fé, culto, Missão – a Igreja universal). Na conclusão, a Comissão Mista faz um balanço positivo dos trinta anos de diálogo: aproximação e conhecimento, estudo conjunto das grandes questões doutrinais debatidas no campo ecumênico, considerável concordância sobre os grandes temas da Pneumatologia ( Relatório 1981), Eclesiologia (Relatório 1986), Tradição Apostólica (1991), Revelação e Fé (1996). Chegou a hora de concentrar-se sobre questões mais detalhadas que ainda criam dificuldade a partir das concordâncias firmadas.

O teólogo William Henn, comentando o Relatório “Palavra de Vida, Declaração sobre a Revelação e a Fé”8, o considera “sensacional”. ‘A maturidade desse documento, a natureza fundamental das questões levantadas e o quadro teológico sólido no qual elas são estudadas, sugerem que os membros da Comissão têm toda razão de alimentar a esperança. Para favorecer o trabalho seguinte, seria particularmente útil promover no meio dos fiéis das duas comunidades a recepção daquilo que foi alcançado até agora no processo de diálogo” (HENN, W., Reflexões sobre “A Palavra de Vida”, SI, 92, 1996/3, p.132-139). Na Conferência do Rio de Janeiro, foi dedicada a esse relatório o debate em Plenária. O WMC aprovou a continuidade do diálogo com a Igreja Católica e a participação metodista na preparação do Jubileu do ano 2000.

Temos a alegria de poder ler em português o Relatório 1997-2001: “Dizer a verdade na caridade, a Autoridade de ensinar entre católicos e metodistas”, publicado pelas Paulinas9. Este Relatório foi debatido no encontro de Jerusalém, encontro intenso e emocionante que se concluiu com a visita ao Patriarca Michael Sabbat, e foi definitivamente elaborado no encontro de Ile Saint-Simon (Geórgia, USA), lugar histórico da presença de John Wesley nos Estados Unidos 255 anos antes. Esta declaração apresenta os dados comuns ao catolicismo e ao metodismo e formula as diferenças que ainda existem em vista do trabalho a ser realizado sobre as condições que permitem aos fiéis de continuar a aderir à revelação trazida por Jesus Cristo e transmitida pelos apóstolos. O Relatório 2001 reconhece diferenças na estrutura ministerial da autoridade doutrinal na Igreja, “mas existe uma fé comum fundamental na presença do Espírito Santo e na utilização pelo Espírito Santo das instâncias legítimas de exercício da autoridade doutrinal para assegurar a verdade do Evangelho em que crêem metodistas e católicos” (Relatório 2001,121). A conclusão mostra mais uma vez a perseverança e a confiança na caminhada ecumênica: “Buscando avançar juntos em direção à unidade plena na caridade e na verdade, metodistas e católicos comprometem-se aqui e agora a confessar a verdade na caridade, uns aos outros e a todos os povos do mundo” (ib., 122).

Aproximando-se o aniversário de 40 anos de diálogo houve uma visita a Roma da Delegação do WMC, em dezembro de 2005. Essa visita tinha como objetivo refletir sobre a possibilidade de concretizar os resultados do diálogo teológico que progride sem interrupção desde 1966. Embora permaneçam questões doutrinais não resolvidas, o desejo é de consolidar os resultados intermédios. Papa Bento XVI, ao saudar a Delegação metodista, observou que no diálogo perseverante foi alcançado um grau considerável de convergência sobre temas fundamentais de teologia. O conhecimento e a estima recíproca permitiu de reconhecer os tesouros cristãos presentes nas nossas tradições e exortou a um empenho comum pela Palavra de Deus, o testemunho e a oração em conjunto. Varias propostas foram conversadas com o Cardeal Walter Kasper para incrementar as relações católico-metodistas. As conversações sobre esses assuntos práticos continuarão depois da adesão dos metodistas à Declaração Conjunta católico-luterana sobre a Doutrina da Justificação, em pauta na próxima Conferência do WMC. Pode-se, de fato, considerar resultado do grande trabalho teológico Metodista-Católico também essa iniciativa em curso das 76 Igrejas-membro do WMC de aderir à Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação assinada em 1999 pela Igreja Católica e pela Federação Luterana Mundial.

A atual Comissão Mista terminou pontualmente seus trabalhos entregando o documento de próxima publicação que tem por título: ”A Graça que nos foi dada em Cristo: Católicos e Metodistas refletem mais profundamente sobre a Igreja”. Metodistas e católicos chegaram a uma compreensão recíproca nova. Os metodistas consideram a Igreja Católica uma verdadeira Igreja e um meio de graça e de salvação; os católicos reconhecem que os metodistas são cristãos como os católicos e que as Igrejas metodistas são comunidades cristãs em que a graça da salvação é presente e operante. O documento oferece propostas que podem ajudar metodistas e católicos a progredir em direção à plena comunhão que buscamos. A Comissão espera que esse documento dê novo impulso às relações católico-metodistas nos diferentes contextos em que as duas Comunhões vivem lado a lado.

Nesses 40 anos não foram ignoradas as dificuldades das relações que entre católicos e metodistas existem em alguns lugares do mundo, inclusive em algum país da América Latina. Nessas situações seria útil que os católicos como os metodistas estejam informados sobre as boas relações que efetivamente existem em outros lugares entre os membros das duas Igrejas e sobre os progressos dos diálogos teológicos em curso há 40 anos, diálogos que nos aproximam cada vez mais da comunhão na única fé e na única missão.

Pe. Gabriele Cipriani
Secretário para os Programas do CONIC


1 Conseil Pontifical pour la Promotion de l´Unité des Chrétiens, Service d´Information, I, 1967, p. 8.
2 Service d´Information, IX, 1970, p. 23-29.
3 Conseil Pontifical pour la Promotion de l´Unité des Chrétiens, Service d´Information, XIII, 1971/1, p.21-25.
4 Conseil Pontifical pour la Promotion de l´Unité des Chrétiens, Service d´Information, XXXIV, 1977/2, p. 8-20.
5 Conseil Pontifical pour la Promotion de l´Unité des Chrétiens, Service d´Information, XLVI, 1981/2, p. 87-100.
6 Conseil Pontifical pour la Promotion de l´Unité des Chrétiens, Service d´Information, LXVI, 1988/2, p. 113-127
7 Conseil Pontifical pour la Promotion de l´Unité des Chrétiens, Service d´Information, LXXVIII, 1991/3 e 4, p. 222,234.
8 Conseil Pontifical pour la Promotion de l´Unité des Chrétiens, Service d´Information, XCII, 1996/3, p. 113-131.
9 Comissão Mista: Igreja Católica Romana e Conselho Metodista Mundial, Dizer a verdade na Caridade, a autoridade de ensinar entre católicos e metodistas, Paulinas, São Paulo, 2002.