26 agosto, 2006

Adubação nitrogenada

Trabalhando em uma cooperativa agropecuária aprendi que as chuvas de verão, que normalmente se apresentam com fortes trovões e raios, apesar de seu aspecto assustador, trazem benefícios significativos para a plantação, especialmente para as gramíneas.

A explicação é que as descargas elétricas disponibilizam porções generosas de nitrogênio, elemento essencial para o milho e o arroz, por exemplo, chegando a quantias que vão até 70 kg/ha durante todo o ciclo!

Com esta lembrança, me surpreendi pensando no momento em que vivemos, especificamente em relação à intolerância, já que esta tem sido uma prática bastante freqüente e absurdamente destruidora.

Seja olhando para os conflitos do Oriente ou paras as discussões nas rodas de amigos, a capacidade de tolerar e conviver tem sido cada mais difícil... pelos mais diversos motivos as pessoas se afastam umas das outras por conta das diferenças de pensamento, de gosto ou de opção... mesmo que as questões nem sejam tão graves, a separação tem sido a alternativa mais escolhida.

Não é exagero dizer que as nuvens da intolerância pairam sobre o mundo... em diversos momentos somos apanhados/as no repente pelas tempestades, ventos, raios e trovões dela... que amedrontam, apavoram, fazendo escurecer os pensamentos, causando agitação e transtorno nos mais diferentes níveis da vida humana.

Nossos dias estão sendo marcados pelos frutos do fanatismo, do absolutismo, do desrespeito, da descriminação e por todas as formas de segregação.

O diferente, hoje em dia, é objeto de desprezo, simplesmente pelo fato de ser diferente, sem avaliação, sem acolhimento, sem consideração, sem chance!

Como diz Boff, “O mundo está em franco retrocesso. A atual sociedade não se explica mais, como queria a sociologia clássica, por fatores sociais, mas por forças impessoais e não sociais como o medo coletivo, o fundamentalismo, o terrorismo, a balcanização de vastas regiões da Terra e as guerras cada vez mais terroristas por vitimarem populações civis.” (www.leonardoboff.com.br artigos: “O novo paradigma: a guerra infinita”.)

Isto é tão forte e apavorante como as tempestades de verão, mas com um diferencial... isto tem matado em muito maior número do que as tempestades naturais... ainda mais se considerarmos como morte todos os sinais do desprezo e discriminação!

É uma chuva que cai e que mata, de forma assustadora, pessoas, relacionamentos e comunidades!

O lado bom dessa questão é o que chamamos de efeito de adubação destas “descargas de intolerância”. Assim como na agricultura, os efeitos não são totalmente ruins... a chuva forte que causa os estragos da erosão também adubam a plantação promovendo um reverdejar promissor... uma esperança nova, revigorada com os quilos a mais do “nitrogênio da tolerância”!

Se de uma forma os aguaceiros trazem pânico, de outra ele traz esperança de novos brotos, de nova estrutura foliar que, queira ou não, acarretará alguma conseqüência na produção!

Se a intolerância cresce, a ponto de formar densas nuvens, a tolerância, de algum modo também passa a rebrotar em muitos corações e mentes! Por isso, se o pós-chuva tem seus resultados indigestos, saibamos que ele também terá os bons e saborosos, apesar de nem sempre conseguirmos visualizar isto com a mesma urgência da decepção e da tristeza!

Creia, existem lições preciosas da agricultura para a vida! Uma delas é que em certos momentos, crises e horas de escassez podem se reverter em produções fantásticas! Eu poderia citar muitas coisas na agricultura que parecem ser duras e tristes, mas que, aplicadas com técnica e inteligência, tornam-se diferenciais expressivos de produção e lucro! E, com sinceridade, confio bastante nesse Agrônomo Eterno que dirige nossa ‘plantação’!

Se os sinais do extremismo e absolutismo formam suas nuvens, saibamos que o Criador tem seus meios para transformá-las em bênçãos!

Portanto, olhemos mais para os renovos que surgem, frutos das tempestades! Sem dúvida eles já podem ser percebidos... mesmo que ainda hajam rachaduras nos solos da paz, mesmo que existam folhas retorcidas e flores ao chão... mesmo assim, é preciso perceber o verde da esperança!

As tempestades são normais... produtos de nossa humanidade e fraqueza... elas sempre existiram! A serpente do jardim; a inveja de Caim; a esterilidade de Abraão; a cova dos leões; o Egito; o mar vermelho; a cruz; o calvário; o sepulcro... e no entanto, não foram suficientes para destruir o amor, a compaixão, a misericórdia, o perdão, a redenção!

Creiamos que se as tristezas ameaçam, elas também adubam e fortalecem as alegrias!

Na graça e na paz,

Rev. Nilson da Silva Júnior
Pastor Metodista em Cândido Mota – SP
5ª Região Eclesiástica