04 agosto, 2006

Ai! de nós @s metodistas e ecumênic@s

Fonte: ADITAL - Agência de Informação Frei Tito para a América Latina
(http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=23731)

31.07.06 - BRASIL

Ai! de nós @s metodistas e ecumênic@s

Nancy Cardoso Pereira *

Adital - Não te admires de eu dizer: Necessário vos é nascer de novo. (João 3, 7) Anda difícil ser metodista e ecumênica nesses dias após o Concílio Geral da Igreja Metodista do Brasil (julho 2006) que decidiu pela não participação em organismos ecumênicos como reflexo de um projeto eclesial proselitista, competitivo e guiado pelo mercado de disputa pelos bens simbólicos e seus consumidores.

É um daqueles momentos em que a trajetória pessoal, a espiritualidade e as escolhas de vida são encurraladas e os significados ficam exigindo significado. Eu e outr@s metodistas estamos nos fazendo essas perguntas com mais ou menos auto-crítica.

Uma notícia vinda dos Andes reaviva minha memória e me faz lembrar como é mesmo que cheguei até aqui. Peço a benção para Maria Sumire. Metodista e ecumênica assim.

Maria Sumire é leiga metodista no Peru e foi eleita para o Congresso Nacional. Na hora do juramento, perante todo a assembléia e os meios de comunicação ela re-criou o juramento em quéchua a língua das maiorias indígenas do Cusco e do Peru. Ela foi exortada a fazer o juramento em espanhol. E por três vezes ela respondeu em quechua!! Ela se manteve firme nos costumes indígenas ancestrais, levantou as mãos e invocou os gestos de Túpac-Amaru e Micaela Bastidas, mártires das lutas andinas contras os opressores espanhóis e incas. Lembrou do pai, sindicalista e se afirmou evangélica metodista. Ela foi eleita com o apoio do movimento de mulheres camponesas indígenas de Cusco e outros movimentos da esquerda-popular.

Me encontrei duas vezes com Maria Sumire: uma vez, no Equador num Encontro Americano de Mulheres Metodistas, numa Celebração da Santa Ceia ela tomou os elementos e ofereceu primeiro para a Pachamama. Se abaixou e conversou com a terra. Para espanto de muitas, Maria convive e professa duas tradições sem precisar definir prioridades ou hierarquias.

Da outra vez, numa assembléia do Clai no Chile, numa conversa difícil sobre ecumenismo e macro-ecumenismo eu estava sendo massacrada pela ala conservadora e anti-católica que também assola o Clai. Maria e dois compas me tomaram pelo braço e me levaram num canto. Disseram palavras afetuosas e incompreensíveis e me colocaram o lenço com as cores do arco-íris - WIP’ALA - nos ombros. Ela me disse no ouvido. Agora você também é da religião dos nossos ancestrais.

A bandeira do arco-íris desde então me acompanha e me ajuda a pensar no tipo de pessoa que quero ser. Aprendi que de algum modo a palavra vem do milenário idioma Aruwa e poderia ser entendido assim:

WI = Que pode se mover e se diferenciar.
P’A= Substância divisível.
LA = Continuante, contínuo, plano.

Além das cores todas lado a lado, o nome pede que eu conviva com aquilo que pode se mover, que é divisível mas que tem continuidade, é plano... e se amplia e se move. Assim o ecumenismo: divisível, com suas identidades substantivas todas elas plenas de mobilidade e territorialidades.

Como o arco-iris reunido na bandeira. O arco-íris se deve à forma como a luz do Sol é desviada por gotas de água. O arco, na verdade, é formado pelo desvio e dispersão da luz do Sol em um número enorme de gotas. Só algumas dessas gotas desviam a luz na direção de seus olhos. Outra pessoa a seu lado verá a luz desviada por outras gotas diferentes, isto é, verá outro arco-íris. Cada um vê seu arco-íris particular e cada um está no vértice de seu próprio arco-íris... da mesma luz!

E o WIP’ALA - soberano e glorioso - balança nas mãos de indígenas pelas passeatas e movido pelo vento nas aldeias resistentes. Ecumênicas e metodistas, aprendo com Maria e Casimira a caminhar com as camponesas- trabalhadoras e a nascer de novo de novo.

O Espírito sopra aonde quer.

"O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo.O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito". (João 3, 6 a 8)

* Pastora metodista. Agente de pastoral da CPT