02 agosto, 2006

Blog recebe reações à decisão conciliar da Igreja Metodista

SÃO PAULO, 1 de agosto (ALC) – A decisão conciliar de retirar a Igreja Metodista de organismos ecumênicos nos quais a Igreja Católica estiver presente “mostra que há uma grande confusão teológica sobre a natureza da Igreja de Cristo. Muitos pastores e algumas lideranças leigas não percebem que a Igreja ou é ecumênica ou deixa de ser igreja”.

O comentário é do líder leigo metodista Anivaldo Padilha, perguntando para onde vai a Igreja Metodista brasileira. A decisão do 18. Concílio, reunido em Aracruz, no Espírito Santos, dias 10 a 16 de julho, motivou reações, trocas de emails e, inclusive, a criação de um blog (Metodista & Ecumênico - http://metodistaecumenico.blogspot.com/) para debater o assunto.

“O que podemos e devemos sempre discutir é qual deve ser a política ecumênica da nossa igreja”, recomendou Padilha, que participa há quase 50 anos do movimento ecumênico e que, por causa desse envolvimento, se viu forçado a ter mais clareza da sua fé e identidade metodistas.

Ele aponta uma contradição na conseqüência da decisão conciliar metodista: “O ecumenismo, que tem como um de seus princípios a busca da unidade visível da Igreja, tornar-se fator de conflito e de divisão”, embora reconheça que na atual conjuntura da Igreja Metodista do Brasil o problema não é o ecumenismo. “O tema ‘ecumenismo’ foi e provavelmente continuará a ser usado como arma na luta pelo poder”, afirma.

Para o reverendo Paulo Dias Nogueira, da Catedral Metodista de Piracicaba, São Paulo, a Igreja Metodista perde, com a decisão conciliar, uma de suas principais características: a tolerância. Ele se reporta a palavras do fundador do metodismo, o reverendo João Wesley, que dizia: “No essencial, unidade; no não-essencial, diversidade; em tudo, caridade”.

No sermão sobre a fé, Wesley admitiu que o catolicismo ensina tudo necessário para a salvação. Daí que o acadêmico da Faculdade de Teologia metodista, Roy de Oliveira Duarte, lamenta a decisão conciliar, porque, argumenta, o ecumenismo está presente na história da Igreja Metodista “muito antes desse surto fundamentalista/moralista que está fazendo nossa igreja retroceder em sua caminhada”.

Sem a experiência ecumênica, alerta Duarte em artigo postado no blog Metodista & Ecumênico, “nos assemelhamos a ostras (daí a palavra ‘ostracismo’), tornando-nos pessoas fechadas em si mesmas, escondendo a jóia preciosa que nos foi dada – Jesus Cristo – doador da vida abundante”.

Indignado, o articulista Peri Mesquita, de Curitiba, propõe uma renovação que comece pela formação de pastores e pastoras, que tenham uma “visão profunda da fé metodista e do mundo no qual vivemos”, que se saibam diferentes dos seguidores de outras denominações, mas sem exclui-los, mas respeitando-os “como partícipes das hostes divinas que lutam para a construção do Reino de Deus, aqui e agora”.

Anivaldo Padilha também identifica na decisão conciliar “certa precariedade na formação ecumênica” de pastores, que não debita à falta de excelência acadêmica da Faculdade de Teologia, mas vincula-a “ao contexto geral da sociedade brasileira e do campo evangélico em particular, que fomenta a intolerância e prioriza a conquista de espaço no mercado religioso em detrimento da formação de comunidades de fé”.

O líder leigo metodista destaca que o ecumenismo é um movimento do Espírito “que promove em nós a conversão e a renovação e que abre nossas mentes e corações para ver e sentir não só a nossa condição de pecadores, mas, também, o pecado e limitações que existem nas igrejas-instituições que criamos”.

“Nós, metodistas, não somos católicos, não aceitamos a veneração aos santos, a centralidade e a infalibilidade do papa, a celebração de missas para ajudar quem já morreu, mas nós somos amigos dos católicos, respeitamos os católicos e sua fé, mesmo não concordando com parte delas”, arrola Ronan Boechat de Amorim, pastor da Igreja Metodista de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Não é a Igreja nem a sua doutrina que salva, “mas tão somente o Senhor Jesus”, frisa.

O teólogo, sociólogo e bacharel em Direito, Lair Gomes de Oliveira, aponta, numa extensa análise legal, que a decisão do 18. Concílio metodista sobre o ecumenismo é inconstitucional porque fere o Cânone da Igreja. A retirada da igreja de organismos ecumênicos onde a Igreja Católica e grupos não-cristãos estiverem presentes foi decidida por 79 votos a favor e 50 contrários. Lair de Oliveira pergunta se foi observado, no caso, o quorum de dois terços para a aprovação de tal matéria.

O acadêmico Roy Duarte confessa seu amor pela Igreja Metodista e a causa metodista. Mas, acrescenta, “acima de todas as denominações e instituições, eu sou cristão e entendo que é parte da vida cristã conviver, aceitar e trabalhar com as diferenças. Somos diferentes em nossas denominações, mas somos um em Cristo. Por isso, eu continuarei ecumênico”, proclama.

Setores da Igreja Metodista brasileira esperam que a decisão seja revista em outubro, quando o 18. Concílio, por não ter vencido a pauta no encontro de Aracruz, voltará a se reunir.

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